terça-feira, 4 de outubro de 2011

A calça vermelha

Xico Sá

Amigo torcedor, amigo secador, o que é futebol diante de uma mulher de calça vermelha? Antes que você arrisque uma resposta clubística, digo: nada. Antes que você, corintiano, se arvore e pense na redenção do Adriano, que eu muito aprovo, corto pela raiz, desculpa: zero. Sim, são-paulino, sei que é importante a volta sebastianística do Fabuloso. Santista do coração, a gente nem carece mais falar de bola este ano.

Palmeirense amada, aqui me dirijo só a elas, com mordaça ou com burca, censura não leva a nada. Só ilude. Como se o cala-boca pudesse ser a resposta em momentos de perguntas.

Não se iluda, o que é a catimba argentina diante de uma mulher de calça vermelha? Linda. E o sorriso, queria que você visse. Incrível. Foi no segundo tempo. Foi um piscar de olhos antes do gol do Lucas contra os caras.

Sei, camarada João Valadares, senhor Samarone Lima, sei que o que importa é o jogo do Santa Cruz contra o Cururipe, justo no lugar onde os caetés canibalizaram lindamente o bispo Sardinha. O jogo de domingo à tarde, querido dom Sebastião, o da volta à glória possível.

Tenho ciência de tudo isso, mas, quando Lucas partiu com a bola, não me interessava saber que era uma arrancada de beisebol, qual o quê, foi linda, mas nada se compara à partida da mulher de calça vermelha.

Tudo bem, você se liga no jogo, no esquema tático, mas que tal prestar mais atenção na cor das vestes das moças? Independentemente de clubes. Que tal preferir uma lingerie a uma pelada de fato?

Simples sugestão, meu querido. Evidentemente por causa da moça da calça vermelha. No segundo tempo do jogo Brasil x Argentina, arrancava o Lucas, repito o gol, ela passava de lado. Adivinhe em que eu prestei atenção, amigo?

Ah, gol a gente vê a qualquer hora. O videoteipe de futebol é o aquário dos homens na madruga. A gente fica vendo qualquer coisa, chega no hotel ou em casa, liga a tevê como quem mira Rumble Fish ou como quem apenas assiste a uma reprise gelada de Flamengo e algum outro.

Assim é a vida, amigo, nada diante de uma moça de calça vermelha no segundo tempo. Estou falando de quem ainda presta atenção nessas coisas. Arranca o Lucas, ela passa como quem abstrai, lindamente, a ideia de pátria em chuteiras. Mercearia São Pedro, Vila Madalena, SP, anteontem como se fosse o meu dia de são nunca. A moça de calça vermelha.

@xicosa
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 30/09/2011. 

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