segunda-feira, 19 de abril de 2010

Enfim, brilha a estrela solitária


Tem coisas que só acontecem com o Botafogo, mas tudo tem limite. Perder uma quarta final seguida do campeonato estadual seria de uma sacanagem celestial com o time da estrela solitária. Além de injusto. Senão, recordemos.

O clube, após surra histórica para o Vasco, por 6x0, ainda no início do campeonato, contratou Joel Santana. Papai Joel, como é chamado, organizou o time e, mais do que isso, com seu jeitão paternal, trouxe ânimo e moral a General Severiano. Penso que o reencontro de Joel com o Botafogo foi excelente para ambos. Reencontraram-se em um momento em que o Botafogo precisava de um líder como Joel e este, uma missão como reerguer o Fogão das cinzas. Santana vinha de uma experiência até certo ponto traumática na seleção sul-africana, de onde voltou criticado pelos resultados e pela pronúncia do inglês. O Botafogo, apesar do respeitável ataque estrangeiro – o argentino Herrera e o uruguaio Loko Abreu –, não vinha muito bem das pernas. Eis que surgiu o folclórico – aliás, por que folclórico? – Joel Santana, de porte de sua prancheta, seu agasalho, suas mandingas, sua emoção, seus conhecimentos, sua experiência e sua aura de vencedor. A propósito, Joel é uma espécie de anti-Luxemburgo: um adepto do estilo clássico – não diria velho ou arcaico como querem os modernosos –, preso às pranchetas, agasalhos, conselhos e paixões. Do lado inverso, Joel também é um anti-Luxemburgo por ser refratário às modernidades futebolísticas do tipo laptops, pontos eletrônicos, terno e gravata, filosofias e um asséptico verniz de profissionalismo. Joel é uma espécie de Zagallo restrito ao âmbito carioca. O velho Lobo, diga-se de passagem, que também contribuiu com seu pé quente ao Botafogo, dando a camisa 13 do time ao uruguaio Abreu logo que este chegou.

Enfim, o Fogão mostrou-se um time obstinado rumo ao título. Ou melhor, rumo aos títulos, já que faturou Taça Rio, Taça Guanabara e, por conseguinte, o Campeonato Carioca, fato que não ocorria desde 1998. Passou por cima de todos os principais rivais: venceu o Vasco na final da Taça Guanabara, o Fluminense na semifinal da Taça Rio e o Flamengo, seu algoz dos últimos anos, nas semi da Guanabara e na final da Taça Rio. Incontestável, magnânimo. E o campeão de 1910 – e não “desde” 1910, na versão original de Lamartine Babo para o hino do alvinegro, mudado posteriormente –, faturou também o título de 2010.

Parabéns, Botafogo! Campeão Carioca, da Taça Guanabara e da Taça Rio de 2010!

JFQ

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