quarta-feira, 13 de julho de 2011

Messi brilhou porque a Argentina mudou ou a Argentina mudou porque Messi brilhou?



Até que enfim, a Argentina mostrou bom futebol nesta Copa América. Mais do que isso, o grande ídolo Lionel Messi também desencantou. Pouco importa se o adversário era a Costa Rica. Os adversários anteriores, Bolívia e Colômbia, que empataram com os argentinos, também eram, no papel, muito inferiores; vale dizer, a Bolívia foi derrotada pela mesma Costa Rica por 2 a 0.

O que aconteceu, não nessa partida, em que a “verdadeira Argentina” se mostrou, mas nas anteriores, quando se viu a caricatura de uma das mais importantes seleções mundiais e do melhor jogador do planeta? Tenho uma hipótese: na partida contra a Costa Rica, o técnico Sergio Batista perdeu o medo de jogar apostando na vocação ofensiva e de toque de bola da Argentina. As quatro alterações que fez - saíram Cambiasso, Banega, Lavezzi e Tevez, entraram Gago, Aguero, Di Maria e Higuain -, menos pelos jogadores e mais pelo reenquadramento tático, possibilitou uma nova postura, uma nova dinâmica e, principalmente, que Messi pudesse jogar tudo o que sabe. E como ele sabe jogar!

Nas partidas contra Bolívia e Colômbia, Batista colocou Messi em uma cilada. Atrás dele, três volantes com características mais defensivas do que de armação; à frente, dois atacantes de lado de campo, cada qual muito isolado, à esquerda e à direita. O craque do Barça ficava sozinho com a responsabilidade de criar jogadas no meio e buscar Tevez e Lavezzi, que, apesar de movimentarem-se bastante, tendem a correr com a bola nos pés, não de receber a bola passada e finalizar de pronto.

A mudança mais ousada foi a colocação de um único volante de contenção - Mascherano - , compensada pela retenção dos laterais para função exclusiva de marcação; aliás, os pesados Zabaleta e Zanetti, ainda que bons jogadores (especialmente o último), atualmente não têm muitos recursos para o apoio.

Gago passou a auxiliar Messi no meio, participando da articulação e, não sendo “La Pulga” o único alvo a ser marcado, dificultou sobremaneira as ações defensivas costa-riquenhas no meio-campo. Além disso, para ajudar ainda mais as jogadas criadas por Messi nas assistências, calharam muitíssimo bem as três opções à frente, Aguero, Di Maria e Higuain. Todos se movimentaram muito e foram premiados com bolas açucaradas, no jeito para a finalização. Dessa forma, apesar da fase (ou característica?) de Higuain, que não consegue enfiar a bola para dentro, considerando a abundância de chances criadas e finalizações realizadas, os três gols foram até pouco.

Em suma, as mudanças no elenco e no esquema tático fizeram muito bem à Argentina e a Messi, que, finalmente, conseguiu melhores condições para mostrar que é, sem dúvida, o melhor jogador do mundo.

Além dos fatores acima, há que se ressaltar as consequências psicológicas positivas da boa receptividade da torcida de Córdoba sobre o escrete argentino. A começar pela presença no estádio do lendário Mário Kempes, que dá nome ao estádio. Isso também tirou muita pressão dos jogadores. Bem melhor do que começar as partidas questionando Messi por não cantar o hino nacional.

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Lições para o Brasil

A mudança na seleção argentina pode bem servir de lição ao Brasil. Principalmente quanto à assunção de uma postura vencedora. Em outras palavras: para que se “arrisque” a jogar com apenas um volante, há que se estar convencido de que a equipe tem potencial para manter a bola na frente. Eis a lógica: manter a posse de bola e a ofensividade é uma maneira, quiçá a melhor, de proteger-se atrás. Em linguagem popular: o ataque é a melhor defesa.

No caso da articulação no meio, Jadson provou que pode ser o anteparo de Ganso (guardadas as devidas proporções, o nosso Messi). À frente, Lucas Silva poderia compor com Pato e Neymar um trio de ataque a se movimentar como fizeram Aguero, Di Maria e Higuain.

Ramires seria sacado, mas os laterais deveriam ficar mais atrás para não deixar a defesa desprotegida. De qualquer forma, nossos laterais têm mais recursos para apoiar do que os argentinos, o que, eventualmente, seria uma “vantagem comparativa” brasileira.

Claro que não se trata de uma fórmula que sirva a Barcelona, Argentina ou Brasil a qualquer hora e contra qualquer adversário. Cada um tem características, potencialidades e limites distintos, que devem ser sopesados quando das escolhas táticas. Entretanto, há que se considerar, ao menos como uma lição, o jogo da Argentina contra a Costa Rica. Até para que não se faça o samba de uma nota só, como Galvão Bueno, para quem tudo parece se resumir à falta de referência na área. A propósito, talvez seja o momento de o nobre locutor considerar que Ronaldo e Romário não jogam mais, e Fred, apesar de um jogador muito esforçado, pode não ser um salvador da pátria.

JFQ

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