terça-feira, 27 de abril de 2010

Lar, Doce Lar


A primeira vez a gente nunca esquece. Era um domingo. O ano: 1991. Vindos de Birigui, interior de São Paulo, para fazermos faculdade na capital, recém instalados em uma república de estudantes no bairro de Perdizes, eu e meu amigo Sérgio rumamos para a estação de metrô Barra Funda. Aquele caminho era um dos poucos que já percorríamos sem necessidade de consulta a mapas ou informações de transeuntes. Também sabíamos que dali saía o lotação para o estádio Paulo Machado de Carvalho, mais conhecido como Pacaembu, onde, naquele dia, seria realizada partida entre Corinthians e Fluminense pelo campeonato brasileiro. Estávamos ansiosos para ver nosso Timão, então campeão brasileiro, especialmente o ídolo Neto.

De posse do Guia de São Paulo, um catatau de mil e tantas páginas – medida cautelar para não nos perdermos na volta –, fomos os dois, juntamente com outros fiéis corinthianos. Quando a perua saiu, percebemos que seguia justamente no sentido de nossa casa. Olhamos um para a cara do outro com um sorriso de constrangimento, já que podíamos ter ido a pé, e, ao mesmo tempo, de contentamento pela ótima descoberta: o Birigui Palace – esse era o nome da nossa república – ficava próximo ao Pacaembu! O jogo terminou 3 a 1 para o Coringão, vimos o Neto, que naquele dia não marcou gol de falta ou de outro tipo, e regressamos felizes para casa. Caminhando, claro.

A partir de então, assisti a muitos jogos no Pacaembu. Em muitos domingos, íamos ao estádio de manhã para comprar os ingressos, voltávamos para almoçar e, faltando uma hora, mais ou menos, partíamos em definitivo para ver a peleja.
Vi muitos jogos, sempre do Timão, contra os mais variados adversários, por todos os campeonatos possíveis, sob as mais diversas condições climáticas e emocionais. Assisti a final de campeonato, a partidas sob chuva torrencial, a disputas memoráveis, a verdadeiras peladas de várzea, derrotas fragorosas, vitórias magistrais. Inclusive, um jogo horroroso – 0 a 0 contra a Portuguesa, pelo Paulistão de 1995 –, transformada pela torcida num dos mais belos espetáculos que já testemunhei: a Gaviões havia vencido seu primeiro carnaval e o estádio todo passou os 90 minutos cantando o samba enredo campeão.


Além do vínculo afetivo, derivado da condição de torcedor, o Pacaembu me traz uma sensação ambígua de construção altiva, grandiosa, sem deixar de ser singela e familiar. Merece a reverência das obras de arte e dos monumentos históricos, e o afeto cordial do joguinho de bola para torcer na companhia do pai e dos amigos. É o espaço do bairro pitoresco, com sua praça e seu campinho bucólicos, ao mesmo tempo em que carrega a aura gloriosa de palco de tantos jogos de Pelé, de gols e lances míticos, de clássicos épicos, do Pan de 1963, do jogo do Brasil contra a Suíça pela trágica Copa de 1950.

Para acabar, volto ao plano íntimo. É bom dizer que esse estádio, denominado pela Fiel como “a casa do Corinthians”, e que hoje completa 70 anos, há quase 20 é um dos lugares onde este corinthiano caipira, de verdade, sente-se mais em casa estando em Sampa.

JFQ


Foto que tirei no último Corinthians x Palmeiras, realizado no Pacaembu em 31/01/10. Vitória do Timão: 1x0.

Um comentário:

  1. Sérgio Augusto Nogueira28 de abril de 2010 às 15:20

    Bons tempos!!! Lembro como se fosse hoje. Parabéns pela idéia. Já sou fã do blog. Lembra do Corinthians e Flamengo no Pacaembu naquela época? Melhor esquecer. Abç.

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