terça-feira, 5 de abril de 2011

Futebol comparado

Antero Greco


Na crônica de ontem, falei de como certos clubes nos marcam, por proezas que vimos na infância. Pois vários deles renovaram, no espaço de 24 horas, o fascínio que sempre provocaram em mim. Aqui em Milão, pude assistir ao vivo à vitória do Milan por 3 a 0 sobre a Inter, na noite de sábado, numa experiência única. Já neste domingo, de maneira também inédita, vi o Palmeiras fazer 1 a 0 no Santos, mas pela telinha da do computador. Graças à tecnologia me senti em casa. Só não entendo como certos sites passam jogos que pagamos aí...

Tanto um clássico quanto outro tiveram tudo o que se espera deles: tensão, provocações entre torcidas e jogadores, lances de técnica e criatividade, vitórias convincentes. A do Milan representou grande passo para o título Italiano, num torneio por pontos corridos e a sete rodadas do fim. A dos palmeirenses serviu para fortalecer a autoestima de um grupo que partiu desacreditado, lidera a fase de classificação e pode sustentar a pretensão de colocar a mão na taça do Paulista na fase de mata-mata.

O Palmeiras não se comportou totalmente como o Milan, que foi muito ofensivo diante da Inter. Mas, assim como o rubro-negro italiano, a equipe de Felipão mais uma vez soube ser consistente na defesa. A segurança na retaguarda tem sido a base para que ambas obtenham sucesso em seus respectivos campeonatos. Os milaneses têm mais opções para o ataque.

Vi um clássico tenso na Vila, pelo menos no início. Ninguém alisou, a ponto de sobrarem safanões aqui e ali entre Kleber e Neymar. Ainda bem que Vinicius Furlan teve o bom senso de acalmar e apelou para a advertência, não para a expulsão direta como muitos de seus colegas. Gosto quando árbitros só mostram cartão vermelho em casos extremos.

A partir do momento em que se preocuparam mais com a bola, os dois times melhoraram. O Santos reclamou de pênalti em duas ocasiões - e fiquei em dúvida no lance do chute do Danilo santista que bateu no braço do xará alviverde. Foram poucas, porém, as oportunidades de gol. As que mais me chamaram a atenção se limitaram a duas defesas de Deola e a bolas que Marcos Assunção mandou na trave, para espanto e alívio do goleiro Rafael. Esses velhos rivais já tiveram encontros mais notáveis.

O Palmeiras desatou o nó graças à persistência de Kleber e à ação dos vários "operários" que compõem o time. O gol veio numa hora decisiva, em que o desgaste era evidente para ambos os lados. Depois do baque, o Santos entregou os pontos, da mesma forma como aconteceu com a Internazionale. Só não sofreu a humilhação da turma de Julio Cesar, Maicon e Thiago Motta, que levou um baile do Milan e agora deve pensar mais na Copa dos Campeões, já que amanhã recebe o Schalke na abertura das quartas de final. Na Séria A, está em 3.º

Milagre napolitano. Entre um clássico e outro, pude também acompanhar, ta aqui na Itália, um dos confrontos mais sensacionais dos últimos tempos, que terminou com vitória de virada do Napoli por 4 a 3 sobre a Lazio, no começo da tarde. Tenho certeza de que San Gennaro, o protetor de Nápoles, deu uma forcinha para sua gente. Só assim para explicar o que aconteceu no Estádio San Paolo.

A Lazio abriu vantagem de 2 a 0 - um dos gols, de André Dias, já na etapa final -, permitiu o empate com gols um atrás do outro, ficou novamente na frente com gol contra (Aronica), teve outro não validado (a bola bateu no travessão e caiu atrás da linha) e ainda sofreu a reação no final. O uruguaio Cavani foi o herói do dia, com três gols que só não deixaram o Vesúvio entrar em erupção, mas que botaram fogo nas arquibancadas. O Napoli está a três pontos do Milan e a briga pelo scudetto promete ser bonita. Quem sabe o santo não intervém de novo? Seria bacana. Amém

PS. Estava sem palpite para o clássico na Vila e prometi ontem que, ao ver a Santa Ceia, original, que está em Milão, tentaria inspirar-me. Voltei para o hotel com intuição de que daria Palmeiras. Juro que foi isso mesmo!

* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 04/04/2011.

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