terça-feira, 5 de abril de 2011

Racismo, não! Homofobia, pode?

Há poucos dias, o lateral Roberto Carlos, em partida do seu time, o Anzhi Makhachkala, contra o Zenit, ambos da Rússia, foi alvo de manifestação racista ao entrar em campo. Um torcedor aproximou-se para lhe entregar uma banana. Na partida entre Brasil e Escócia, uma banana foi jogada no gramado, causando enorme mal-estar por, num primeiro momento, suspeitar-se tratar de ato racista contra Neymar.

Os dois episódios, pela associação com o racismo, causaram asco na maioria das pessoas. “Como pode acontecer algo assim em pleno século XXI?”, indagam jornalistas, jogadores, torcedores e cidadãos em geral.

No entanto, a mesma repulsa não ocorre em relação à homofobia. Como se esta forma de preconceito não tivesse alcançado, digamos, o status de atitude moralmente reprovável ou mesmo criminosa que já alcançaram o machismo e o racismo, por exemplo.

Prova disso foi a manifestação da torcida do Cruzeiro, em partida pelas semifinais da Superliga de vôlei masculino, contra o jogador Michael dos Santos, do Vôlei Futuro, de Araçatuba (ver matéria: http://globoesporte.globo.com/volei/noticia/2011/04/volei-futuro-reclama-de-homofobia-e-tumulto-em-minas-cruzeiro-rebate.html ).

É bom que se diga: a repulsa causada pelo racismo e a quase normalidade com que se dá a homofobia não é um estranho contraste na cabeça de poucos, mas cultivado pela maioria das pessoas na nossa sociedade. Por um lado, há que se comemorar o fato de negros, apesar dos pesares, terem avançado nas suas conquistas. Reforço: apesar dos pesares, ou seja, apesar de estarmos muito longe de considerar superado o problema do racismo no Brasil. Por outro lado, é premente que sejam tomadas atitudes enérgicas para que atos de hostilidade contra homossexuais deixem de ser entendidos como fruto de um “preconceito aceitável” ou, pior, como reação legítima de resguardo da família, dos bons costumes ou qualquer valor tradicional concebido de modo bitolado, fechado, cujos defensores mais radicais se veem como guardiães da palavra de Deus, da Moral ou o do que os valha.

Por falar nisso, o deputado Jair Bolsonaro, ontem, no programa CQC, da Band, confirmou que fora mal interpretado na entrevista de semana passada. Tentando externar toda sua raiva contra os homossexuais, foi, coitado, tomado por racista. Quanta injustiça! A propósito, parabéns a Marcelo Tas, que, expondo a si próprio e à filha, que é gay, deu verdadeira prova de coragem ao tornar público seu orgulho por ela. Quem sabe, um dia esse orgulho possa superar o ódio e incapacidade de convivência ainda vistos em campos, quadras, parlamentos e alhures. Chegou a hora de dar uma banana a todas as formas de preconceito, inclusive a homofobia.

JFQ

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