Paulo Vinicius Coelho
Há três semanas, um executivo do canal esportivo italiano Mediaset telefonou. Perguntou se eram verdadeiros os boatos que escutava na Itália de que o Brasileirão voltaria a ser disputado em mata-mata. Ao ouvir que essa possibilidade era remota, informou: "Se é assim, a Mediaset vai comprar os direitos do Brasileirão".
A estabilidade do futebol brasileiro nos últimos sete anos produz o interesse internacional. É ela também a responsável pela negociação dos direitos de TV partir de uma proposta mínima de R$ 500 milhões. Há 15 anos, a TV pagava R$ 10,6 milhões para transmitir o Brasileirão. Hoje, pode, ou poderia, pagar perto de R$ 1 bilhão.
Andres Sanchez, Patrícia Amorim, Peter Siemsen, Maurício Assumpção e o vice de futebol do Vasco, José Hamilton Mandarino -quem manda no clube é ele-, puseram tudo a perder. Ninguém discute o direito de desafiar a forma de poder do C13. A pergunta é: por que fazer isso na semana do lançamento da licitação para o novo contrato de TV?
Como a Globo teria vantagem de 10% na concorrência, a Record teria de fazer um lance mínimo de R$ 600 milhões para ganhar. A expectativa era que a emissora paulista propusesse mais de R$ 700 milhões. A dúvida é se os executivos continuam dispostos a pagar tudo isso após a incerteza gerada pela crise.
O ponto central não é quem vai ganhar, Globo ou Record. A melhor proposta poderia ser da Globo, mesmo que a Record pagasse mais. Mas tudo isso deveria ser discutido em conjunto. Nesse caso, o novo contrato poderia dar aos clubes dinheiro para diminuir o abismo financeiro para a Europa. Mais dinheiro, mais craques, menos êxodo, melhor campeonato, mais interesse de torcida e patrocinadores.
No futuro, é evidente que Corinthians e Flamengo poderão receber mais negociando sozinhos. Mas a crise faz despencar seus preços.
Com Fluminense e Botafogo, é pior. Hoje, a dupla arrecada R$ 23 milhões por ano. Como é certo que a proposta mínima será de R$ 600 milhões, saltam para R$ 40 milhões anuais só na TV aberta. Sozinhos, arrecadariam menos.
Se Corinthians e Flamengo fechassem o contrato em conjunto com o C13 agora e anunciassem, em agosto, que negociarão sozinhos na próxima vez, veriam um leilão por seus jogos nos próximos três anos. Aí, sim, ganhariam mais.
Hoje, na Mediaset, o comentário é outro. Se o Brasil não consegue consenso para organizar sua Série A, como fará para promover a Copa?
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 27/02/2011.
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