Considerando a ausência de tradicionais forças sul-americanas como o Olímpia, o River Plate e sobretudo o Boca Juniors, dizia-se desde o princípio da Libertadores 2010 que o campeão seria um brasileiro. O problema era adivinhar qual.
O Corinthians, pela “obrigação” do centenário e de nunca ter levantado a taça, o São Paulo, “rato de Libertadores”, e o Flamengo, campeão brasileiro, eram os mais visados quando se falava em favoritos. Cruzeiro e Internacional, apesar de sérios candidatos, eram vistos um tanto quanto como patinhos feios dentre os brasileiros. Eis que, ontem, surgiu um belo cisne colorado: Internacional, bicampeão da Libertadores, com todos os méritos.
O Inter já vinha mostrando força em 2009, quando conquistou o vice da Copa do Brasil e o vice do Brasileirão – uma lição para quem vive apregoando que vice é sinônimo de nada. A conquista de ontem, ademais, vem a reboque de outras conquistas internacionais, com o perdão do trocadilho, do Internacional. Aliás, o Colorado parece ter se especializado em títulos fora nestes anos 2000, no mesmo período em que não consegue a mesma façanha em âmbito nacional: campeão da Libertadores em 2006 e 2010, campeão da Recopa Sul-Americana de 2007 e da Copa Sul-Americana de 2008. Outra conquista internacional neste período foi a Copa Dubai 2008, um torneio de menor importância, mas simbolicamente relevante pelo adversário batido na final: 2x1 sobre Internazionale, possível adversário no próximo Mundial da Fifa, em Abu Dabi.
Em casa, o maior título do Inter é poder dizer que é bi da Libertadores, além de campeão mundial e quiçá bi daqui a poucos meses. Ou seja, no mínimo, está empatado com seu arquirrival, o Grêmio, nos principais títulos que um clube pode conquistar no mundo do futebol.
A campanha do Internacional nesta Libertadores foi marcada pelos altos e baixos, pela superação e por algumas revelações. Desde o começo, o time então preparado por Jorge Fossati já estruturava o meio-campo com dois volantes de qualidade inquestionável: Sandro e Guiñazu. Na zaga, os velhos conhecidos Bolívar e Índio, às vezes Sorondo, mantinham a boa defesa, também com a participação dos laterais Kleber e Nei. D’Alessandro – salvo os momentos em que o temperamento instável prejudicava – coordenou bem a ligação do meio para a frente, por vezes auxiliado ou substituído pelo também competente Andrezinho. O problema mais evidente foram os extremos: o gol e o ataque.
No gol, o questionável veterano Clemer deu lugar ao mais jovem, mas não menos questionável Lauro. A contratação de Abbondanzieri, conhecido do Boca Juniors e da seleção argentina, pareceu, enfim, acabar com a impressão de que faltava um goleiro à altura do time Colorado. Porém, as falhas do argentino fizeram com que Renan, repatriado da Espanha, tornasse o titular nos últimos jogos, em que pese também ser alvo de críticas por protagonizar também algumas falhas.
No ataque, as saídas de Fernandão e Nilmar, e a caída de qualidade do futebol de Tyson, fizeram o Inter diminuir seu ímpeto ofensivo. Às portas do recesso para a Copa do Mundo, apesar da classificação heroica contra o Banfield e homérica contra o Estudiantes, ambos da Argentina, a sensação do torcedor colorado era de que o time estava tirando leite de pedra. O descontentamento era tanto que o técnico Fossatti foi demitido e, no período da Copa – como fez bem ao Inter esse recesso! – a diretoria contratou Celso Roth, que, provou-se no final, arrumou o time.
Tyson voltou a jogar bem, Alecsandro tornou a ser o matador de antes, Giuliano – guardem esse nome, quiçá em convocações futuras da seleção brasileira – passou a mostrar que não é apenas um “amuleto”, mas um jovem e promissor talento. Além disso, as contratações de Rafael Sobis e Tinga, heróis da primeira Libertadores, deram ainda mais força ao Internacional rumo ao bi.
Se o Colorado chegara às semifinais, embora com bravura, aos trancos e barrancos, chegou soberano para as partidas contra o São Paulo e Chivas. Contra o tricolor paulista, é bom que se diga, a queda do adversário ajudou sobremaneira. Contra o Chivas, apesar das bobeadas – o Inter começou perdendo nas duas partidas –, as duas vitórias fizeram do Sport Club Internacional o incontestável campeão da Libertadores de 2010. Mais: bicampeão, tal qual o Santos, o Cruzeiro e... o Grêmio.
Parabéns, Internacional!
JFQ
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