quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O redivivo “faz-me rir”



Libertadores 2011
Tolima 2x0 Corinthians


Na época em que ficou mais de duas décadas sem ganhar um título, o Corinthians ganhou dos adversários a alcunha de “faz-me rir”. Depois do vexame de ontem, quando foi eliminado da Libertadores antes mesmo de chegar à fase de grupos, o “faz-me rir” parece ter renascido das cinzas e incorporado a equipe alvinegra em campos colombianos. A eliminação – conseguida com todos os “méritos”, diga-se de passagem – é um dos maiores vexames dos últimos tempos no Parque São Jorge. Diria que só não é maior que o rebaixamento, em 2007. A propósito, penso que a lamentável partida de ontem encerra um ciclo que denomino “fase gaúcha do Timão”, iniciada com Mano Menezes e continuada – bem ou mal... mais mal do que bem – por Adilson Batista e Tite. Além dos técnicos – Tite não deve permanecer –, boa parte do elenco deve se desfazer e, por conseguinte, um certo padrão de jogo até agora estabelecido.

Na partida de ontem, o Corinthians jogou melhor do que na primeira, no Pacaembu. O que não quer dizer muita coisa, já que a partida do Pacaembu foi simplesmente horrorosa. Mesmo “melhor”, o time tomou sufoco no primeiro tempo, por pouco não levou um gol com menos de dois minutos, e conseguiu iniciar uma investida pelo comando da partida somente no final da etapa inicial. No segundo tempo, o Corinthians começou bem, impondo-se, criando chances de conclusão, até que tomou o primeiro gol em mais uma “linha burra” mal feita por sua zaga. Aliás, seria injustiça se em 180 minutos (no Pacaembu o recurso também foi exaustivamente utilizado) o time não tomasse um gol por falha na tentativa de deixar o adversário impedido. Eis uma das principais falhas da equipe atual: com a saída de William, Leandro Castan, que não é mau jogador, não tem o entrosamento necessário com Chicão para executar a “linha burra” com mínima segurança. Some-se a isso que os laterais – que também participam da linha – também estão fora da melhor forma: Alessandro está lento; Fábio Santos, que substituiu Roberto Carlos, mais desentrosado ainda que Castan.

Após o gol de Santoya, aos 21 do segundo tempo, Tite colocou Danilo e Ramirez nos lugares de Dentinho e Paulinho. A tentativa de colocar um jogador “cerebral” para coordenar jogadas no meio (Danilo) e outro para carregar e tabelar na entrada da área (Ramirez) foi frustrada pela súbita expulsão do peruano no seu primeiro lance. Com um jogador a mais, o time colombiano, que já tinha boa presença no meio-campo e lançava bem seus atacantes nas costas dos laterais, passou a deitar e rolar.

Abre parênteses. Não se deve atribuir a “Cochito” Ramirez a pecha de “Felipe Melo do Timão”. O peruano fez uma grande bobagem – bastante parecida com a reação de Leonardo na Copa de 94, com menos violência –, um ímpeto gerado pelo nervosismo do momento. É certo que prejudicou a equipe, mas não foi o responsável, assim como o péssimo gramado do estádio de Ibagué, pelo fiasco corinthiano. Fecha parênteses.

Aí veio, na minha modesta opinião, a maior falha de Tite: na tentativa colocar um jogador que incomodasse a defesa adversária, considerando as poucas opções no elenco, tirou Fábio Santos e colocou Edno. Resultado: Edno não produziu nada (que novidade!) e o Corinthians tomou o segundo gol, feito por Medina, aos 33 da etapa complementar, em jogada construída pelo lado esquerdo. Uma perguntinha aos corinthianos: você se lembra de alguma partida em que Edno entrou e “resolveu”? Pergunta complementar: Bruno César, por pior que esteja, não foi uma das revelações do campeonato paulista (no Santo André) e do brasileiro em 2010 e já não resolveu alguns jogos pelo Timão? Portanto, o que explica que Tite não o tenha colocado em um jogo de tamanha importância como o de ontem, preferindo Edno? Hipótese: a recorrência de Bruno César em chutar de fora da área – o que faz muito bem e fez muita falta nas duas partidas –, incomodou Ronaldo que, veladamente, o chamou de fominha pela imprensa; logo, Ronaldo praticamente induziu Tite a tirar o meia e montar um time “Ronaldo-dependente”. De qualquer forma, essa escolha de Tite, bem como o vexame, ajudam a explicar o porquê de hoje já se falar em Carlos Alberto Parreira no Parque São Jorge.

No mais, Jorge Henrique foi o mesmo jogador esforçado (e ponto), Dentinho e Jucilei, irreconhecíveis, Ronaldo, estático. Infelizmente, quanto ao “Fenômeno”, a frase de um diretor são-paulino, que na época queimou a língua, vem a calhar neste instante: Ronaldo parece um ex-jogador em atividade. Vale dizer, a aposentadoria de Ronaldo está marcada para este ano; quiçá, ele a anuncie em muito, muito breve.

O presidente Andrés Sanchez, em tempos de revolta contra presidentes nos países árabes, no Vasco e sabe-se lá mais onde, precisa também colocar suas barbas de molho. Se as saídas de Elias e William já eram previstas, bem como as intermitências de Ronaldo como titular, o clube demorou muito para começar a repor o elenco. Liedson chegou, Cristian deve chegar. Um pouco tarde, não é?!

Olhando para frente, caso seja mesmo encerrada a “fase gaúcha”, o Corinthians, considerando as novas contratações, tem condições de montar uma boa equipe. Até mesmo com o 4-2-3-1 almejado por Mano, mas sem as peças necessárias na ocasião: a dupla sertaneja Cristian e Ralf como volantes; Dentinho, Bruno César e Jorge Henrique na linha de 3 do meio; Liedson na frente; atrás, laterais mais fixos, mais apropriado a Alessandro e Roberto Carlos.

Olhando para hoje, aguente-se os palmeirenses, felizes com a liderança do Paulistão conquistada também ontem, na vitória de 1 a 0 sobre o Mirassol, e mais felizes ainda pelo Tolima lhes dar uma resposta às provocações requentadas por fiascos passados (Asa de Arapiraca, Goiás). E é justamente contra o Palmeiras, no próximo domingo, que o Corinthians, hoje na parte baixa da balança, poderá mostrar que a crise iminente será logo contornada. Ou não.

JFQ


Um comentário:

  1. João,
    Gostei muito do texto. Concordo com ele na íntegra. Gostaria penas de reforçar/acrescentar que além de não montarmos um elenco para a LIBERTADORES, parece que também não nos preparamos fisicamente para 2011. Nesse início, o Corinthians parece estar andando em campo, sempre chegando atrasado nas jogadas e correndo atrás da bola.
    Abraços,
    Rafael.

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