sábado, 5 de novembro de 2011

O melhor na arte prática do gol


Éder Menegassi

Uma das discussões mais calorosas no mundo futebolístico brasileiro hoje é a "disputa" entre Messi e Neymar, candidatos ao Prêmio Fifa Bola de Ouro. Não fosse pela legitimidade do debate democrático, dispensar qualquer atenção acreditando ingenuamente que o brasileiro é o melhor, seria uma grande perda de tempo. Dessa forma, nada impede de compararmos nosso jovem e brilhante atleta ao ícone do futebol de ponta da atualidade. Por nossa conta e risco, diga-se.
Essencialmente, repito, essencialmente, o que é o futebol? Homens tentado fazer e não sofrer gols. Esse é o jogo. Como estamos falando de dois jogadores aos quais o "fazer" foi incumbido, só nos cabe então analisar o modus operandi de ambos para alcançar esse objetivo. Neymar está mais para o típico driblador-pirofágico-mané-garrinchiano. Estilo que, por vezes, é muito eficiente e, com certeza, sempre vistoso. Messi é o tocador-pragmático-maradoniano. Tão eficiente e vistoso quanto o primeiro. E aí, qual a diferença? A praticidade, meus caros, a praticidade. Messi, que tem mais idade, é verdade, parece já ter adquirido a sabedoria daquele que entende a beleza nas coisas simples da vida. Mas, dirão os republicanos de chuteira e meião para além dos joelhos, você é contra o futebol arte! Ora, jamais. O fato é que há maneiras distintas de se fazer arte e cabe a cada um escolher aquele que mais lhe convence. Há escritores contistas e escritores romancistas. Qual o gênero mais aprazível a você? Pelo menos na Literatura, há um consenso de que o conto é um tanto mais complexo. Logo, o mais objetivo pode não ser o mais simples nem o mais fácil e, então, aos olhos mais atentos, pode ser o mais vistoso.
Mas eu gostaria de chamar atenção para um fator que me salta aos olhos: a fidelidade de Messi ao Barcelona. No futebol globalizado e mercadológico que temos hoje, é impensável que um jogador, salvo raras exceções, não tenha interesse em atuar por times que não o de coração. O argentino é taxativo ao ser questionado sobre uma possível transferência: não há a menor possibilidade. E, realmente, é inimaginável o camisa dez do Barça vestindo outra camisa. Ainda que talvez não tenha peso na votação, esse sim deveria ser um fator a ser levado em consideração, principalmente por se tratar do cara mais bem pago no futebol. Ou seja, ele tem valores, ele tem caráter.
Neymar, não se sabe se falsamente modesto ou verdadeiramente sincero, reconheceu a superioridade do suposto adversário. Mas, dirão os republicanos de chuteira e meião esticado para além do joelho, que tal fato não caracteriza a vitória de Messi, uma vez que a eleição é determinada por outros fatores e outros eleitores. Isso é verdade, ao que nada mais acrescento.

*Éder Menegassi, corinthiano, é colaborador do Ludopédicas.

Um comentário:

  1. Três observações, Éder. Primeira: ótimo texto, adorei. Segunda: não só homens, mas também mulheres correndo atrás do gol ou de evitá-lo, lembremo-nos de Marta e companhia. Última: associamos o termo craque a quem faz ou cria jogadas de gols, mas não valorizados os craques na arte de evitar gols. Um amigo me diz que o melhor jogador que ele viu jogar foi o Gamarra: ninguém como ele era capaz de impedir gols sem recorrer a faltas ou jogadas desleais. E é verdade. Tendemos a ver só os Pelés e, em contrapartida, os Domingos (não o Da Guia, mas o "último zagueiro") em campo.

    ResponderExcluir