São Paulo 2x1 Internacional (semifinal da Libertadores)
Um jogaço. Foi o que se viu ontem, no Morumbi, entre São Paulo e Internacional. Disputa histórica, digna de menção por muitos e muitos anos. Não era para menos: valia vaga para a final da Libertadores e para o Mundial de Clubes da FIFA.
O que tornou a partida brilhante não foram os lances de técnica apurada, jogadas de puro futebol-arte ou coisa do tipo, mas o brio com que os jogadores do Tricolor e do Colorado abraçaram a disputa. Tinga parecia um leão, correndo por todos os cantos, marcando implacavelmente, arriscando-se à frente, a ponto de exagerar e ser expulso com dois merecidos cartões amarelos. Rogério Ceni defendeu perigoso chute de Tyson, exerceu sua liderança, motivando os companheiros desde antes até o último instante de jogo, a ponto de exagerar e cometer falta no que seria a última oportunidade são-paulina de classificação, indo às lágrimas. Os exageros de Tinga e Ceni, porém, não diminuem em nada a grandeza desses jogadores em campos.
Hernanes e Sandro, cada qual a seu modo, com seu estilo e com objetivos diferentes na partida – um deveria mais criar que destruir, o outro, o inverso – provaram que Mano Menezes acertou em convocá-los para a seleção. Guiñazu e Alex Silva revelaram-se xerifes implacáveis, no bom sentido, sem apelarem para a violência. Dagoberto e Alecsandro também foram perigosos no ataque, em que pese a competência do adversário em marcá-los. Até mesmo os que entraram, como Giuliano e Marlos, fizeram de tudo nos poucos minutos jogados.
Enfim, todos os que estiveram em campo ontem merecem os parabéns pela ótima partida, pelas emoções proporcionadas. O Internacional, além disso, merece os parabéns pela classificação, obtida, sobretudo, no primeiro jogo, quando foi muito superior ao São Paulo. Se no Morumbi as duas equipes demonstraram imensa vontade de vencer, no Beira Rio, isso só ocorreu com o Colorado.
Em uma partida em que, além da vontade de vencer, a disciplina tática foi o forte – Ricardo Gomes armou o São Paulo mais resguardado no meio, com Cleber Santana e Rodrigo Souto, para proteger os três atacantes: Fernandão, Ricardo Oliveira e Dagoberto; Celso Roth montou um paredão quase intransponível sob o comando de Tinga, Guiñazu e Sandro –, não foi surpresa que os gols saíssem em falhas do adversário. No primeiro do Tricolor, o goleiro Renan titubeou entre socar e agarrar a bola, que estourou em seu peito e sobrou para Alex Silva marcar de cabeça. No gol de empate, a cobrança de falta de D’Alessandro encontrou Alecsandro desmarcado para desviar de calcanhar. Logo em seguida, o lateral colorado Nei demorou para sair, dando condições a Ricardo Oliveira para chutar à queima-roupa.
E foi só. Ou melhor: foi um jogaço disputado por dois times briosos que fizeram por merecer uma disputa tão importante e empolgante.
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Lágrimas de Rogério Ceni
Apesar da “síndrome de Marcos” que acometeu Rogério Ceni no último lance da partida, o goleiro são-paulino mostrou por que é e será sempre ídolo da torcida tricolor. Desde a derrota no Beira Rio, Ceni buscou levantar o astral dos companheiros, motivando-os, afirmando que a classificação era possível. Em campo, foi o gigante de sempre. O choro ao final da partida pode parecer falso, “lágrimas de crocodilo”, especialmente a quem torce por algum arquirrival do São Paulo. Ou, também, para aqueles que acreditam que as conquistas do passado são suficientes; afinal, por que choraria um jogador tão consagrado, que já venceu Libertadores e Mundial, inclusive foi eleito o melhor deste torneio?
Talvez porque Rogério, como outros grandes ídolos veteranos que, apesar das críticas, persistem em continuar jogando pelo prazer de exercer a profissão que dez entre dez garotos gostariam de exercer e dez entre dez marmanjos lamentam não ter tido o talento e, quiçá, a sorte de terem exercido. Além disso, Ceni revela amor pela camisa que veste, algo tão raro atualmente. Eis o encanto do futebol, muito além do dinheiro e da fama que também proporciona.
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“Foi bonito”
“Foi bonito”, era a frase de Hernanes – o profeta, na brincadeira de Tiago Leifert – aos jornalistas para resumir a partida. Apesar da eliminação, apesar de não ter conquistado a Libertadores e o Mundial, com o semblante triste, Hernandes, ainda assim, definiu singelamente o jogo como “bonito”, espetáculo agradável a quem assistiu. Eis uma boa definição, se bem que um tanto insuficiente, para sua brilhante passagem pelo clube do Morumbi.
Hernanes fez ontem sua última partida pelo São Paulo. Vai para a Lazio, da Itália. Uma vitória com sabor de derrota, já que o Tricolor foi eliminado. No entanto, além da convocação para a seleção brasileira – o que deveria ter acontecido antes, para a Copa da África do Sul –, Hernanes leva o respeito, a gratidão e a saudade da torcida são-paulina. Afora Rogério Ceni, um ídolo para todos os tempos, Hernanes foi o grande nome são-paulino nos últimos anos, na era do tricampeonato brasileiro. Jogador de técnica apurada, que sabe marcar, armar e atacar, chuta muito bem, forte e com as duas pernas, Hernanes entra em uma nova fase de sua carreira, jogando pela Lazio e pela seleção brasileira. E, certamente, não será esquecido pela torcida do São Paulo.
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O Mundial dos Internacionais
O Internacional enfrentará o Chivas Guadalajara pelas finais da Libertadores. Mas, além desse confronto, já pode ir pensando em outro, possível de acontecer em dezembro: o confronto contra a Internazionale, de Milão. Aliás, em um torneio realizado há poucos anos, o Inter brasileiro venceu a Inter italiana, o que não prenuncia nova vitória, mas mostra que o bicho pode não ser tão feio assim. Para que o confronto entre os Internacionais ocorra em Abu Dhabi, contudo, tanto o colorado porto-alegrense como o xará milanês devem passar por um adversário prévio. Caso isso aconteça – o que é bem provável –, veremos uma bela partida entre Júlio César, Lúcio, Maicon, Schneijder, de um lado, Guiñazu, D’Alessandro, Tinga, de outro. Pena que Sandro já terá ido para o Tottheinham, da Inglaterra.
JFQ
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