Dorival Júnior assumiu um risco muito alto: manter a suspensão de Neymar no jogo contra o Corinthians, principal rival do Peixe. A diretoria santista achou demais, demitiu o técnico e assumiu ela própria um outro risco: manter a, digamos, harmonia no elenco santista, mesmo deixando claro aos demais jogadores que um deles está acima das decisões do próprio treinador. Aliás, quem terá a coragem de assumir o comando do Santos com esse “sinal” dado pela diretoria?
Apesar de, à primeira vista, ficar a impressão de que Neymar venceu uma queda de braço, o fato é que terá que sustentar um peso enorme nas costas. Terá que mostrar aos próprios companheiros que é mesmo imprescindível, que seu afastamento seria um fardo muito pesado ao próprio time. Deve começar a prová-lo hoje, vencendo o Corinthians. Uma derrota, dependendo de como for, pode criar um clima muito ruim entre a torcida e a diretoria. É bom lembrar que Neymar é o grande ídolo do time, ainda mais considerando a saída de Robinho e a ausência de Ganso. Mas também há que se recordar que Dorival Junior ganhou o respeito do torcedor ao montar uma equipe brilhante, que conquistou o Paulistão e a Copa do Brasil (e, por extensão, a vaga na Libertadores).
Além disso, também recai sobre Neymar as máculas que vem acumulando em sua imagem: a fama de cai-cai, de provocador (ex: chapéu em Chicão quando o jogo estava parado), de esnobar adversários dizendo-se milionário (o que teria ocorrido em jogo contra o Avaí), de não saber lidar com provocações (como ocorreu no jogo contra o Ceará), de criar atritos dentro do próprio time (como no caso dos xingamentos contra Edu Dracena e Dorival Junior por tê-lo impedido de cobrar um pênalti). Por mais brilho que mostre com a bola nos pés, Neymar vem criando antipatias e receios dentro e fora do Santos. Aliás, não será tão surpreendente se Mano Menezes deixar de relacioná-lo na convocação para a seleção brasileira que será divulgada amanhã.
Se a diretoria santista procurou preservar Neymar, cujo contrato, há pouco firmado, foi vantajoso o suficiente a ponto de impedir a venda do craque para o Chelsea, talvez o tiro saia pela culatra. Justamente porque a suspensão imposta pelo ex-treinador visava mostrar ao jovem talento do Peixe que ele não está acima do bem e do mal, que há limites, que deve respeitar seus companheiros de time. A escolha da diretoria do Santos pela demissão de Dorival pode passar a Neymar uma mensagem em sentido contrário do que pretendia o ex-técnico. E, a propósito da expressão “jovem talento”, destaco observação do sempre brilhante Tostão em um de seus últimos artigos: Neymar já tem 18 anos e é, por lei, responsável por seus atos.
Enfim, quem ganha e quem perde com tudo isso, os próximos acontecimentos dirão, a começar pela partida de hoje entre Santos e Corinthians. Talvez ganhe o São Paulo Futebol Clube: o treinador que vinha procurando desde a saída de Ricardo Gomes. Ou, ainda, o Galo, caso Luxemburgo vá para o Morumbi.
JFQ
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