terça-feira, 31 de agosto de 2010

Corinthians, 100 Anos


Minha esposa às vezes me chama para ir ao Bom Retiro comprar roupa. Para mim, aquilo é a visão do inferno. Horas e horas entrando em lojinhas lotadas de senhoras em busca de roupas boas e baratas, sendo atendido por lojistas nem sempre simpáticos, quase sempre refratários a trocas de roupas e a fornecimento de notas fiscais, com ou sem CPF. De qualquer forma, as roupas lá encontradas são idênticas àquelas que minha esposa me pede de presente nos shoppings, só que pela metade do preço. Ou seja, há suas vantagens em ir ao Bom Retiro.

Em uma dessas idas ao bairro, descobri que logo no começo da famosa Rua José Paulino, no cruzamento com a pequena Cônego Martins, cinco operários fundaram, sob a luz de lampiões, o Sport Clube Corinthians Paulista. Isso aconteceu em 1º de setembro de 1910, ou seja, há exatos 100 anos. Os pintores de parede Joaquim Ambrósio e Antônio Pereira, o sapateiro Rafael Perrone, o motorista Anselmo Correa e o trabalhador braçal João da Silva, entusiasmados com a passagem pelo país do time inglês Corinthian-Casuals Football Club, decidiram criar um clube com o mesmo nome. Ou quase.


Aos poucos o time foi se tornando popular no bairro e na várzea. A várzea, é bom que se entenda, era a região próxima ao centro de São Paulo, onde Charles Muller promovera as primeiras pelejas em terras brasileiras, em 1895. E onde eram disputadas as partidas não oficiais, já que o campeonato promovido pela Liga Paulista de Futebol era restrito a poucos clubes de elite. Sim, o futebol, hoje esporte de massas, introduziu-se como um esporte de elites, sendo mal-vistas as tentativas de inserção de escretes e torcedores populares. Eis um problema e tanto para o recém-criado Corinthians Paulista: nascido humilde, criado por gente humilde e popularizando-se cada vez mais, precisava fazer-se respeitar em um meio em que não era bem-vindo.

Porém, concomitantemente ao próprio futebol, o Corinthians ganhou terreno, entrou para os campeonatos oficiais e sagrou-se campeão paulista logo em 1914. Um jogador foi fundamental nessa empreitada: Neco, o primeiro grande ídolo corinthiano e um dos primeiros da seleção brasileira. Interessante são as datas relativas a Neco: nasceu em 1895, ano em que o futebol foi trazido ao Brasil por Charles Muller; fez parte do primeiro time do Corinthians, em 1910, onde jogou até encerrar a carreira, em 1930, ano da primeira Copa do Mundo; faleceu em 1977, ano em que o Timão encerrou jejum de 23 anos sem título. Neco foi uma espécie de precursor dos bad boys, briguento e brilhante em campo, sagrando-se campeão paulista em 1914, 16, 22, 23, 24, 28, 29 e 30, sempre pelo Corinthians, além de ter sido campeão sul-americano pela seleção brasileira – na época, um torneio equivalente em importância à Copa do Mundo hoje, em 1919 e 22 (ler “Neco – O Primeiro Ídolo”, de Antônio Roque Citadini, editora Geração Editorial, 2001).

O Corinthians construiu sua sede no Parque São Jorge, deslocando-se do Bom Retiro para o Tatuapé, preservando-se, contudo, em bairro popular. Prosseguiu sua história de glórias, bem como sua torcida, tornada nação de milhões e milhões de apaixonados, com a aura de time do povo, das massas e... do sofrimento. Eis uma sina do corinthiano: sofrer. Não que seja um masoquista, mas, digamos, alguém que recusa as facilidades. Perca ou ganhe, o “jeito corinthiano” de lidar com as batalhas dos gramados é sempre difícil, complicado, inusitado. Logo após as conquistas do brilhante escrete de Cláudio, Luizinho, Gilmar, Baltazar, Roberto Belangero, Dino Sani e tantos outros, o sofrimento foi a marca do jejum de 23 anos sem título, findo com o gol também sofrido de Basílio em 77. Sofrimento que também marcou a queda para a segundona em 2007 e que ainda marca a obsessão pela Libertadores, sucessora da obsessão já curada pelo primeiro Brasileirão, conquistado em 1990. É assim: se não há motivo, o corinthiano inventa um para sofrer com seu time, modo peculiar de demonstrar seu amor pelo alvi-negro mosqueteiro.

As conquistas também não foram poucas. Após o fim do jejum, vários outros paulistas vieram, assim como 4 campeonatos brasileiros, 3 Copas do Brasil e o maior de todos os títulos: o primeiro Mundial de Clubes da FIFA, em 2000. Nesse período, vários ídolos surgiram, como Sócrates, Casagrande, Biro-Biro, Vladimir, Neto, Marcelinho, Rincon, Vampeta, Gamarra, Tevez e Ronaldo. Mas, quem sabe, muitos corinthianos considerem como o maior ídolo de todos um jogador que passou pelo Parque São Jorge sem ganhar título: Rivellino.

Em alguns momentos o Timão revelou sua importância histórica, não apenas no cenário futebolístico, mas, até mesmo, no plano político. A democracia corinthiana do início dos anos 80 é para orgulhar a todos os torcedores e promover o respeito dos adversários, pelo menos naqueles afeitos à democracia como um valor e uma forma ideal de convívio entre verdadeiros cidadãos. Ainda sob a ditadura militar, os jogadores do Timão resolveram que tomariam em conjunto, democraticamente, as decisões relativas ao grupo. Foi uma verdadeira revolução no campo do trabalho e das relações políticas, e um sinal claro que trabalhadores não devem se deixar subjugar pelos interesses exclusivos dos patrões, bem como os cidadãos às determinações que um conjunto de supostos iluminados acreditam ser prerrogativas só deles. Não é à toa que Sócrates, vendido à Fiorentina em 1984, foi criticado pelo técnico daquele time italiano, Ferruccio Valcarregio, que dizia: “Precisamos de um jogador que corra e não que pense”. Mas Sócrates pensava mais do que corria, não deixando de ser inteligentíssimo em campo e estupendo como verdadeiro cidadão, conforme conceito de Augusto Boal: cidadão não é aquele que vive em sociedade, mas aquele que a transforma. E nada melhor do que ser um ídolo de um clube tão popular para influenciar o povo na tarefa de transformar democraticamente a sociedade brasileira.

Enfim, isso é o Corinthians, o campeão dos campeões. Hoje, dia 1º de setembro de 2010, faz 100 anos em que aqueles cinco humildes trabalhadores se juntaram para fundar uma nação. E não há mais como passar pelo Bom Retiro sem que me lembre, com orgulho e com sorriso, apesar do cansaço em acompanhar minha esposa à caça de roupas boas e baratas, daquela reunião ocorrida na esquina da José Paulino com a Cônego Martins.

Parabéns, Corinthians!

JFQ

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MEU CORINTHIANS DE TODOS OS TEMPOS


Tenho 37 anos e me lembro de futebol a partir de 1979. Uma pena, já que não me recordo do fim do jejum em 77. Em compensação, lembro-me razoavelmente bem da conquista do paulistão de 79, também contra a Ponte Preta, quando Palhinha e Sócrates formaram uma dupla infernal.

Isto posto, indico, abaixo, minha lista do time de todos os tempos (o meu tempo), considerando o ano de 1979 como ponto de partida. (JFQ)



1 – Dida

Nome completo: Nelson de Jesus Silva
Posição: Goleiro
Principais títulos pelo Corinthians: campeão paulista de 1999, campeão brasileiro de 1999, campeão da Copa do Brasil de 2002, torneio Rio-São Paulo 2002 e Mundial da FIFA de 2000.

2 – Édson (Abobrão)

Nome completo: Édson Boaro
Posição: Lateral direito
Principais títulos pelo Corinthians: campeão paulista de 1988.

3 – Gamarra

Nome completo: Carlos Gamarra
Posição: Zagueiro
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro de 1998 e campeão paulista de 1999.

4 – Chicão

Nome completo: Anderson Sebastião Cardoso
Posição: Zagueiro
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro da série B de 2008, campeão paulista de 2009 e campeão da Copa do Brasil de 2009.

5 – Rincón

Nome completo: Freddy Eusébio Gustavo Rincón Valencia
Posição: Volante
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro de 1998 e 1999, campeão paulista de 1999 e Mundial da FIFA em 2000.

6 – Wladimir

Nome completo: Wladimir Rodrigues dos Santos
Posição: Lateral esquerdo
Principais títulos pelo Corinthians: campeão paulista de 1977, 79, 82 e 83.

7 – Marcelinho Carioca

Nome completo: Marcelo Pereira Surcin
Posição: Meio-campo
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro de 1998 e 99, campeão paulista de 1995, 97, 99 e 2001, campeão da Copa do Brasil de 1995 e Mundial da FIFA de 2000.

8 – Sócrates

Nome completo: Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira
Posição: Meia-atacante
Principais títulos pelo Corinthians: campeão paulista de 1979, 82 e 83.

9 – Ronaldo

Nome completo: Ronaldo Nazário de Lima
Posição: Atacante
Principais títulos pelo Corinthians: campeão paulista de 2009 e campeão da Copa do Brasil de 2009.

10 – Neto

Nome completo: José Ferreira Neto
Posição: Meio-campo
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro de 1990 e campeão paulista de 1997.

11 – Tevez

Nome completo: Carlos Alberto Tévez
Posição: Atacante
Principais títulos pelo Corinthians: campeão brasileiro de 2005.

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Meus reservas: Ronaldo Giovanelli, Giba, Willian, Amaral, André Santos, Biro-Biro, Vampeta, Ricardinho, Edilson, Zenon e Casagrande. Se fosse possível um terceiro time, colocaria Felipe, Alessandro, Célio Silva, Marcelo, Kleber, Roberto Carlos (apesar do pouco tempo e de já haver um lateral-esquerdo), Zé Elias, Elias, Palhinha, Nilmar e Luizão. Faltou lugar para Silvinho, Vaguinho, Douglas, Viola...

Observações:

1) Lembro-me de Zé Maria, o Super-Zé, mas já em final de carreira, sem o brilho de outras épocas. Lembro-me dele, aliás, como reserva de Alfinete, no time de 1982.

2) Considero Sócrates o melhor jogador que vi no Corinthians.

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CENTENÁRIOS DE PAULISTAS FUNDAMENTAIS



Além do Corinthians, outra “instituição” completou 100 anos em 2010: Adoniran Barbosa. A propósito, um corinthiano da gema. Dá para imaginar a paulicéia desvairada sem Corinthians e sem Adoniran? Bendito seja o ano de 1910, meu!

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FUTEBOL PARA LER

Abaixo, alguns bons livros sobre o Corinthians, dignos de fazerem parte da biblioteca de um corinthiano que se preze.



Corinthians: O Time da Fiel
Orlando Duarte e João Bosco Tureta
(Companhia Editora Nacional, 2008)




Neco – O primeiro ídolo
Antonio Roque Citadini.
(Geração Editorial, 2001)







Alambrado
Antonio Roque Citadini
(Editora Algol, 2010)










A Democracia Corinthiana:
Práticas de liberdade no futebol brasileiro
José Paulo Florenzano
(EDUC, 2009)








Democracia Corintiana: A utopia em jogo
Sócrates e Ricardo Gozzi
(Boitempo Editorial, 2002)




Meu Pequeno Corintiano
Serginho Groisman
(Editora Belas Letras, 2008)

Morreu Varallo, o último remanescente da Copa de 1930

O ex-jogador argentino Francisco Varallo, último remanescente da final da primeira Copa do Mundo da história, disputada em 1930, no Uruguai, morreu nesta segunda-feira (30/08/2010) aos 100 anos de idade, segundo informações divulgadas por familiares.

Varallo, que vivia em uma casa aos arredores de Buenos Aires, era o jogador mais jovem da seleção da Argentina que perdeu na decisão do primeiro Mundial para o Uruguai por 4 a 2, em 30 de julho daquele ano.

"Lembro-me nitidamente daquela final com o Uruguai, foi algo que me marcou para sempre. Foi um jogo duríssimo, em que os uruguaios nos venceram com autoridade. Tínhamos uma grande equipe, mas alguns jogadores amoleceram no segundo tempo e perdemos", disse o ex-jogador quando completou 100 anos, em fevereiro de 2010.

Em 2009, Varallo ganhou os noticiários ao perder para o atacante Martín Palermo o posto de maior artilheiro da história do Boca Juniors da era profissional, iniciada em 1931, com 194 gols.

* Notícia publicada no portal Terra: www.terra.com.br

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Internacional, bicampeão da Libertadores


Considerando a ausência de tradicionais forças sul-americanas como o Olímpia, o River Plate e sobretudo o Boca Juniors, dizia-se desde o princípio da Libertadores 2010 que o campeão seria um brasileiro. O problema era adivinhar qual.

O Corinthians, pela “obrigação” do centenário e de nunca ter levantado a taça, o São Paulo, “rato de Libertadores”, e o Flamengo, campeão brasileiro, eram os mais visados quando se falava em favoritos. Cruzeiro e Internacional, apesar de sérios candidatos, eram vistos um tanto quanto como patinhos feios dentre os brasileiros. Eis que, ontem, surgiu um belo cisne colorado: Internacional, bicampeão da Libertadores, com todos os méritos.

O Inter já vinha mostrando força em 2009, quando conquistou o vice da Copa do Brasil e o vice do Brasileirão – uma lição para quem vive apregoando que vice é sinônimo de nada. A conquista de ontem, ademais, vem a reboque de outras conquistas internacionais, com o perdão do trocadilho, do Internacional. Aliás, o Colorado parece ter se especializado em títulos fora nestes anos 2000, no mesmo período em que não consegue a mesma façanha em âmbito nacional: campeão da Libertadores em 2006 e 2010, campeão da Recopa Sul-Americana de 2007 e da Copa Sul-Americana de 2008. Outra conquista internacional neste período foi a Copa Dubai 2008, um torneio de menor importância, mas simbolicamente relevante pelo adversário batido na final: 2x1 sobre Internazionale, possível adversário no próximo Mundial da Fifa, em Abu Dabi.

Em casa, o maior título do Inter é poder dizer que é bi da Libertadores, além de campeão mundial e quiçá bi daqui a poucos meses. Ou seja, no mínimo, está empatado com seu arquirrival, o Grêmio, nos principais títulos que um clube pode conquistar no mundo do futebol.

A campanha do Internacional nesta Libertadores foi marcada pelos altos e baixos, pela superação e por algumas revelações. Desde o começo, o time então preparado por Jorge Fossati já estruturava o meio-campo com dois volantes de qualidade inquestionável: Sandro e Guiñazu. Na zaga, os velhos conhecidos Bolívar e Índio, às vezes Sorondo, mantinham a boa defesa, também com a participação dos laterais Kleber e Nei. D’Alessandro – salvo os momentos em que o temperamento instável prejudicava – coordenou bem a ligação do meio para a frente, por vezes auxiliado ou substituído pelo também competente Andrezinho. O problema mais evidente foram os extremos: o gol e o ataque.

No gol, o questionável veterano Clemer deu lugar ao mais jovem, mas não menos questionável Lauro. A contratação de Abbondanzieri, conhecido do Boca Juniors e da seleção argentina, pareceu, enfim, acabar com a impressão de que faltava um goleiro à altura do time Colorado. Porém, as falhas do argentino fizeram com que Renan, repatriado da Espanha, tornasse o titular nos últimos jogos, em que pese também ser alvo de críticas por protagonizar também algumas falhas.

No ataque, as saídas de Fernandão e Nilmar, e a caída de qualidade do futebol de Tyson, fizeram o Inter diminuir seu ímpeto ofensivo. Às portas do recesso para a Copa do Mundo, apesar da classificação heroica contra o Banfield e homérica contra o Estudiantes, ambos da Argentina, a sensação do torcedor colorado era de que o time estava tirando leite de pedra. O descontentamento era tanto que o técnico Fossatti foi demitido e, no período da Copa – como fez bem ao Inter esse recesso! – a diretoria contratou Celso Roth, que, provou-se no final, arrumou o time.

Tyson voltou a jogar bem, Alecsandro tornou a ser o matador de antes, Giuliano – guardem esse nome, quiçá em convocações futuras da seleção brasileira – passou a mostrar que não é apenas um “amuleto”, mas um jovem e promissor talento. Além disso, as contratações de Rafael Sobis e Tinga, heróis da primeira Libertadores, deram ainda mais força ao Internacional rumo ao bi.

Se o Colorado chegara às semifinais, embora com bravura, aos trancos e barrancos, chegou soberano para as partidas contra o São Paulo e Chivas. Contra o tricolor paulista, é bom que se diga, a queda do adversário ajudou sobremaneira. Contra o Chivas, apesar das bobeadas – o Inter começou perdendo nas duas partidas –, as duas vitórias fizeram do Sport Club Internacional o incontestável campeão da Libertadores de 2010. Mais: bicampeão, tal qual o Santos, o Cruzeiro e... o Grêmio.

Parabéns, Internacional!

JFQ

A boa estreia da seleção de Mano Menezes


A nova seleção brasileira, sob a batuta de Mano Menezes, estreou muito bem. Venceu e convenceu nos 2 a 0 contra a boa seleção dos Estados Unidos, em terras de Tio Sam. Abaixo, artigos de Paulo Vinícius Coelho e Tostão sobre a partida, publicados na Folha de S.Paulo de 11/08/2010.

JFQ

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A volta do drible
Paulo Vinicius Coelho

O DRIBLE REESTREOU na seleção brasileira aos 23 minutos do primeiro tempo, em Nova Jersey. Foi quando Neymar carregou a bola pela ponta esquerda e levou-a até a linha de fundo. O lateral Spector colou nele e quase deslocou sua coluna, quando Neymar freou, puxou do pé esquerdo para o pé direito e seguiu livre em direção à grande área.

O noticiário da semana tratou da estreia de Mano Menezes. O jogo serviu para lembrar que o EUA x Brasil de agosto de 2010 ficará na história pela primeira vez de Neymar, de Ganso, de David Luiz. E, depois de alguns anos, a primeira vez do drible.

É possível, com certa dose de exagero, dizer que o último drible vestiu-se de amarelo em Maturín, na Venezuela, durante a Copa América de 2007, em que Robinho entortou três zagueiros do Chile e fez um golaço. Daquele dia, Robinho lembrou-se do lado do campo ao qual raras vezes esteve habituado. Ele prefere a esquerda, jogou pela direita, como tem feito no Santos, para permitir a Neymar atuar em seu lado predileto.

Mas o reencontro do Brasil com o gol, 38 dias após a derrota para a Holanda na Copa do Mundo, ocorreu quando Robinho e Neymar inverteram posições. Robinho começou o lance pela esquerda, e Neymar aproveitou cruzamento de André Santos para marcar 1 a 0.

Ainda havia tempo para o segundo gol começar numa freada de Ganso, que deixou o marcador passar, rolou para Ramires e deste para o artilheiro Pato.

Neymar foi o melhor em campo, Pato teve grande atuação, Robinho viveu uma de suas boas atuações desde que voltou da Inglaterra, Ganso, o mais discreto, cadenciou o jogo e chutou um bola na trave. Sem esquecer a segurança de David Luiz.

Mas há destaques coletivos, como o avanço dos volantes, fosse para ajudar na organização, fosse para desarmar os adversários bem perto da grande área americana, como fizeram Lucas e Ramires. Com 2 a 0 a favor, o Brasil seguiu trocando passes e trabalhando a bola no campo de ataque. Não recuou, não pediu o contra-ataque. Fez o que Mano disse em sua primeira entrevista coletiva: jogou à brasileira, com a bola no pé.

A primeira seleção de Mano Menezes está aprovada. Mas vale dizer que tudo isso aconteceu com um mês de atraso ou quatro anos de antecedência. O próximo passo, então, é lembrar que a geração de Ganso, Neymar, Pato, David Luiz e Mano Menezes não será sucesso vencendo amistosos como o de ontem. Serão lembrados pelo que fizerem em 2014.

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Esse time vai longe
Tostão

 
O INTERNACIONAL ENFRENTA hoje o Chivas, do México, um time superior ao São Paulo. Fora de casa, o Inter precisa ter mais a posse de bola, que não teve no Morumbi. Não dá para apontar um favorito ao título da Libertadores.

Não foi somente o futebol brasileiro que mudou, para pior, nos últimos tempos. Mudou também o olhar da imprensa. A partida entre Inter e São Paulo, no Morumbi, é um bom exemplo disso.

O São Paulo jogou com muita vibração, mas sem trocar três passes. Fez dois gols por acaso, um em uma falha do goleiro e outro em um chute errado, com a bola caindo nos pés do companheiro.

Com exceção de alguns lances individuais de Hernanes, o São Paulo só deu chutões e cruzou para a área, para se livrar da bola. O Inter tentou trocar passes, como costuma fazer, sem conseguir.

Mesmo assim, o jogo foi bastante elogiado pelo narrador Cléber Machado, pelos comentaristas Caio e Falcão, todos da TV Globo, e em muitos programas esportivos. Jogo vibrante, mesmo feio e ruim, virou jogo sensacional. A cada dia, a imprensa se contenta com menos.

Por outro lado, mesmo com ótimos jogadores, as partidas excessivamente técnicas, táticas e com muitos passes curtos e para os lados, como vimos na Copa do Mundo da África do Sul, tornam-se chatas.

É preciso unir o talento e a estratégia com a emoção.

O futebol brasileiro precisa mudar o estilo.

Mano Menezes começou a fazer isso na seleção, aproveitando o talento e o entrosamento de Paulo Henrique Ganso, Neymar e Robinho.

Foi a volta da posse de bola, da troca de passes em direção ao gol, dos dribles, dos dois volantes jogando no meio-campo e do encanto.

Contra a seleção dos Estados Unidos, no amistoso da noite de ontem, o Brasil teve uma atuação excepcional, muito melhor do que se esperava.

Todos jogaram bem, principalmente Ganso e Neymar, as duas grandes esperanças do futebol brasileiro. Esse time vai longe.

É preciso manter e repetir essa maneira de jogar, como fez a Espanha, mesmo que os resultados nos próximos anos sejam inferiores aos da seleção, antes da Copa, com Dunga.

Não podemos nos esquecer também que o time brasileiro teve, com Dunga, em outro estilo, também algumas excelentes atuações e vitórias.

Se a seleção atual continuar bem, os treinadores, jogadores e times brasileiros serão estimulados a mudar seus estilos. A imprensa terá também de ter um novo olhar sobre o futebol e parar de achar que jogo vibrante, mesmo feio e ruim, é sensacional.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Deco, novo reforço do Fluminense


Não bastasse ser o líder do campeonato brasileiro, o Fluminense não para de buscar reforços. O clube apresentou hoje, dia 9 de agosto de 2010, Deco como novo jogador do time. Após passagens pelo Porto, pelo Barcelona, pelo Chelsea e pela seleção de Portugal, o brasileiro naturalizado português junta-se a Fred, Conca, Washington, Emerson e demais comandados por Muricy Ramalho.

Passado o período em que o Tricolor das Laranjeiras notabilizou-se por revelar jogadores – por exemplo, Thiago Neves, Tiago Silva, Wellington Silva, Marcelo –, a fase agora é das contratações de peso. De imediato, a estratégia parece positiva, como o prova a liderança no Brasileirão.

Deco, que tem 32 anos, assinou contrato com o Fluminense por dois anos. De acordo com o preparador físico do Flu, Ronaldo Torres, há chances de o jogador fazer sua estreia no clássico com o Vasco, dia 22 de agosto.

JFQ

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Após eliminação, Ricardo Gomes não é mais técnico do São Paulo


A diretoria do São Paulo Futebol Clube decidiu não permanecer com Ricardo Gomes no comando do time após a eliminação da Libertadores para o Internacional. O contrato de Gomes ia até o término da participação são-paulina no torneio sul-americano. A bem da verdade, o treinador já andava na corda bamba havia algum tempo e sua saída era esperada.

Segundo comentários que circularam pelos meios de comunicação, Dunga é sério candidato à vaga.

A conferir.

JFQ

Brio



São Paulo 2x1 Internacional (semifinal da Libertadores)

Um jogaço. Foi o que se viu ontem, no Morumbi, entre São Paulo e Internacional. Disputa histórica, digna de menção por muitos e muitos anos. Não era para menos: valia vaga para a final da Libertadores e para o Mundial de Clubes da FIFA.

O que tornou a partida brilhante não foram os lances de técnica apurada, jogadas de puro futebol-arte ou coisa do tipo, mas o brio com que os jogadores do Tricolor e do Colorado abraçaram a disputa. Tinga parecia um leão, correndo por todos os cantos, marcando implacavelmente, arriscando-se à frente, a ponto de exagerar e ser expulso com dois merecidos cartões amarelos. Rogério Ceni defendeu perigoso chute de Tyson, exerceu sua liderança, motivando os companheiros desde antes até o último instante de jogo, a ponto de exagerar e cometer falta no que seria a última oportunidade são-paulina de classificação, indo às lágrimas. Os exageros de Tinga e Ceni, porém, não diminuem em nada a grandeza desses jogadores em campos.

Hernanes e Sandro, cada qual a seu modo, com seu estilo e com objetivos diferentes na partida – um deveria mais criar que destruir, o outro, o inverso – provaram que Mano Menezes acertou em convocá-los para a seleção. Guiñazu e Alex Silva revelaram-se xerifes implacáveis, no bom sentido, sem apelarem para a violência. Dagoberto e Alecsandro também foram perigosos no ataque, em que pese a competência do adversário em marcá-los. Até mesmo os que entraram, como Giuliano e Marlos, fizeram de tudo nos poucos minutos jogados.

Enfim, todos os que estiveram em campo ontem merecem os parabéns pela ótima partida, pelas emoções proporcionadas. O Internacional, além disso, merece os parabéns pela classificação, obtida, sobretudo, no primeiro jogo, quando foi muito superior ao São Paulo. Se no Morumbi as duas equipes demonstraram imensa vontade de vencer, no Beira Rio, isso só ocorreu com o Colorado.

Em uma partida em que, além da vontade de vencer, a disciplina tática foi o forte – Ricardo Gomes armou o São Paulo mais resguardado no meio, com Cleber Santana e Rodrigo Souto, para proteger os três atacantes: Fernandão, Ricardo Oliveira e Dagoberto; Celso Roth montou um paredão quase intransponível sob o comando de Tinga, Guiñazu e Sandro –, não foi surpresa que os gols saíssem em falhas do adversário. No primeiro do Tricolor, o goleiro Renan titubeou entre socar e agarrar a bola, que estourou em seu peito e sobrou para Alex Silva marcar de cabeça. No gol de empate, a cobrança de falta de D’Alessandro encontrou Alecsandro desmarcado para desviar de calcanhar. Logo em seguida, o lateral colorado Nei demorou para sair, dando condições a Ricardo Oliveira para chutar à queima-roupa.

E foi só. Ou melhor: foi um jogaço disputado por dois times briosos que fizeram por merecer uma disputa tão importante e empolgante.

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Lágrimas de Rogério Ceni


Apesar da “síndrome de Marcos” que acometeu Rogério Ceni no último lance da partida, o goleiro são-paulino mostrou por que é e será sempre ídolo da torcida tricolor. Desde a derrota no Beira Rio, Ceni buscou levantar o astral dos companheiros, motivando-os, afirmando que a classificação era possível. Em campo, foi o gigante de sempre. O choro ao final da partida pode parecer falso, “lágrimas de crocodilo”, especialmente a quem torce por algum arquirrival do São Paulo. Ou, também, para aqueles que acreditam que as conquistas do passado são suficientes; afinal, por que choraria um jogador tão consagrado, que já venceu Libertadores e Mundial, inclusive foi eleito o melhor deste torneio?

Talvez porque Rogério, como outros grandes ídolos veteranos que, apesar das críticas, persistem em continuar jogando pelo prazer de exercer a profissão que dez entre dez garotos gostariam de exercer e dez entre dez marmanjos lamentam não ter tido o talento e, quiçá, a sorte de terem exercido. Além disso, Ceni revela amor pela camisa que veste, algo tão raro atualmente. Eis o encanto do futebol, muito além do dinheiro e da fama que também proporciona.

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“Foi bonito”


“Foi bonito”, era a frase de Hernanes – o profeta, na brincadeira de Tiago Leifert – aos jornalistas para resumir a partida. Apesar da eliminação, apesar de não ter conquistado a Libertadores e o Mundial, com o semblante triste, Hernandes, ainda assim, definiu singelamente o jogo como “bonito”, espetáculo agradável a quem assistiu. Eis uma boa definição, se bem que um tanto insuficiente, para sua brilhante passagem pelo clube do Morumbi.

Hernanes fez ontem sua última partida pelo São Paulo. Vai para a Lazio, da Itália. Uma vitória com sabor de derrota, já que o Tricolor foi eliminado. No entanto, além da convocação para a seleção brasileira – o que deveria ter acontecido antes, para a Copa da África do Sul –, Hernanes leva o respeito, a gratidão e a saudade da torcida são-paulina. Afora Rogério Ceni, um ídolo para todos os tempos, Hernanes foi o grande nome são-paulino nos últimos anos, na era do tricampeonato brasileiro. Jogador de técnica apurada, que sabe marcar, armar e atacar, chuta muito bem, forte e com as duas pernas, Hernanes entra em uma nova fase de sua carreira, jogando pela Lazio e pela seleção brasileira. E, certamente, não será esquecido pela torcida do São Paulo.

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O Mundial dos Internacionais


O Internacional enfrentará o Chivas Guadalajara pelas finais da Libertadores. Mas, além desse confronto, já pode ir pensando em outro, possível de acontecer em dezembro: o confronto contra a Internazionale, de Milão. Aliás, em um torneio realizado há poucos anos, o Inter brasileiro venceu a Inter italiana, o que não prenuncia nova vitória, mas mostra que o bicho pode não ser tão feio assim. Para que o confronto entre os Internacionais ocorra em Abu Dhabi, contudo, tanto o colorado porto-alegrense como o xará milanês devem passar por um adversário prévio. Caso isso aconteça – o que é bem provável –, veremos uma bela partida entre Júlio César, Lúcio, Maicon, Schneijder, de um lado, Guiñazu, D’Alessandro, Tinga, de outro. Pena que Sandro já terá ido para o Tottheinham, da Inglaterra.

JFQ

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Meninos Campeões



Mesmo com a derrota por 2 a 1 para o Vitória, sob chuva e sobre lama – o que, a bem da verdade, não impediu que a partida fosse bastante movimentada, cheia de emoções e com resultado justo –, os meninos da Vila levantaram a segunda taça neste ano. Para quem exige títulos para avalizar a qualidade técnica desses jogadores e a capacidade desta equipe comandada por Dorival Junior fazer história, ei-los: Santos, campeão paulista e campeão da Copa do Brasil de 2010. Vale lembrar, com o título de ontem, o Peixe está garantido na Libertadores de 2011, torneio do qual não participa desde 2005.

O problema agora é evitar o desmanche. Apesar do discurso do presidente santista Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro de que o clube não permitirá a fuga em massa dos seus craques, o fato é que o desmanche já começou. Robinho volta ao Manchester City, André vai para o Dínamo de Kiev – infelizmente, pois a Ucrânia costuma “esconder jogadores” –, Neymar tem proposta concreta do Chelsea e já se cogita a transferência do genial Paulo Henrique Ganso para o Real Madrid. Diante de tamanha pressão, quiçá incontível, já é uma vantagem a compra de Arouca, em definitivo, do São Paulo. A propósito, Arouca também foi uma grande revelação deste Santos, retornando ao bom futebol dos tempos de Fluminense, gabaritando-se também a uma chance na seleção brasileira de Mano Menezes.

Parabéns ao Vitória pela belíssima campanha na Copa do Brasil, com destaque ao habilidoso Elkeson, o goleador Junior e o veterano Ramón. Mas, como já previsto, era muito difícil superar esse Santos que vem encantando em 2010.

O Santos de 2010 pode ser visto como a terceira geração de “meninos da Vila” pós-Pelé. Após a geração de Pita, João Paulo e Juary, a geração de Diego, Robinho, Léo, Alex, Renato e Elano, essa geração de Neymar, Ganso, Wesley e André também fez história e alguns dos seus protagonistas também devem figurar como expoentes da seleção brasileira, logo, logo.

Parabéns, Santos! Campeão da Copa do Brasil de 2010!

JFQ

Chivas na final, brasileiro no Mundial

O Chivas Guadalajara venceu o Universidad Chile por 2 a 0 e garantiu vaga na final da Libertadores 2010. O time mexicano, que entrou já nas oitavas por conta da saída abrupta no ano passado, decorrente da epidemia de gripe suína, mostrou a força do México uma vez mais. Vale lembrar, os times mexicanos costumam aprontar na Libertadores. Que o digam o Flamengo, eliminado em 2008 num surpreendente 3 a 0 para o América, do paraguaio Cabañas, em pleno Maracanã, e o Boca Juniors, que conquistou o título de 2001 sobre o Cruz Azul apenas nos pênaltis, após perder a partida por 1 a 0, em pleno La Bombonera.

Em suma, a classificação do Chivas não é surpresa, como também não será zebra caso conquiste o título inédito. Mas aí é que está o absurdo da história: como os times mexicanos são apenas convidados na Libertadores, disputando vaga no Mundial apenas pela Concacaf, mesmo que o Chivas garanta o título, não irá ao Mundial de Clubes da Fifa no final do ano. Ou seja, o classificado será o vice, no caso, justamente o São Paulo ou o Internacional. Bom para os times brasileiros, ruim para o futebol. Ou será que todos os que disputam um campeonato não podem pleitear sua conquista e, assim o fazendo, não conquistam também a vaga no Mundial a que tem direito o campeão?

Pergunta: será que a UEFA permitiria que clubes de fora da Europa disputassem a Liga dos Campeões? Duvido.

A melhor saída talvez seja juntar os torneios da Concacaf e da Conmebol em um único campeonato do continente americano. Por exemplo, um quadrangular final com os dois primeiros de um e os dois primeiros do outro torneio. Não seria interessante uma disputa entre clubes brasileiros, europeus, mexicanos, norte-americanos? Quanto a este, há que se destacar o novo impulso da Liga Americana, que busca craques consagrados – ainda que em fim de carreira – como chamarizes: Beckham no Los Angeles Galaxy e Henry no Red Bulls são exemplos.

O que não dá é premiar o vice com um direito previsto ao campeão.

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Futebol, eleições e concessão pública

Muito estranho o agendamento da partida entre São Paulo e Internacional para hoje, quinta-feira. Sim, Santos e Vitória faziam a finalíssima da Copa do Brasil ontem e conflitaria com a semifinal brasileira da Libertadores. Não obstante, foi justamente o que ocorreu na quarta-feira da semana passada, quando os jogos da Copa do Brasil e da Libertadores aconteceram concomitantemente.

Há uma outra possibilidade, talvez mais plausível, para explicar o agendamento. Também hoje, às 22 horas, a Band vai transmitir o primeiro debate entre os candidatos à Presidência

Segundo o portal Adtv, a Confederação Sul-Americana (Conmebol), no dia 16 de julho, anunciou a transferência da data da partida entre São Paulo e Inter do dia 4 (quarta-feira) para o dia 5 (quinta-feira) de agosto. Coincidentemente (será?), nessa oportunidade o debate já havia sido agendado. A pergunta que não quer calar: teria a Globo interferido para que a data da partida fosse transferida?

Ainda de acordo com o Portal Adtv, Luis Artur Nogueira, da Revista Exame, apontou que se todos os torcedores do São Paulo e do Internacional quiserem assistir ao jogo, o debate da Band poderá perder, em tese, a audiência de 21,6 milhões de pessoas (ou 11,2% dos torcedores a partir de 10 anos de idade), segundo pesquisa do Ibope divulgada em junho deste ano (16,8 milhões de tricolores e 4,8 milhões de colorados).

Em suma, perdem os torcedores-cidadãos, que precisam renunciar ao debate para assistirem ao jogo, perdem os cidadãos-torcedores, que deixam as emoções da disputa futebolística para conhecer as idéias de Dilma, Serra e Marina para o país. E perdemos todos com a exclusiva lógica comercial que motiva a Globo, no comando de um meio de comunicação que, pela Constituição e pela lei, é uma concessão pública. Em suma, deve seguir um interesse público. No entanto, público, público, negócios à parte... e acima.

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Novidades no Estatuto do Torcedor

A Lei Federal 10671, de 15 de maio de 2003, mais conhecida como Estatuto do Torcedor, recebeu alguns aperfeiçoamentos pela Lei Federal 12299, recém promulgada. Pelo menos, na concepção da maioria dos entendidos. A responsabilização das torcidas organizadas pelo mau comportamento de seus associados, a punição aos árbitros que manipulam resultados e dos cambistas, por exemplo, são, sim, bons adendos à lei original. Todavia, há que se fazer a consagrada ponderação a toda lei promulgada no Brasil: será que vai pegar? É sempre bom lembrar: lei, por si, não passa de um monte de palavras escritas em algum lugar. Fazer com que essas palavras sejam cumpridas na realidade envolve muito mais esforço, organização, inteligência e vontade do que simplesmente colocá-las no papel. A conferir.


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Abaixo, o link para o Estatuto do Torcedor:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/2003/L10.671.htm

É preciso romper com o paradigma 94


Em entrevista ao programa “Bem Amigos”, de Galvão Bueno, Mano Menezes fez uma declaração que deixou otimistas aqueles desejosos pelo resgate do melhor futebol brasileiro. Disse o técnico da seleção que o Brasil precisa deixar de ser coadjuvante, de copiar modelos de fora. Isso, ressalte-se, pensando no resultado, não na “mera” beleza do jogo. E completou: no caso, essa busca de fora também está desatualizada, já que várias seleções – como a própria Espanha, campeã na África do Sul – jogam um futebol muito mais parecido com o nosso tradicional: muito toque, para cima, ofensivamente, apostando no talento dos jogadores. Mano crê que a necessidade do Brasil vencer em 1994, após 24 de jejum, fez com que copiássemos um modelo que não era nosso, muito mais preocupado com o lado defensivo, de não tomar gols. No entanto, após a vitória, continuamos a propagar o modelo, enquanto o mundo, aos poucos, retomava nosso antigo paradigma. Culminou em 2010 com uma Espanha e uma Alemanha jogando, mutatis mutandis, à brasileira, e um Brasil jogando à alemã. É preciso voltar ao nosso ponto de origem, ao nosso melhor futebol. Não para fazermos bonito – “apenas” –, mas para voltarmos a ganhar!

Boa interpretação a de Mano, no meu modesto entendimento. Compartilho dela cem por cento. O problema para mim é a ausência de bons jogadores veteranos para uma mescla com as revelações. Enquanto a Argentina, a Alemanha, a Holanda e a Espanha, por exemplo, têm um horizonte para 2014 que comporta a permanência de alguns dos seus principais jogadores de 2010, no caso do Brasil (e da Itália também), a seleção de 2014 será quase que totalmente formada por jovens jogadores. Sim, há um lado positivo nisso. Mas a presença de uns três ou quatro “veteranos” em condições de jogar um Mundial seria muito importante para a montagem de uma equipe, digamos, ideal.

Outro detalhe. Além de resgatar nosso melhor futebol, de buscar no paradigma espanhol as nossas próprias origens, o Brasil precisa reintroduzir algo que ele está a anos-luz na frente dos demais: o drible. Isso nem a Espanha tem. O toque rápido, coletivamente bem organizado, precisa também conter a individualidade, o arrojo de um Neymar, um Robinho, por exemplo. Sem firulas desnecessárias, mas sem podar o talento desses artistas.

Proponho uma metáfora para um novo paradigma: mirar-se na seleção de 1982 com os aprendizados defensivos das campeãs de 1994 e 2002. Mas, por favor, dispensemos a dupla de volantes brucutus. Já que pensamos em resultados, lembremos que a Holanda de Van Bommel e De Jong perdeu e a Espanha de Busquets e Xabi Alonso venceu (para não citar a Alemanha de Schweinsteiger e Khedira). Além disso, na Holanda os laterais ficavam atrás (Van Bronkhorst e Van Der Wiel), enquanto os laterais espanhóis apoiavam bastante (Sérgio Ramos e Capdevilla). Em suma, também é necessário fazer uma boa crítica ao consagrado esquema 4-2-3-1, que sugere maior liberdade apenas do meio para frente. Ou, tratando-se do “país do futebol”, o bom mesmo é construirmos nossas próprias referências a partir das nossas melhores qualidades, sem precisar copiar nada de fora. Já fizemos isso e nos demos muito bem.

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Clássicos regionais equilibrados


A última rodada do campeonato brasileiro foi marcada pelos chamados clássicos regionais que, via de regra, terminaram empatados. Apenas o Cruzeiro conseguiu vencer: 1x0 sobre o Galo, com um golaço de Wellington Paulista, de fora da área. O Atlético Mineiro, que, no papel, prometia ser um dos principais postulantes ao título deste ano – sob o comando de Vanderley Luxemburgo e com um bom elenco –, concentra suas forças em sair da incômoda zona de rebaixamento, estando hoje na penúltima colocação na tabela (10 pontos em 12 jogos: 2 vitórias, 2 empates e 8 derrotas!).

Nos demais clássicos regionais, empates: Palmeiras 1x1 Corinthians; Internacional 0x0 Grêmio; Flamengo 0x0 Vasco. Muito equilíbrio e muito respeito mútuo também. Até em excesso.

Quem se deu bem foi o Fluminense de Muricy. Na reestréia de Washington, que marcou dois gols e deu a assistência para outro, o tricolor das Laranjeiras cravou 3x1 no Atlético Paranaense e tomou a primeira colocação do campeonato. O Flu, para mim, é o favorito ao título, em que pese – é sempre bom lembrar! – que falta muito campeonato pela frente. Tem um bom elenco, motivado – especialmente o “renascido” Washington –, e um técnico competentíssimo e mordido pela perda do cargo na seleção brasileira e pelo fracasso com o Palmeiras no ano passado. Ou seja, Muricy, mais que ninguém, almeja o título brasileiro para mostrar o valor do seu trabalho.

No mais, o Brasileirão vai por um pouco por inércia. Inclusive, os goianos a perderem seus representantes no principal torneio nacional.

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A queda

O Atlético Mineiro tem a companhia do Grêmio como “grandes” na zona de rebaixamento. O Vasco, depois da chegada de PC Gusmão, conseguiu uma ligeira escapada. Todos esses, aliás, já passaram pelas agruras da queda, devendo brigar com todas as forças para não repetir a experiência. Não apenas grandes clubes, mas também grandes técnicos como Luxemburgo e Leão, passam por maus momentos. No caso deles, porém, há quem pense que o momento pode até ser benéfico para recuperar um pouco da humildade perdida, se é que já existiu.

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