Antero Greco
Na crônica de ontem, falei de como certos clubes nos marcam, por proezas que vimos na infância. Pois vários deles renovaram, no espaço de 24 horas, o fascínio que sempre provocaram em mim. Aqui em Milão, pude assistir ao vivo à vitória do Milan por 3 a 0 sobre a Inter, na noite de sábado, numa experiência única. Já neste domingo, de maneira também inédita, vi o Palmeiras fazer 1 a 0 no Santos, mas pela telinha da do computador. Graças à tecnologia me senti em casa. Só não entendo como certos sites passam jogos que pagamos aí...
Tanto um clássico quanto outro tiveram tudo o que se espera deles: tensão, provocações entre torcidas e jogadores, lances de técnica e criatividade, vitórias convincentes. A do Milan representou grande passo para o título Italiano, num torneio por pontos corridos e a sete rodadas do fim. A dos palmeirenses serviu para fortalecer a autoestima de um grupo que partiu desacreditado, lidera a fase de classificação e pode sustentar a pretensão de colocar a mão na taça do Paulista na fase de mata-mata.
O Palmeiras não se comportou totalmente como o Milan, que foi muito ofensivo diante da Inter. Mas, assim como o rubro-negro italiano, a equipe de Felipão mais uma vez soube ser consistente na defesa. A segurança na retaguarda tem sido a base para que ambas obtenham sucesso em seus respectivos campeonatos. Os milaneses têm mais opções para o ataque.
Vi um clássico tenso na Vila, pelo menos no início. Ninguém alisou, a ponto de sobrarem safanões aqui e ali entre Kleber e Neymar. Ainda bem que Vinicius Furlan teve o bom senso de acalmar e apelou para a advertência, não para a expulsão direta como muitos de seus colegas. Gosto quando árbitros só mostram cartão vermelho em casos extremos.
A partir do momento em que se preocuparam mais com a bola, os dois times melhoraram. O Santos reclamou de pênalti em duas ocasiões - e fiquei em dúvida no lance do chute do Danilo santista que bateu no braço do xará alviverde. Foram poucas, porém, as oportunidades de gol. As que mais me chamaram a atenção se limitaram a duas defesas de Deola e a bolas que Marcos Assunção mandou na trave, para espanto e alívio do goleiro Rafael. Esses velhos rivais já tiveram encontros mais notáveis.
O Palmeiras desatou o nó graças à persistência de Kleber e à ação dos vários "operários" que compõem o time. O gol veio numa hora decisiva, em que o desgaste era evidente para ambos os lados. Depois do baque, o Santos entregou os pontos, da mesma forma como aconteceu com a Internazionale. Só não sofreu a humilhação da turma de Julio Cesar, Maicon e Thiago Motta, que levou um baile do Milan e agora deve pensar mais na Copa dos Campeões, já que amanhã recebe o Schalke na abertura das quartas de final. Na Séria A, está em 3.º
Milagre napolitano. Entre um clássico e outro, pude também acompanhar, ta aqui na Itália, um dos confrontos mais sensacionais dos últimos tempos, que terminou com vitória de virada do Napoli por 4 a 3 sobre a Lazio, no começo da tarde. Tenho certeza de que San Gennaro, o protetor de Nápoles, deu uma forcinha para sua gente. Só assim para explicar o que aconteceu no Estádio San Paolo.
A Lazio abriu vantagem de 2 a 0 - um dos gols, de André Dias, já na etapa final -, permitiu o empate com gols um atrás do outro, ficou novamente na frente com gol contra (Aronica), teve outro não validado (a bola bateu no travessão e caiu atrás da linha) e ainda sofreu a reação no final. O uruguaio Cavani foi o herói do dia, com três gols que só não deixaram o Vesúvio entrar em erupção, mas que botaram fogo nas arquibancadas. O Napoli está a três pontos do Milan e a briga pelo scudetto promete ser bonita. Quem sabe o santo não intervém de novo? Seria bacana. Amém
PS. Estava sem palpite para o clássico na Vila e prometi ontem que, ao ver a Santa Ceia, original, que está em Milão, tentaria inspirar-me. Voltei para o hotel com intuição de que daria Palmeiras. Juro que foi isso mesmo!
* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 04/04/2011.
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