terça-feira, 5 de julho de 2011

Por uma solução realmente majestosa

Após o 5 a 0 contra o São Paulo, com direito a frango do ídolo Rogério Ceni, o diretor de marketing do Corinthians, Luis Paulo Rosenberg, lançou a campanha: faltam 19 gols para o Timão fazer o centésimo sobre Ceni. A provocação é uma resposta ao tão propalado centésimo gol do goleiro, feito sobre o alvinegro, em partida realizada em março. Além disso, é mais uma resposta – como se não bastasse o baile no último jogo – aos tricolores que afirmavam que Rogério faria o centésimo gol, pela segunda vez, contra o arquirrival, já que a FIFA reconhece apenas 99 dos tentos anotados pelo arqueiro.


Essas são provocações que fazem parte do futebol. A rivalidade entre as torcidas é um ingrediente fundamental para que o esporte bretão seja tão popular e, por que não dizer, elemento relevante na cultura nacional. E a rivalidade entre corinthianos e são-paulinos, em particular, no chamado Clássico Majestoso, é uma das principais, indubitavelmente, do futebol brasileiro.

Intróito feito, há que se realçar uma disputa nada majestosa que vem se travando entre alvinegros e tricolores. Uma disputa que vai muito além das quatro linhas e que abrange dinheiro público e a possibilidade de desenvolvimento de uma região carente da capital paulista.


O último capítulo da novela do estádio da Copa do Mundo de 2014 foi a aprovação de R$ 420 milhões em incentivos fiscais pela Câmara Municipal de São Paulo para a construção Fielzão, projeto de “casa” do Corinthians. Após dois turnos de votações, os incentivos foram aprovados por 39 votos contra 15 e uma abstenção. Além disso, foi aprovado substitutivo do Executivo que condiciona os incentivos à realização da abertura da Copa do Mundo em São Paulo e que o governo abra em até 60 dias um novo edital para que haja isenção fiscal para as empresas interessadas em se instalar na Zona Leste.

Em minha modesta opinião, sopesados os prós e contras, os custos e benefícios da aprovação ou não, a solução parece ter sido razoável. Há bons argumentos de lado a lado, assim como há discursos demagógicos e eleitoreiros para atingir, por um lado, os que não admitem que São Paulo esteja fora do Mundial ou, por outro lado, aqueles que associam tudo o que diz respeito à Copa com falta de ética, com corrupção e, na melhor das hipóteses, com falta de mentalidade cidadã. Nem tanto ao céu, nem tanto à terra. Do jeito que ficou, como amante do futebol e como cidadão paulistano, confesso que fiquei satisfeito. Contempla o desejo – legítimo! – da maior cidade do país em participar deste evento caríssimo (em todos os sentidos) aos brasileiros, os interesses – também legítimos! – de inserção da Zona Leste no desenvolvimento da capital e as cautelas – fundamentais! – para que recursos públicos não sejam aplicados tão-somente para a contemplação de interesses privados e/ou em projetos indevidos.

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Este desfecho, contudo, não se deu sem discussões ríspidas e acusações. Acusações, inclusive, de que interesses e sentimentos clubísticos estariam acima do interesse público. No caso, interesses e sentimentos de corinthianos e de são-paulinos.

O mais engraçado é que tanto os favoráveis à concessão das isenções, como os contrários, arrogam-se na condição de patriotas em defesa do bem nacional. Afloram-se os ímpetos de grandiosidade patriótica naqueles que bradam pela necessidade da concessão, num indisfarçável tom de chantagem, uma vez que sem elas não haverá estádio paulista na Copa, uma vergonha municipal, estadual e nacional, além de que a pobre região de Itaquera jamais terá semelhante oportunidade de desenvolvimento econômico e social. Já os contrários vociferam pela injustiça, falta de ética e inconstitucionalidade das isenções, tratando-se de um clube rico e de uma empreiteira milionária, beneficiados por uma graça estatal, via de regra, negada aos comuns empreendedores.

O fato é que a Copa está aí e São Paulo, por meio de seus representantes, precisa decidir se quer ou não participar do evento. Claro que a questão não é tão simples, há outros tópicos a serem considerados. Não foi São Paulo – a cidade – que tirou o estádio do Morumbi logo no início, considerado palco certo da abertura. Também os cidadãos paulistanos não foram consultados se desejavam que seus recursos fossem investidos neste evento, muito embora seja bem provável uma aprovação maciça à participação da cidade na Copa, em que pese o discurso moralista de quem não se conforma até agora que o Brasil tenha sido escolhida para ser a sede da Copa de 2014 e também das Olimpíadas de 2016.


A propósito, apesar de legítimo o voto contrário aos benefícios fiscais à Odebrecht e ao Corinthians dado vereador Aurélio Miguel, campeão olímpico e conselheiro do São Paulo Futebol Clube, bem como por outros onze membros da edilidade paulistana, parece um tanto forçada a atitude de, perdida a batalha no plenária da Câmara, recorrer ao Ministério Público aventando a inconstitucionalidade da medida.

Enfim, tanto os favoráveis como os contrários aos benefícios podem fundamentar seus votos nas razões e interesses mais condizentes com o interesse público, como podem valer-se das motivações mais torpes. Não é o ser a favor ou ser contra, pura e simplesmente, que evidenciará o patriotismo ou a malandragem implícita na decisão do “nobre” edil. Ainda assim, o resultado do imbróglio talvez tenha sido o melhor, dada a circunstância.

JFQ

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Como votaram os vereadores

Sim

Adolfo Quintas (PSDB)

Agnaldo Timóteo (PR)

Alfredinho (PT)

Atílio Francisco (PRB)

Carlos Apolinário (DEM)

Claudinho (PSDB)

Claudio Prado (PDT)

Dalton Silvano (sem partido)

David Soares (PSC)

Domingos Dissei (DEM)

Edir Sales (DEM)

Eliseu Gabriel (PSB)

Everson Marcos de Oliveira (PSDB)

Francisco Chagas (PT)

Gilson Barreto (PSDB)

Goulart (PMDB)

Ítalo Cardoso (PT)

Jamil Murad (PCdoB)

José Américo (PT)

José Police Neto (sem partido)

José Rolim (PSDB)

Juliana Cardoso (PT)

Juscelino Gadelha (sem partido)

Marta Costa (DEM)

Milton Leite (DEM)

Milton Ferreira (PPS) Natalini (sem partido)

Netinho de Paula (PCdoB)

Noemi Nonato (PSB)

Paulo Frange (PTB)

Quito Formiga (PR)

Roberto Tripoli (PV)

Salomão (PSDB)

Senival Moura (PT)

Souza Santos (sem partido)

Toninho Paiva (PR)

Ushitaro Kamia (DEM)

Victor Kobayashi (PSDB)

Wadih Mutran (PP)

Não

Abou Anni (PV)

Adilson Amadeu (PTB)

Antonio Carlos Rodrigues (PR)

Arselino Tatto (PT)

Attila Russomanno (PP)

Aurelio Miguel (PR)

Aurélio Nomura (PV)

Carlos Neder (PT)

Chico Macena (PT)

Claudio Fonseca (PPS)

Donato (PT)

José Ferreira, o Zelão (PT)

Marco Aurélio Cunha (DEM)

Sandra Tadeu (DEM)

Tião Farias (PSDB)

Não votou

Celso Jatene (PTB)

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