Em entrevista ao programa “Bem Amigos”, de Galvão Bueno, Mano Menezes fez uma declaração que deixou otimistas aqueles desejosos pelo resgate do melhor futebol brasileiro. Disse o técnico da seleção que o Brasil precisa deixar de ser coadjuvante, de copiar modelos de fora. Isso, ressalte-se, pensando no resultado, não na “mera” beleza do jogo. E completou: no caso, essa busca de fora também está desatualizada, já que várias seleções – como a própria Espanha, campeã na África do Sul – jogam um futebol muito mais parecido com o nosso tradicional: muito toque, para cima, ofensivamente, apostando no talento dos jogadores. Mano crê que a necessidade do Brasil vencer em 1994, após 24 de jejum, fez com que copiássemos um modelo que não era nosso, muito mais preocupado com o lado defensivo, de não tomar gols. No entanto, após a vitória, continuamos a propagar o modelo, enquanto o mundo, aos poucos, retomava nosso antigo paradigma. Culminou em 2010 com uma Espanha e uma Alemanha jogando, mutatis mutandis, à brasileira, e um Brasil jogando à alemã. É preciso voltar ao nosso ponto de origem, ao nosso melhor futebol. Não para fazermos bonito – “apenas” –, mas para voltarmos a ganhar!
Boa interpretação a de Mano, no meu modesto entendimento. Compartilho dela cem por cento. O problema para mim é a ausência de bons jogadores veteranos para uma mescla com as revelações. Enquanto a Argentina, a Alemanha, a Holanda e a Espanha, por exemplo, têm um horizonte para 2014 que comporta a permanência de alguns dos seus principais jogadores de 2010, no caso do Brasil (e da Itália também), a seleção de 2014 será quase que totalmente formada por jovens jogadores. Sim, há um lado positivo nisso. Mas a presença de uns três ou quatro “veteranos” em condições de jogar um Mundial seria muito importante para a montagem de uma equipe, digamos, ideal.
Outro detalhe. Além de resgatar nosso melhor futebol, de buscar no paradigma espanhol as nossas próprias origens, o Brasil precisa reintroduzir algo que ele está a anos-luz na frente dos demais: o drible. Isso nem a Espanha tem. O toque rápido, coletivamente bem organizado, precisa também conter a individualidade, o arrojo de um Neymar, um Robinho, por exemplo. Sem firulas desnecessárias, mas sem podar o talento desses artistas.
Proponho uma metáfora para um novo paradigma: mirar-se na seleção de 1982 com os aprendizados defensivos das campeãs de 1994 e 2002. Mas, por favor, dispensemos a dupla de volantes brucutus. Já que pensamos em resultados, lembremos que a Holanda de Van Bommel e De Jong perdeu e a Espanha de Busquets e Xabi Alonso venceu (para não citar a Alemanha de Schweinsteiger e Khedira). Além disso, na Holanda os laterais ficavam atrás (Van Bronkhorst e Van Der Wiel), enquanto os laterais espanhóis apoiavam bastante (Sérgio Ramos e Capdevilla). Em suma, também é necessário fazer uma boa crítica ao consagrado esquema 4-2-3-1, que sugere maior liberdade apenas do meio para frente. Ou, tratando-se do “país do futebol”, o bom mesmo é construirmos nossas próprias referências a partir das nossas melhores qualidades, sem precisar copiar nada de fora. Já fizemos isso e nos demos muito bem.
JFQ
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