sexta-feira, 21 de maio de 2010

Libertadores chega às semifinais com mais um confronto brasileiro

A Libertadores chega às semifinais com mais um confronto brasileiro: São Paulo e Internacional. O último, já que só os dois ainda representam o Brasil no torneio.

São Paulo e Internacional disputarão uma vaga nas finais. Como recordar é viver, os dois fizeram a final da Libertadores em 2006, quando o time gaúcho conquistou sua primeira – e, até agora, única – taça. Por ironia, naquela ocasião, um dos principais jogadores do Colorado era Fernandão, que assume a mesma condição hoje no Tricolor. Além dele, também Jorge Vagner, hoje no São Paulo, sagrou-se campeão da Libertadores pelo Inter.

Outra curiosidade é que os dois times se enfrentarão no próximo domingo. Não pela Libertadores, mas pelo campeonato brasileiro. Mera coincidência. Os jogos pelas semifinais da Libertadores acontecem apenas depois da Copa do Mundo.


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O campeão voltou?




O São Paulo passou como um trator pelo Cruzeiro. Duas vitórias por dois a zero, ambas com gols de Dagoberto e Hernanes. Ambas com grandes atuações de Marlos e Fernandão. A grande diferença entre os jogos é que, no segundo, infelizmente, houve uma participação decisiva também do árbitro.

Para ficar claro: o São Paulo não obteve sua classificação por causa da expulsão indevida de Kléber; o Tricolor conquistara uma vantagem importantíssima em Belo Horizonte, e dificilmente deixaria escapar a classificação. Porém, o exagero da interpretação de Jorge Larrionda sobre a mão do atacante cruzeirense no rosto de Richarlyson foi decisivo para que a Raposa não oferecesse qualquer ameaça na partida do Morumbi. Interpretações são sempre relativas, subjetivas, coisa e tal. Porém, não apenas pelo pouquíssimo tempo de jogo – que, a rigor, não é critério para que se dê ou não o cartão vermelho –, mas pelo lance em si, é difícil considerar que o senhor Larrionda tenha acertado na sua decisão.

O árbitro uruguaio considerou agressão o gesto de Kléber de abrir os braços quando da aproximação de Richarlyson. Essa atitude – proteger-se abrindo os braços – pode ser inconveniente, às vezes merecedora de cartão? Sim, às vezes: quando o jogador, de forma ríspida, atinge o rosto do adversário. Mas dificilmente será comparável a uma cotovelada, uma agressão propriamente dita, merecedora de cartão vermelho. O fato é que Kléber não agrediu Richarlyson; no máximo, disputou a jogada de forma atabalhoada. Para ser sincero, não achei sequer merecedor de cartão amarelo. O que ficou claro, interpretações à parte, é que Oscar Larrionda apita no grito. Duvido que daria o cartão vermelho não fosse a reação de Richarlyson e os apupos da torcida. Aliás, caso o entendimento de Larrionda fosse aplicado por todos os árbitros, muitos jogadores deveriam ser expulsos a cada jogo. Dentinho, do Corinthians, e Fábio Rochembach, do Grêmio, por exemplo, nunca mais ficariam 90 minutos completos em campo.

Há que se louvar a melhora que o São Paulo teve nesses dois jogos contra o Cruzeiro. Marlos, que já vinha se firmando como uma das principais peças na articulação do meio para a frente, assume a condição de jogador fundamental no esquema são-paulino. Arranca muito bem, iniciando a distribuição de bola para o ataque tricolor, e chega bem à frente. Porém, ainda falta melhorar a conclusão. Marlos costuma chutar mal e fraco ao gol adversário. Sanada essa insuficiência, será um jogador ainda mais perigoso, nos moldes do seu companheiro Hernanes.

A propósito, o ambidestro meio-campo são-paulino voltou a jogar seu melhor futebol, após longa fase de perda de brilho. Hernanes voltou a ser perigoso como antes, marcando atrás e chegando para aplicar seus tirombaços a gol, seja de direita, seja de esquerda. Para isso, deve-se reconhecer a participação de Fernandão. O novo reforço do time não deve ser considerado um gênio que mudou a história são-paulina, mas certamente, abriu ao São Paulo a possibilidade de um novo esquema ofensivo, servindo de pivô para as chegadas dos homens de trás. O ataque do São Paulo, sem a menor dúvida, tornou-se muito mais perigoso depois de sua chegada.

Arrisco-me a dizer que o São Paulo está com pinta de campeão. Assume a condição de favorito. Claro, ponderando-se tal condição com o velho discurso de que em clássicos, dado o peso do adversário, favoritismo não é certeza de vitória. Aliás, que o digam Corinthians e Cruzeiro, também considerados favoritos em seus confrontos, respectivamente, contra o Flamengo e contra o próprio São Paulo.

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O humano e o grito



O ex-jogador Sócrates, hoje comentarista, tem uma tese de que o futebol, acima de tudo, deve ser analisado pelo seu prisma humano. O futebol é encantador não só por conta dos esquemas táticos, das belas jogadas, da plasticidade dos lances. O futebol é encantador porque revela o ser humano na sua essência, seu lado racional e, sobretudo emocional, assim como os modos como se dão as relações humanas com suas belezas e mazelas. Faço esse intróito tosco – me perdoem – apenas para salientar que o árbitro, coitado, também está à mercê da imensa carga emocional que envolve uma partida. Não apenas os jogadores são vitimados ou fortalecidos pela vibração da torcida, que ora os eleva, ora os enterra, como também o juizão é passível dessa onda emocional.

Jorge Larrionda não agiu impulsivamente, muito menos racionalmente, ao expulsar Kléber. Foi levado pelo forte impulso emocional vindo do grito da torcida são-paulina no momento em que Richarlyson contorcia-se no chão. Arnaldo César Coelho, aliás, foi muito feliz ao definir a arbitragem de Larrionda: um bom árbitro, mas que apita no grito. Pelo grito, agiu (reagiu?), expulsando erroneamente Kleber. Sim, Larrionda errou. E errar é humano.

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A garra que vem dos pampas


Se o São Paulo assumiu a aura de “time de Libertadores”, o Internacional mostrou toda a tradição da bravura dos pampas. Para que esse espírito florescesse de vez, nada melhor do que disputar a vaga nas semifinais contra uma equipe argentina. Mais: o atual campeão do torneio.

Os dois jogos foram disputadíssimos, duros como se era de esperar. O Colorado, vale lembrar, conta com jogadores argentinos (Abbondanzieri, D’Alessandro, Guiñazu), com o uruguaio Sorondo, além do técnico Jorge Fossati, também uruguaio. Ou seja, essa mesclado elenco sul-americano, aliado à força gaúcha, resulta no melhor espírito de Libertadores. É o que se viu contra o Estudiantes.

Da mesma forma que na partida em Porto Alegre, o Inter resolveu a parada a poucos minutos do fim. Perdendo por 2x0 desde o primeiro tempo – destaque para o lançamento de Verón, cracaço, mesmo veterano, no primeiro gol do Estudiantes –, o Colorado partiu para o tudo ou nada. Mas só aos 43 do segundo tempo, em um passe milimétrico de Andrezinho, Giuliano tocou no canto, selando a classificação da equipe brasileira.

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O instável Flamengo, enfim, caiu


Não deu para o Flamengo. Apesar da vitória por 2x1, a vaga ficou para o Universidad de Chile, que vencera no Maracanã por 4x3. O Mengo foi brioso, lutou, mas chegou ao resultado previsível da instabilidade que demonstrou durante todo o torneio. Desde o começo, o Flamengo esteve no fio da navalha. Ainda na primeira fase, passando pelas oitavas contra o Corinthians, culminando na desclassificação de ontem, o rubro-negro oscilou bons e maus momentos na Libertadores. Eis um torneio em que estabilidade, no caso, expressão de um time bem estruturado, é fundamental para qualquer pretensão de título. Resta agora partir com tudo para o bicampeonato brasileiro (ou seria o hepta? O hexa?). E torcer para que a ameaça de crise, que também se mostrou claudicante desde o começo do ano, não acabe por estourar de vez agora.

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Campeão Mundial sem ser campeão da Libertadores?
O Chivas Guadalajara, que entrou já nas oitavas de final, também está classificado. Vai pegar o Universidade de Chile e tem boas chances de chegar às finais. Se isso acontecer, e o time mexicano for o campeão, quem vai ao Mundial da Fifa é o vice. Os times do México são convidados para o torneio sul-americano; a vaga no Mundial a que podem almejar é a decorrente do título da Concacaf, torneio referente às Américas Central e do Norte. E tal vaga já está preenchida para o Mundial deste ano: é do mexicano Pachuca.

Ou seja, caso o Chivas vença a Libertadores 2010, e o vice vá a Dubai no final do ano para representar a América do Sul, pode haver um campeão mundial que não venceu a Libertadores. Assim como o Corinthians em 2000. No caso, esse time seria o São Paulo ou o Internacional.

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Reforçando: as semifinais da Libertadores serão jogadas só depois da Copa do Mundo.

JFQ

Um comentário:

  1. Vamos São Paulo! Vamos São Paulo! Vamos ser Campeão!!!!!!!!

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