quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ainda, os pênaltis

A polêmica sobre os pênaltis marcados nos últimos jogos de Fluminense e Corinthians – sobretudo neste – continua acessa. Abaixo, textos de Tostão e Juca Kfouri: o primeiro defende que os pênaltis não aconteceram; o segundo, o contrário.

JFQ

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Os Zé-Regrinhas

Tostão


Como gosta de dizer Mauro Cezar Pereira, brilhante comentarista da ESPN Brasil, houve no fim de semana mais dois pênaltis à brasileira, a favor do Corinthians e do Fluminense, que não deveriam ser pênalti no Brasil, na Europa nem em nenhum lugar do mundo.

Esses erros acontecem toda rodada, a favor e contra todos os clubes.

Cada vez mais os jogos no Brasil são decididos pelos árbitros. Pênalti é tão decisivo que só deveria ser marcado quando fosse claro. Dizer que falta fora e dentro da área são a mesma coisa, porque a regra não faz essa distinção, é uma visão operatória e ingênua.

Foi mais um pênalti virtual. No momento do lance, raríssimas pessoas acharam que foi pênalti. Depois de assistir à jogada mil vezes, comentaristas, ex-árbitros ou não, e seus milhões de seguidores passaram a valorizar o que não tem nenhuma importância. A câmera lenta, nesses casos, atrapalha mais do que ajuda.

Querem transportar a regra para o lance. É o contrário. Temos de observar primeiro e, depois, confirmar se o que vimos está na regra. Seria como um médico diagnosticar a doença pelo que leu, e não pelo que viu.

As pessoas estão perdendo a capacidade de observar. São os zé-regrinhas. Adoram regras, que decidem para eles.

Mudo de assunto.

Hoje, no amistoso contra a Argentina, Mano Menezes deve manter o esquema com quatro defensores, dois volantes, três meias (Robinho, pela direita, Ronaldinho, pelo centro, e Neymar, pela esquerda) e mais um centroavante (André). Quando o time perder a bola, Robinho e Neymar voltam até o próprio campo para fazer com os volantes uma linha, torta, de marcação. Ronaldinho jogará livre. Outra possibilidade é entrar mais um jogador no meio de campo, Elias, e sair Neymar ou André.

Pensando na renovação e na Copa de 2014, não entendi a convocação de Ronaldinho, hoje reserva no Milan. Se for para melhorar a qualidade para este jogo, outros jogadores, como Lúcio e Roberto Carlos, deveriam ter sido chamados, já que são ainda os melhores de suas posições.

Desde 1982, com Falcão, o Brasil não tem um craque no meio-campo. Teve e tem bons jogadores. O principal motivo disso é que os técnicos, já nas categorias de base, colocam os armadores mais talentosos para jogar como meias ofensivos.

Procura-se, com urgência, com poucas chances de achar nos próximos anos, um fora de série no meio-campo. Quem descobri-lo terá a eterna gratidão dos que gostam de futebol bonito e eficiente.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 17/11/2010.

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Divergindo de Tostão

Juca Kfouri


Tostão escreveu em sua coluna de ontem que não houve pênalti nem para o Corinthians nem para o Fluminense na rodada passada.

Não me alegra discordar, ao contrário, porque por poucas pessoas tenho tanto carinho e respeito quanto por ele.

O argumento dele é perfeito e, aí, estamos de acordo: o pênalti é algo tão decisivo que não deveria ser tratado como uma falta qualquer, dessas no meio do campo.

É o tal espírito da lei, que deveria ser levada em conta também em relação aos impedimentos, cujo espírito está em não permitir que alguém leve vantagem ao se colocar na direção do gol.

Daí porque em dúvida os bandeirinhas deveriam deixar os lances seguirem, porque uma posição milimétrica de impedimento é por acaso, jamais proposital.

Mas voltemos ao pênalti.

Embora fosse mais uma coisa a deixar a critério dos árbitros, eu gostaria que fosse marcado pênalti só diante da possibilidade iminente de gol.

Em caso contrário, falta dentro da área, seria batida com chute em dois toques, com barreira.

Mas a regra não é assim e pergunto ao Tostão como fazer.

Imagine que, numa final de Copa do Mundo, jogo empatado, último segundo, um zagueiro suba sozinho na área, sem ninguém por perto, e por pura bobeira, dessas panes mentais que às vezes acontecem, meta a mão na bola.

O árbitro deve marcar a falta, e consequentemente o pênalti, ou fazer de conta que nada houve para que uma Copa não seja decidida por tamanha infantilidade, tamanha infelicidade?

E se é apenas um empurrão, desses que ninguém titubearia em marcar se fosse no meio do campo?

Em tempo: dispenso as baboseiras do tipo lembrar que Tostão é cruzeirense, OK?

* Publicado no Blog do Juca: http://blogdojuca.uol.com.br/2010/11/divergindo-de-tostao/

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