quarta-feira, 27 de junho de 2012

Sim, nós podemos!




É comum ouvir que ser corinthiano é ser sofredor, apaixonado, louco, coisas do tipo. O torcedor mosqueteiro, pelo menos o típico, é fanático, chato até. Há, entretanto, uma característica do corinthiano não tão comentada: ser corinthiano é também ser odiado. Com a mesma força com que sentimos nosso coração bater mais forte pelo Timão, notamos a bílis escorrer pela boca de são-paulinos, palmeirenses e santistas quando o escudo do alvinegro de Parque São Jorge lhes é apresentado.


Sei que hoje e na próxima quarta, dia 4/7, os corinthianos estaremos vidrados, torcendo pelo fim (enfim!) da nossa obsessão pela conquista da América. Ao mesmo tempo em que os arquirrivais estarão vidrados na “secação”, rezando para que não se perca para sempre a piada da Libertadores mosqueteira só no playstation.

A forma mais comum de se odiar os corinthianos – e, por tabela, o Corinthians – é o menosprezo. Visto do pedestal pelos rivais, somos taxados de favelados, analfabetos, pobres, desdentados, negros, ladrões (sem preconceito, claro!), enfim, de formas pejorativamente associadas ao homem do povo. Ser popular, “do povão”, contudo, é para nós motivo de orgulho, jamais de vergonha.

Outros “argumentos” nos são despejados nesse discurso elitista de quem come sardinha e arrota caviar. Eles, sim, têm casa, enquanto nós moramos na “Marginal sem número”. Eles, sim, têm glórias: campeões mil vezes, detentores das taças mais importantes, conquistadas por escretes mágicos, por academias, por gênios como Ademir, Raí e o maior de todos, o rei Pelé. Já nós, somos lembrados pelos times de “faz-me rir”, pelos tabus, jejuns, rebaixamentos e obsessões da vida. Para eles, de nada valem nossos Sócrates, Rivellinos e Marcelinhos, nossas democracias e invasões. Nossos gols são impedidos; nossos pênaltis, roubados; nosso Ronaldo é mais gordo. Até nosso Mundial, ao contrário dos deles, é fajuto.

Por mais fortes e obstinados que sejamos os corinthianos, é certo que tamanho menosprezo, somado aos sofrimentos de costume, levam a, no mínimo, um abalo na auto-estima. Diante desse quadro – todos contra o Corinthians! –, apesar de nos sentirmos realmente especiais, acabamos por vezes sucumbindo à cilada derrotista. Esquecendo das tantas taças e superações do passado – 1977, 1990, 2000, 2008, entre outras –, só nos vêm à mente as frustrações vividas: o gol do Vagner Love, a defesa do Marcos, os sofrimentos que não se tornaram vitórias na undécima hora, como, dizem, é do nosso gosto. Dessa forma, o corinthiano mais simples acaba por acreditar, embora com ressalvas, na máxima dos coirmãos travestidos de Caim: “Essa Libertadores não é mesmo para nós...”

Mas nada como uma vida centenária, nada como o jogo jogado por tanto tempo! Penso que, quando do rebaixamento, o Corinthians viveu seu “momento Scarlett O’Hara”: determinou a si mesmo que nunca mais passaria por tamanha mazela. De Mano Menezes a Tite – a fase gaúcha do Timão –, o time voltou à Série A, venceu Paulista, Copa do Brasil e Brasileirão. Como se não bastasse, está de malas prontas para a casa própria em Itaquera, sede da abertura da Copa do Mundo de 14. Coroando a nova era, reafirma-se altaneiro e chega à sua primeira final de Libertadores. E não se trata de uma Libertadores, mas DA Libertadores: passou pelo Vasco, vice-campeão brasileiro, pelo Santos, time de Neymar e atual campeão do torneio, culminando na final, até aqui invicto, para encarar o argentino Boca Juniors: bicho-papão da América, clube do semi-deus Maradona e onde joga o cracaço Riquelme. Épico, lendário, para dizer o mínimo!

Tite montou uma equipe aguerrida, muito bem entrosada, sabedora de suas funções e objetivos. A partir de um elenco apenas razoável, fez um conjunto invejável, duro de ser batido. Mas o grande mérito desse time não é técnico ou tático, e sim, psicológico: a partir de um time seguro, o torcedor trocou a obsessão de outrora por uma confiança que nem as pechas dos arquirrivais está sendo capaz de abalar.

Assim chegamos ao dia de hoje. Depois de tantas amarguras, a escalada ao topo do futebol fez com que nós, corinthianos, eternos sofredores, tenhamos a convicção plena de cravar: “Sim, nós podemos!”. Qual Obamas brasileiros, negros outrora relegados a posições menores, gente a quem não cabia sonhar, passamos a duvidar e a tornar nossos sonhos realidade.

Claro, respeitaremos o Boca e sua tradição, mas não nutriremos sentimento de medo. Caso nos venham com a história de seis taças levantadas, reforçada com a velha ladainha dos arquirrivais, responderemos com a simplicidade de um povo que sofre, mas supera os obstáculos, e com a potência de um povo em ascensão:

“(Her) Mano, aqui é Corinthians!”.

JFQ

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