segunda-feira, 25 de junho de 2012

Repressão e fantasia

Tostão

As principais esperanças do futebol brasileiro, Neymar, Ganso, Lucas, Oscar e Leandro Damião, não estarão nas finais da Copa do Brasil e da Libertadores. Nas semifinais, predominou o jogo coletivo do Corinthians e do Coritiba.
Neymar, em campo, ainda não atingiu a simplicidade dos maiores craques. Messi é conciso e objetivo. O mesmo acontece em todas as atividades. Talento é tornar simples o que é complexo. Muitos confundem simplicidade com simplismo e ingenuidade.
Toninho Nascimento, editor do jornal "O Globo", disse, com exagero e com razão, no pro- grama Redação Sportv, que Ganso, contra o Corinthians, parecia um ex-craque em uma pelada de veteranos.
Escrevi que o Corinthians, por causa da rigidez tática e do futebol compacto, é o mais europeu dos times brasileiros. No Brasil, é comum associar disciplina tática com futebol feio e pragmático. Nem sempre. Todas as grandes equipes, com todos os estilos, como a seleção brasileira de 1970 e o atual Barcelona, são disciplinadas taticamente. Unem a disciplina com a fantasia e a improvisação.
A disciplina e os esquemas táticos são a forma, o suporte, para os craques brilharem. São também uma mensagem aos jogadores, que eles não podem ultrapassar certos limites, fazer tudo o que desejam, e que suas ambições não podem atropelar o conjunto.
Assim é também na vida. O esquema tático é o superego, a consciência dos atletas. Mas, se os treinadores e os Zé Regrinhas forem excessivamente rígidos, vão inibir a inventividade e a espontaneidade dos jogadores e dos cidadãos.
Uma das razões da queda de qualidade do futebol brasileiro é que os treinadores, desde os das categorias de base, entendem muito de disciplina, estratégia, esquema tático, e pouco de futebol.
As grandes equipes não ganham sempre, nem os vencedores são sempre grandes equipes. O Chelsea, campeão da Europa, e o Corinthians, se ganhar a Libertadores, não são grandes times. São organizados e eficientes. Falta mais talento. Em muitos momentos dos dois jogos contra o Santos, o Corinthians, que costuma marcar por pressão, atuou como o Chelsea, nos confrontos contra Barcelona e Bayern, com oito jogadores à frente da área.
Jogar dessa forma não é pecado nem proibido. Temos de respeitar, compreender as razões e as necessidades da equipe e reconhecer seus méritos. Mas a função do comentarista não é apenas exaltar os vencedores. É, principalmente, ser crítico e exigir melhores espetáculos.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 24/06/2012.

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