domingo, 27 de novembro de 2011

Hoje, domingo


Acordou como se fosse um domingo qualquer e iniciou o ritual de sempre. Escovar os dentes, banhar-se, pentear o cabelo, vestir-se, tomar o café, engolir rapidamente o pão com manteiga ao mesmo tempo em que espia as manchetes do jornal. Quer dizer, com especialíssima atenção às notícias do caderno de esportes. Afinal, aos seus olhos e aos de outros milhões e milhões de pessoas, aquele não era um domingo qualquer.

Fingia tranquilidade ao passo em que a ansiedade tomava-lhe conta da alma. Não poderia falar disso a qualquer um, principalmente à esposa. Acharia tudo tão ridículo. Como pode acordar nervoso por causa de uma bobagem dessas!

Bobagem? Este domingo poderia ser decisivo, vitorioso, após um longo ano de batalhas ganhas e vacilos inexplicáveis. Um longo ano de lutas a culminar, quem sabe, em total felicidade justo neste domingo supostamente ordinário, idêntico a tantos outros. Tudo dependeria da famosa combinação de resultados; das nossas próprias forças e do que ocorresse em outro campo. Tão complexo! Tudo podia acontecer: da quase irrecuperável frustração à mais completa glória.

Lembrou-se do ano de 2007, da tristeza arrebatadora que acometeu a si e àqueles tantos e tantos milhões. Lembrou-se da volta e de tudo o mais que ocorrera até este dia de domingo. Sim, não era qualquer domingo. Era o domingo em que o ciclo estaria completo, em que todos veriam que o lugar a ser ocupado é o topo entre os primeiros, não entre os segundos.

Chegou o domingo. É hoje! É hoje? Façamos o nosso. E seja o que Deus quiser.

JFQ

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Péssima troca

Tostão


Um diferencial do Corinthians é o forte laço afetivo entre os torcedores e o time. Na adversidade, os jogadores crescem e viram a partida.

O comprometimento afetivo entre os atletas e Ricardo Gomes, sempre presente, é uma das virtudes do Vasco. Abel Braga é um técnico emotivo. Passa isso aos jogadores do Fluminense.

Não são importantes apenas a qualidade individual, coletiva, e as escalações e substituições dos treinadores. "Quem ganha e decide as partidas é a alma." (Nelson Rodrigues, com seu exagero e sem conhecer quase nada de detalhes técnicos e táticos, nos ensinou muito sobre futebol.)

Um profissional, em qualquer atividade, para fazer bem as coisas, é necessário, além de talento, ter prazer e envolvimento emocional no trabalho.

Como há tantos times no mesmo nível -os detalhes técnicos e os imprevistos colocam um mais à frente ou mais atrás-, não é fracasso um grande time ficar fora da Libertadores.

Se o campeonato começasse hoje, com os mesmos jogadores e treinadores, haveria, no fim, várias trocas de posições na tabela.

Se o Coritiba não tivesse perdido tantos pontos no início, quando só pensava na Copa do Brasil, teria hoje mais chances de conseguir vaga na Libertadores.

Já as possibilidades do Figueirense são grandes. Marcelo Oliveira e Jorginho fizeram excelentes trabalhos.
Muitos times jogam com dois jogadores pelos lados. Como é o esquema da moda, alguns técnicos colocam jogadores nessa posição, sem ter nenhuma característica para isso. É o caso de Wellington Paulista, no Cruzeiro, um típico centroavante.

Outras equipes atuam com três no meio-campo, um meia de ligação e dois atacantes. Há variações. No Fluminense, Marquinho marca no meio e avança como um atacante. Já no Flamengo, os três do meio-campo (Aírton, William e Renato) pouco se misturam com os três da frente (Deivid, Ronaldinho e Thiago Neves). Fica compartimentado, previsível e ineficiente.

Características comuns de todas as equipes são ter sempre zagueiros encostados na grande área -uma postura ultrapassada- e uma grande pressa para chegar ao gol, por meio de lançamentos longos de bolas aéreas. Há poucas trocas de passes. Não adianta também trocar passes se quem passa não avança para receber a bola.

Os times brasileiros jogam hoje como os europeus nos anos 1960, e eles, as principais equipes, atuam como no Brasil da mesma época.

Nessa troca, o Brasil levou uma grande desvantagem.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 23/11/2011.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Os oligarcas

Kenneth Maxwell
Na semana passada, o Manchester United mudou o nome da arquibancada norte do seu estádio, Old Trafford, para arquibancada "Sir Alex Ferguson". A área acomoda 25 mil torcedores e ganhou o novo nome para homenagear sir Alex por seus 25 anos como técnico do lendário clube.
Sir Alex já é um "freeman" da cidade de Glasgow, em sua Escócia natal, o que significa, diz ele, que caso venha um dia a ser preso por lá terá direito "a uma cela individual".
Há quem pense que o Manchester United também deveria ter batizado uma de suas arquibancadas em honra de sir Matt Busby, outro de seus duradouros técnicos (de 1945 a 1969). Mas não há muitos que considerem injusto o reconhecimento dado a sir Alex.
Os problemas do futebol inglês estão em outros quadrantes. O Manchester United é apenas um dos times da Premier League inglesa controlados por grandes companhias ou magnatas estrangeiros.
Sandro Rosell, inimigo dessa prática e presidente do Barcelona, clube que é propriedade de seus 180 mil sócios, declarou que "o Barcelona jamais será colocado à venda, em hipótese alguma". Mesmo assim, o time fechou contrato de patrocínio com o Qatar por prazo de cinco anos.
Desde 2005, o Manchester United é propriedade da família Glaser, dos EUA. No Manchester City, o principal acionista é o xeque Mansour, dos Emirados Árabes Unidos.
Americanos detêm interesses financeiros no Arsenal, no Liverpool, no Aston Villa e no Sunderland. O mais notório dos proprietários estrangeiros de futebol é Roman Abramovich, o russo que, em 2003, comprou o Chelsea Football Club, em Stamford Bridge.
Abramovich está envolvido em um importante processo no tribunal comercial de Fetter Lane, em Londres. Outro oligarca russo, Boris Berezovsky, abriu um processo privado quanto a transações com Abramovich envolvendo uma companhia petroleira russa. Ele quer indenização de US$ 5 bilhões e mais US$ 564 milhões em indenização por outra transação frustrada com Abramovich, envolvendo uma empresa russa de alumínio.
Berezovsky era um professor de matemática que abriu a primeira concessionária Mercedes da Rússia e fez fortuna na era pós-comunista de Boris Ieltsin, em que as opacas conexões entre dinheiro, política e poder importavam muito. Desentendeu-se com Vladimir Putin e recebeu asilo no Reino Unido, depois que foi revelado um complô da agência de espionagem russa para matá-lo. Recentemente, pagou mais de £ 100 milhões a sua ex-mulher, no maior acordo de divórcio de todos os tempos.
De Old Trafford para Stamford Bridge o caminho, com certeza, é longo. Mas serve como lembrete de que o dinheiro importa.
Publicado na Folha de S.Paulo, em 10/11/2011.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Morre Ézio, ídolo do Fluminense



A história do Fluminense perdeu na noite desta quarta-feira um de seus principais personagens. Vítima de um câncer no pâncreas, Ézio Leal Moraes Filho, o Super Ézio, morreu após um período internado em um hospital em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

Ídolo tricolor na década de 90, Ézio tinha 45 anos e, a pedido da família, será velado nesta quinta-feira, no salão nobre do estádio das Laranjeiras, de 9h às 15h.

Ézio se tornou um dos maiores artilheiros do Fluminense. Jogou pelo time das Laranjeiras de 1991 a 1995, marcando 118 gols em 236 jogos. É o oitavo maior goleador da história do clube e um dos maiores da história do Fla-Flu, com 12 gols. Antes da doença, o ex-atacante estava trabalhando como empresário de jogadores e também acumulava o cargo de vice-presidente do Yasmin, clube da Terceira Divisão do futebol carioca.

sábado, 5 de novembro de 2011

O melhor na arte prática do gol


Éder Menegassi

Uma das discussões mais calorosas no mundo futebolístico brasileiro hoje é a "disputa" entre Messi e Neymar, candidatos ao Prêmio Fifa Bola de Ouro. Não fosse pela legitimidade do debate democrático, dispensar qualquer atenção acreditando ingenuamente que o brasileiro é o melhor, seria uma grande perda de tempo. Dessa forma, nada impede de compararmos nosso jovem e brilhante atleta ao ícone do futebol de ponta da atualidade. Por nossa conta e risco, diga-se.
Essencialmente, repito, essencialmente, o que é o futebol? Homens tentado fazer e não sofrer gols. Esse é o jogo. Como estamos falando de dois jogadores aos quais o "fazer" foi incumbido, só nos cabe então analisar o modus operandi de ambos para alcançar esse objetivo. Neymar está mais para o típico driblador-pirofágico-mané-garrinchiano. Estilo que, por vezes, é muito eficiente e, com certeza, sempre vistoso. Messi é o tocador-pragmático-maradoniano. Tão eficiente e vistoso quanto o primeiro. E aí, qual a diferença? A praticidade, meus caros, a praticidade. Messi, que tem mais idade, é verdade, parece já ter adquirido a sabedoria daquele que entende a beleza nas coisas simples da vida. Mas, dirão os republicanos de chuteira e meião para além dos joelhos, você é contra o futebol arte! Ora, jamais. O fato é que há maneiras distintas de se fazer arte e cabe a cada um escolher aquele que mais lhe convence. Há escritores contistas e escritores romancistas. Qual o gênero mais aprazível a você? Pelo menos na Literatura, há um consenso de que o conto é um tanto mais complexo. Logo, o mais objetivo pode não ser o mais simples nem o mais fácil e, então, aos olhos mais atentos, pode ser o mais vistoso.
Mas eu gostaria de chamar atenção para um fator que me salta aos olhos: a fidelidade de Messi ao Barcelona. No futebol globalizado e mercadológico que temos hoje, é impensável que um jogador, salvo raras exceções, não tenha interesse em atuar por times que não o de coração. O argentino é taxativo ao ser questionado sobre uma possível transferência: não há a menor possibilidade. E, realmente, é inimaginável o camisa dez do Barça vestindo outra camisa. Ainda que talvez não tenha peso na votação, esse sim deveria ser um fator a ser levado em consideração, principalmente por se tratar do cara mais bem pago no futebol. Ou seja, ele tem valores, ele tem caráter.
Neymar, não se sabe se falsamente modesto ou verdadeiramente sincero, reconheceu a superioridade do suposto adversário. Mas, dirão os republicanos de chuteira e meião esticado para além do joelho, que tal fato não caracteriza a vitória de Messi, uma vez que a eleição é determinada por outros fatores e outros eleitores. Isso é verdade, ao que nada mais acrescento.

*Éder Menegassi, corinthiano, é colaborador do Ludopédicas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Titebilidade

Alunos fumam maconha no campus. Polícia mobiliza um batalhão inteiro, lança bombas de gás lacrimogênio e o escambau  para dar um “teje preso” nos maconheiros. Alunos formam uma horda pretensamente revolucionária para defender os companheiros, sobem nas viaturas, invadem o prédio da administração e escondem o rosto com camiseta, lembrando cena de rebelião de presídio. Mais uma vez. Um deles, mais empolgado, queima a bandeira do Brasil. Mas a polícia só quer o império da lei; o cacete é inevitável, alegam. Sim, estão preparados para lidar com a situação. Preparadíssimos! Da mesma forma que na retirada dos camelôs da feirinha da madrugada. Quem manda ser ilegal e, sem direito ao contraditório, posar de comerciante de produtos piratas e roubados?
Ex-presidente descobre estar doente. Na internet, pululam mensagens de apoio juntamente a destemperos e manifestações desumanas (inconfessáveis, não fosse o anonimato) pró-tumor, não pró-pessoa. “Devia ser internado pelo SUS!”; se é contra o Lula (até câncer?), é legal. Na TV, repórter é agredida por grupelho que, pela enésima vez (sempre com surpresa e violência), atrapalha o link ao vivo. Alguns acham legal; tudo que ferra a Globo é legal. Além do mais, humor agora é assim, punk, à moda Rafinha. Para outros: “cadê a polícia que não prende esses caras?”. Ah, tá na USP, tá no Bráz... Só não está na proteção da juíza, assassinada. Ou na dos gays que andam pela Paulista. Ou na do deputado carioca, forçado a se exilar, em pleno século XXI, para que não seja morto também. Por bandido ou, quem sabe, pela própria polícia.
E tomem gritos, xingamentos, acusações, bravatas. De um lado: “Tudo vândalo, terrorista, esquerdista de merda, revolucionários de meia pataca, lixo da história, corruptos todos: PT, PC do B, Venezuela, diretório acadêmico, presidenta (faxineira é o catso!), ex-presidente metalúrgico vagabundo!”. A resposta: “Elite de merda, direita de bosta, exploradores dos pobres, parasitas do dinheiro público, indignemo-nos contra todos esses corruptos: PSDB, DEM, EUA, reitor, banqueiros, mídia, governador mauricinho, ex-presidente neoliberal entreguista (virou maconheiro também?)!”.
Quer saber, concordo com o Tite. “Está faltando namorar!”. Eis o melhor remédio para os dias que correm. Levar o jogo da vida com mais titebilidade, mas sempre em busca da vitória. Falta pensar nas coisas com mais moderação, menos fígado. Para torcer apaixonadamente, serve o Timão.
JFQ