terça-feira, 4 de maio de 2010

Espetacular



Jogo nervoso, bem jogado, cheio de firulas, nervosismo, emoção até o último instante. Pareceu um filme digno de Oscar.

Roteiro: 1) o Santo André, que precisa ganhar por dois gols de diferença, faz logo um aos 30 segundos de partida; 2) o Peixe empata com um golaço de Neymar, após passe de letra de Robinho; 3) Em jogada rápida, Rodriguinho cabeceia para as redes de Felipe, mas a bandeirinha assinala um impedimento que não houve e para todo o sempre será lembrado pelos torcedores do Ramalhão; 4) De novo, o Santo André acerta um cruzamento e Alê cabeceia para o gol, só que esta valeu; 5) Neymar tenta cavar (mais) uma falta e é repreendido por Alê, qual um xerifão (outra moda trazida da Europa: indignar-se com a falta de fair play do adversário); após o imbróglio gerado, o árbitro Salvio Spinola, perigando perder o controle do jogo, expulsa Nunes e Léo; 6) Em outra jogada inspirada em Pelé e Coutinho, o Santos tabela na entrada da área, Ganso, diria, à la Sócrates, dá um passe de calcanhar que deixa Neymar na cara do gol: 2x2; 7) O bom veterano Marquinhos, em lapso de jogador inexperiente, faz falta dura e deixa o Santos com um jogador a menos; 8) O irrefreável Santo André, que não se dá por vencido jamais, também faz das suas tabelas e a bola chega a Branquinho e ao gol santista: 3x2; 8) Começa o segundo tempo, o jogo segue no toma lá da cá, e as “peças” vão sendo trocadas: saem Robinho, Neymar, Alê, Branquinho; 9) O Santos está tenso – não pode tomar mais um gol e tem um jogador a menos – recua e o Santo André parte para cima: Dorival Jr. parece perdido, enquanto Sérgio Soares mande seu time para a frente; 10) Roberto Brum, que acabara de entrar, também é expulso e o Santos fica com dois a menos; 11) Surge um monstro: Paulo Henrique Ganso, genial, segura a bola, tenta gol do meio de campo, cobra escanteio para ninguém, dá chapéu, recusa-se a ser substituído, enfim, vira o dono da partida; 12) 44 minutos do segundo tempo: o Santo André parte para o ataque, Rodriguinho está na cara do gol, tira de Felipe, mas a bola bate na trave (sabe-se lá quantos santistas sofreram enfarte nesse exato instante); 13) Sálvio Spinolla apita e o Santos, por fim, pode comemorar seu 18º título paulista. Fim.

Melhor impossível. Isso é futebol! Somando a beleza das jogadas, o talento dos tantos jogadores, a quantidade de gols, a aplicação das equipes, a emoção, foi uma das melhores finais dos últimos tempos.

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O campeão da base e do futebol-arte

O Santos deu show nesse paulistão. Não bastasse a enxurrada de gols durante o certame, as verdadeiras aulas de futebol-arte e o talento dos seus meninos, o Santos ainda corroborou duas teses bastante questionadas: é possível vencer jogando bonito e é possível montar uma equipe vencedora investindo na base. Saliente-se: uma coisa está diretamente ligada à outra.

Aliás, essa é uma constante na história do Santos Futebol Clube. Para chegar a este momento de ouro para Neymar e Ganso, outras meninos vitoriosos passaram pelo clube praiano. A geração de Pelé, a de Clodoaldo, a de Pita, João Paulo e Juary, a de Robinho e Diego.

Muito embora tenha trazido jogadores de fora – Marquinhos, Arouca (em troca com o São Paulo, envolvendo Rodrigo Souto), Edu Dracena, Durval –, a equipe estava alicerçada em jogadores feitos em casa: além de Neymar e Paulo Henrique, Felipe, André e Wesley fizeram parte do time titular na maior parte do campeonato. Vale lembrar que até os consagrados Léo e Robinho, apesar de terem vindo há pouco de Portugal e da Inglaterra, respectivamente, também foram formados no Santos.

A propósito, quem viu o Peixe na Taça São Paulo de Juniors – o time sagrou-se vice-campeão, perdendo para o São Paulo a final –, sabe que ainda tem outra fornada de meninos saindo, tais como Alan Patrick e Nikão.

A partir de agora, o Santos precisa provar uma terceira tese: a de que é possível manter esse elenco, evitando o desmanche quando se abrir a chamada “janela” na Europa. O presidente Luís Álvaro de Oliveira aposta nessa tese, confiando que os investidores irão arcar não só com os lucros da venda futura, mas também com os custos da permanência dos jovens craques.

Torço, sinceramente, para que esteja certo.

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O vice que vale por título

O Santo André, sem demagogia, pode se considerar tão vitorioso quanto o Santos. Muito menos badalado, zebra em que pouquíssimos acreditavam poder resistir ao ímpeto santista, o Ramalhão foi um adversário à altura do Peixe. Quem disse que a semifinal entre Santos e São Paulo era uma final antecipada, deve rever a tese. A final de verdade – de fato e de direito – foi mesmo entre Santos e Santo André, desde a fase de classificação, os dois melhores times do campeonato.

Parabéns ao professor Sérgio Soares e a seus ótimos pupilos: Júlio César, Cicinho, Halisson, Cesinha, Carlinhos, Alê, Gil, Branquinho, Bruno César, Rodriguinho e Nunes.

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A irrupção de um gênio?

Posso estar exagerando, mas a sensação que tenho quando vejo Paulo Henrique jogar é a de testemunhar um cracaço, um gênio florescendo. Quiçá, daqui a alguns tempos será considerado um dos grandes jogadores da história do futebol. Às vezes me faz lembrar Falcão, às vezes, Sócrates, às vezes, Zidane. Só gênio.

Exagero? Talvez. Mas não pelo futebol demonstrado, e sim pelo pouco tempo que o fez. O fato é que estou realmente encantado com o futebol desse menino. Sou fã incondicional do seu talento. Dá gosto de ver seu futebol e sua personalidade.

Na final contra o Santo André, Ganso foi imenso, incomensurável. Com dois jogadores a menos, e não mais contando com Robinho e Neymar em campo, Paulo Henrique (21 anos!), chamou a responsabilidade para si, recusou-se a ser substituído, amarrou a bola com brilhantismo durante os 10 ou 15 minutos derradeiros da partida, foi crucial. De lambuja, deu chapéu, tentou um gol do meio de campo e deu um passe fantástico de calcanhar para o segundo gol do seu time. Diga-se de passagem, este lance é uma verdadeira demonstração do conceito de craque de Armando Nogueira: “o bom jogador vê a jogada, o craque antevê”. Ganso, meia hora antes da bola chegar a ele, já sabia que Neymar estaria no lugar certo para receber a pelota e que os zagueiros pensariam que o passe seria para Robinho, que corria para o lado oposto. Genial!

JFQ

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