segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O previsível e a caixinha de surpresas

Era previsível que o Fluminense passaria pelo Palmeiras (entregou ou não entregou?), apesar de não ser nada previsível o golaço de Dinei. Também era previsível a vitória do Corinthians sobre o Vasco (entregou ou não entregou?). Menos previsível, mas nada improvável, era a vitória do Cruzeiro sobre o “quase desesperado” Flamengo, que, apesar de mais uma derrota, safou-se do risco de rebaixamento.

Dessa forma, Fluminense, Corinthians e Cruzeiro mantiveram-se na condição de postulantes ao título de 2010, partindo para a última rodada nas mesmas condições em que estavam nesta. Para muitos, nada deve mudar e o Flu pode ir preparando o chope para a comemoração. O tricolor do Rio pega o já rebaixado Guarani, enquanto o Corinthians pega o também rebaixado Goiás e o Cruzeiro, o “entregue” Palmeiras. Ceteris paribus, Fluminense campeão, Timão vice, Cruzeiro na terceira colocação. Será?

Há muito que se sabe que o futebol é uma caixinha de surpresas. Que neste chamado esporte bretão impera, além dos craques e pernas-de-pau, um tal Sobrenatural de Almeida. Pois bem, é bom que o “virtual campeão” Fluminense ponha as barbas de molho e fique velhaco com os acontecimentos ocorridos recentemente com seu último adversário, o Palmeiras.

O rebaixamento matemático de Guarani e Goiás, em vez de significar a entrega de times desmotivados, pode ser a força derradeira para uma última demonstração de garra e de dignidade. Cá comigo, na condição sofredora de corinthiano, tive o impulso de entregar os pontos após a derrota do Guarani para o Grêmio: rebaixado, o Bugre será presa fácil ao poderoso Fluminense. Quem sabe? Pensando melhor, talvez a condição de desesperado para fugir do descenso, partindo com tudo para cima do Flu, é o que faria do Guarani uma presa fácil. Na atual conjuntura, toda a pressão do jogo será do tricolor, que precisa vencer, não apenas empatar.

O mesmo pode ser dito do Goiás, com um adendo. Além de mostrar sua força no último jogo da primeirona, o Goiás adquiriu motivação extra com a classificação para a final da Sul-Americana. Pode provar que é capaz de ser o algoz não apenas do Verdão, mas também do Timão, esses paulistas que se acham os maiorais. Outro dado: boa parte do elenco do Goiás é remanescente do Corinthians (Rafael Moura, Otacílio Neto, Wellington Saci, Carlos Alberto), o que, como se sabe, é um motivador para aqueles que pretendem mostrar seu valor ao clube que os dispensou. Quer dizer, isto se o time goiano não resolver colocar um mistão para preservar seus jogadores para as finais da Sul-Americana.

A situação mais difícil é a do Cruzeiro. Mas, é bom que se saiba, o Sobrenatural de Almeida joga com todas as camisas. Isto porque não basta um tropeço do Fluminense e do Corinthians, mas, dependendo, de uma vitória sobre o Palmeiras com um saldo de gols bastante elástico, como diriam os comentaristas esportivos.

Ah, além do Sobrenatural de Almeida e da busca por fechar o ano com dignidade, há que se levar em conta um outro fator motivacional: a mala branca! Guarani e Goiás, quem sabe, apesar de rebaixados, podem terminar 2010 um pouquinho mais ricos...

JFQ

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Classificação: Penúltima Rodada


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Jogos da última rodada

Fluminense x Guarani (Engenhão, Rio de Janeiro)

Goiás x Corinthians (Serra Dourada, Goiânia)

Cruzeiro x Palmeiras (Parque do Sabiá, Uberlândia)

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Possibilidades para o título

O Fluminense será campeão:

1) Se vencer o Guarani.
2) Se empatar com o Guarani, o Corinthians não vencer o Goiás e o Cruzeiro não vencer o Palmeiras.
3) Se perder para o Guarani, o Corinthians perder para o Goiás e o Cruzeiro, para o Palmeiras.

O Corinthians será campeão:

1) Se vencer o Goiás e o Fluminense não vencer o Guarani.
2) Se empatar com o Goiás, o Fluminense perder para o Guarani (dependendo da combinação de saldo de gols e gols marcados) e o Cruzeiro não vencer o Palmeiras.

O Cruzeiro será campeão:

1) Se vencer o Palmeiras, o Fluminense perder para o Guarani e o Corinthians não vencer o Goiás.
2) Se vencer o Palmeiras por 12 gols de diferença (!), o Fluminense empatar com o Guarani e o Corinthians, no máximo, empatar com o Goiás.


* Caso haja empate de pontos entre dois clubes, os critérios de desempate serão aplicados na seguinte ordem: 1) Número de vitórias; 2) Saldo de gols; 3) Gols marcados; 4) Confronto direto; 5) Número de cartões vermelhos; 6) Número de cartões amarelos.

** Confrontos diretos: 1) Corinthians 1x0 Fluminense; Fluminense 1x2 Corinthians; 2) Fluminense 1x0 Cruzeiro; Cruzeiro 1x0 Fluminense.

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Campanhas


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A última vaga da Libertadores

Goiás, Grêmio e Botafogo lutam pela última vaga brasileira na Libertadores 2011. O Goiás se classifica caso conquiste o título da Sul-Americana, contra o Independiente, da Argentina. Grêmio e Botafogo se enfrentam no próximo domingo, em Porto Alegre. O tricolor gaúcho sai com a vaga, caso não perca para o Botafogo e o Goiás não tenha êxito na Sul-Americana.

Já estão classificados para a Libertadores 2011: Internacional, Santos, Fluminense, Corinthians e Cruzeiro.

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A última vaga do rebaixamento

Atlético Mineiro, Avaí e Flamengo respiraram aliviados. Estão matematicamente livres do vexame da segundona. O mesmo não pode ser dito de Vitória e Atlético Goianiense, que lutarão para não se juntar a Prudente, Goiás e Guarani entre os rebaixados.

Na última rodada, coincidentemente, Vitória (41 pontos) e Atlético GO (42 pontos) se enfrentam, em Salvador.

JFQ

Entregar ou enfrentar, eis a questão

O dilema ético-ludopédico em voga no Brasileirão 2010, já emergira em 2009: entregar ou enfrentar quando a vitória beneficiará diretamente um arquirrival. Todavia, a questão é ainda mais antiga, quiçá, oriunda do princípio dos tempos em que onze marmanjos da cada lado começaram a correr atrás de uma bola e desenvolveram a mais profunda das rivalidades, a futebolística, quase tão poderosa quanto a eterna luta de classes ou a guerra dos sexos.

O fato é que a questão, por mais caráter, ética e firmeza moral se empregue, não é lá tão pão, pão, queijo, queijo como se sugerem os bons moços. Afinal, se os rivais de um clássico derbi jogarem a vida em prol da conquista do outro, a própria rivalidade, matéria-prima motivacional das maravilhosas pelejas envolvendo os escretes rivais, deixa de existir.

O entreguismo, isto é, o jogar para perder, é extremamente deletério ao futebol, assim como a todos os esportes (aliás, lembram-se do vôlei masculino, que cedeu à Bulgária, e acabamos campeões?). Contudo, não consigo ver tamanha grandeza em gregos lutarem até a morte pela conquista dos troianos, ou vice-versa, como se a eterna rivalidade nada significasse à história de ambos e ao próprio esporte.

Em suma, não sou favorável ao entreguismo, mas penso que é um baita trololó o discurso moralista em prol da honra, coisa e tal. A solução do problema não virá com a improvável crise de consciência que os “éticos” procuram incutir na cabeça dos decrépitos entreguistas. O discurso pode ser bonito, correto, sisudo, mas, no fundo, também é um tanto demagógico e alheio à própria lógica de atração dos amantes da bola. Há que se encontrar uma fórmula que incentive o melhor combate nas rodadas finais dos campeonatos em pontos corridos. Quem sabe, a fórmula já proposta anteriormente, de realização dos clássicos estaduais nas últimas rodadas.

JFQ

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Abaixo, artigos de Juca Kfouri e PVC sobre o tema.



Pela honra no futebol
Juca Kfouri


Apoiada pela maioria dos torcedores, segundo apontam as pesquisas científicas e as sondagens não científicas, eis que a fórmula dos pontos corridos está na berlinda por supostamente favorecer a malandragem nas derradeiras rodadas, quando rivais tradicionais não se interessam pelas vitórias para não ajudar o outro.

O comportamento, de fato, é lamentável sob todos os aspectos.

E difícil de ser evitado num país de pouca cultura futebolística, de nenhum respeito pela liturgia do jogo e no qual a única regra que parece existir é a de levar vantagem em tudo.

Isto é o Brasil. E por que seria diferente no futebol? Claro que o argumento dos que imaginam que só os pontos corridos favorecem malas brancas e corpos moles não se sustenta.

Porque a mala branca aparece também quando um clube precisa do resultado de um terceiro para ficar entre os classificados para os mata-matas. Porque é isso: falta respeito ao jogo de futebol no Brasil, algo que sobra no país de seus inventores, a Inglaterra, mas não só lá.

Inimaginável também na Espanha que um Barcelona amoleça para o Sevilla com a intenção de prejudicar o Real Madrid, coisa que faria a orgulhosa Catalunha corar.

Por aqui, enquanto não nos educamos, enquanto não possuirmos instrumentos realmente eficazes para combater a corrupção e a falta de compostura, quem sabe a marcação dos clássicos estaduais para as últimas rodadas do Brasileirão atenue a malandragem.

A RODADA

Expostos trechos do escrito no dia 3 de dezembro de 2009, tratemos rapidamente de chover no molhado em relação aos jogos deste domingo: que ganhem todos os times que se apresentarem melhor que seus adversários, mas que tais adversários entrem em campo com a mesma intenção, se não com a mesma motivação, de vitória.

Que o Fluminense saia legítimo campeão brasileiro de Barueri apenas porque foi, ao longo da temporada, o melhor dos 20 concorrentes. Que o Galo se livre do rebaixamento apesar da temeridade que cometeu até 13 rodadas atrás.

Mas que os alviverdes que os enfrentarão logo mais, e que se enfrentaram na última quarta-feira, honrem suas camisas como nem Corinthians nem São Paulo honraram as deles no ano e no domingo passados.


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 28/11/2010.


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A entrega estraga
Paulo Vinícius Coelho

Tite entrou no vestiário no intervalo da partida, cobrou empenho de seus jogadores e ficou surpreso ao ouvir deles: "Mas, professor! Nossos adversários já nos contaram que vão entregar o jogo. Precisam prejudicar o rival histórico deles". O técnico do Corinthians contou a história a Juca Kfouri, na ESPN, sem informar a partida em questão. Foi um Pelotas 0 x 3 Veranópolis, pela Copa RS, em 1996. A simples referência, sem a informação completa, fez muita gente viajar na memória.

"Os gremistas logo associaram ao São Paulo x Inter de 2008", diz o repórter José Alberto Andrade, da rádio Gaúcha, referindo-se à partida em que o São Paulo assumiu a liderança na campanha do tri brasileiro, à frente do Grêmio.

Eu mesmo viajei à última rodada da primeira fase de 2002, quando o Atlético-MG estava classificado, enfrentava o Grêmio e, vencendo, ajudaria o Cruzeiro. Perdeu por 1 a 0. "Mas nós fomos para cima, e me surpreendi porque o Grêmio não nos atacou", lembra o goleiro Velloso, do Atlético-MG.

A derrota atleticana em 2002 foi inocente, mas mostra que arranjos assim não são exclusividade dos pontos corridos. O que agrava esses casos não é a fórmula de disputa, mas a irresponsabilidade das declarações.

O diretor de futebol do Palmeiras, Wlademir Pescarmona, afirmou duas vezes que sua vontade era dar W.O. para o Fluminense, hoje à tarde. Elias, do Corinthians, parabenizou o Corinthians B pela vitória na Copa Sul-Americana, provocação pelo triunfo do Goiás sobre o Palmeiras. Elias esqueceu seu papel público e pôs mais gasolina na fogueira do entreguismo. Esqueceu-se também da violência de uma facção palmeirense, que agrediu Vagner Love há um ano numa agência bancária. E que irá a Barueri só para pressionar o Palmeiras pela derrota prejudicial ao Corinthians.

Não há provas do entreguismo, mas a sensação dele está nas ruas. Daí ser obrigatório procurar, na tabela de 2011, um jeito de expurgá-lo. Ou clássicos estaduais nas últimas rodadas -ainda que isso tire o caráter nacional da decisão- ou com jogos entre times do eixo RJ-SP-MG-RS contra GO-BA-SC- -PR, o que, em teoria, diminui o risco.

Os encontros estaduais esbarram no interesse da TV. Há cinco anos, uma tabela previa uma rodada só de clássicos no meio dos turnos. A TV vetou. Por causa das transmissões, jamais Palmeiras x Corinthians, São Paulo x Santos no mesmo dia.

Por causa do entreguismo, talvez seja preciso rever isso.


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 28/11/2010.

domingo, 28 de novembro de 2010

A dois passos

O longo campeonato brasileiro chega à sua reta final. Passadas 36 rodadas, faltam apenas duas para que se conheça o campeão brasileiro de 2010. Hoje, o líder Fluminense (65 pontos) pega o Palmeiras, em Barueri, podendo conquistar o título com uma rodada de antecipação. Para que isso aconteça, depende de uma forcinha dos arquirrivais Vasco, que pega o Corinthians (64 pontos), no Pacaembu, e Flamengo, adversário do Cruzeiro (63 pontos), em Volta Redonda. A propósito, afora este último embate, já que o Mengo ainda corre risco de rebaixamento, Flu e Timão tendem a ganhar 3 pontos logo mais na base do delivery, ou seja, no corpo mole de Palmeiras (10º) e Vasco (11º), que já não almejam mais nada no campeonato.

Tenho cá comigo que o jogo mais importante da rodada será Guarani x Grêmio, em Campinas. O Guarani pode ser rebaixado matematicamente caso não vença o tricolor gaúcho, que, por sua vez, pode perder a quarta colocação e uma vaga na Libertadores, caso deixe de somar três pontos contra o Bugre. Além da importância para a luta contra o rebaixamento e pela vaga no principal torneio sul-americano, a partida entre Guarani e Grêmio interessa também aos postulantes ao título. Considerando o fator motivacional (para além das malas brancas), uma vitória do Guarani pode renovar as esperanças de corinthianos e cruzeirenses, uma vez que a equipe de Campinas precisará jogar tudo contra o Fluminense, na última rodada, para selar sua fuga heroica de um novo descenso.


Especulações à parte, não acredito que o Bugre, independentemente de sua condição após a partida contra o Grêmio, ou mesmo o Goiás, já rebaixado, mas com nova motivação após a façanha alcançada contra o Palmeiras na Copa Sul-Americana, entregarão seus derradeiros jogos contra o Flu e contra o Timão. O mesmo não se pode dizer do Palmeiras, último adversário do Cruzeiro: caso adote a prática do delivery hoje, dificilmente não o fará depois.


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Números

O Brasileirão 2010, diferentemente do de 2009, foi marcado pela estabilidade da disputa na maior parte do campeonato. A não ser na primeira rodada, em todas as demais, Fluminense, Corinthians ou Cruzeiro estiveram na liderança. O tricolor carioca foi o que mais tempo permaneceu líder: em 21 das 36 rodadas até agora. O Corinthians foi líder por 12 rodadas e o Cruzeiro, por 2. A diferença de apenas 2 pontos entre os três reflete bem a disputa acirrada entre eles, bem como as boas equipes que montaram para o certame.


Classificação, rodada a rodada


O Corinthians foi a equipe que menos oscilou nas posições: sua pior colocação foi a terceira posição. Já o Flu, começou mal as quatro primeiras rodadas, mantendo-se no G3 a partir da quinta. O Cruzeiro, por sua vez, foi o que mais oscilou: apenas a partir da 22ª rodada, a Raposa preservou-se no G3.


Pontuação, rodada a rodada



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Chega de entrega!

Infelizmente, a moda do delivery ganha força nas próprias torcidas dos times que farão a “entrega”. Em 2009, houve corinthianos que vibraram com a derrota do próprio escrete contra o Flamengo, resultado que prejudicou o São Paulo. O mesmo ocorreu com gremistas, na derrota para o Flamengo, no jogo que deu o título ao rubro-negro, deixando o Internacional na vice-colocação. Em 2010, a lógica persiste, como se viu na derrota do São Paulo para o Fluminense, por 4 a 2.

Se uma das principais defesas ao sistema de pontos corridos é a “justiça” feita à equipe que melhor pontuou durante todo o campeonato, o argumento cai por terra quando alguns pontos fundamentais são conquistados na base do W.O. disfarçado.

A partir de 2011, é imperativo que a CBF promova mudanças que impeçam ou, pelo menos, inibam a prática. Sob pena de desmoralização total do resultado final. Das duas, uma: ou se volta ao sistema de mata-mata ou os clássicos estaduais devem ser agendados para a última rodada. Apostaria na última medida. Caso não funcione, que se determine a primeira.

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Flu: do poço ao céu


Ao contrário do Palmeiras, o Fluminense passa por uma série de façanhas impressionantes desde 2009. Nesse ano, o Flu chegou a ter 99% de chances de ser rebaixado. Conseguiu escapar e, ainda, quase arrancou um título inacreditável da Sul-Americana diante da LDU.

Em 2010, reforçado no caixa, na comissão técnica e no elenco, o Flu faz uma campanha competentíssimo, em que pesem alguns tropeços bobos, também sofridos por Corinthians e Cruzeiro.

O fato é que Muricy, o rei dos pontos corridos, acertou muito bem a equipe, cujo elenco é excelente. Não bastassem os reforços Emerson, Carlinhos, Deco e Washington, o argentino Conca vem dando show. Certamente, o melhor jogador do Brasileiro.

Após anos de seca e de hegemonia paulista, a sequência de títulos cariocas – Flamengo (2009) e Fluminense (2010) –, caso ocorra, refletirá novamente o quão equilibrado é o futebol brasileiro e o quão importante para este é o futebol do Rio de Janeiro.

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Corinthians: a fase gaúcha continua

De fato, há males que vêm para o bem. O Corinthians precisou ser rebaixado para perceber a importância de se manter uma boa base na sua equipe. Desde 2008, ainda na segundona, o Timão mantém, mutatis mutandis, a mesma base de jogadores e o mesmo padrão de jogo, com muita marcação, muita troca de passes e avanços com velocidade. Desde aquele ano, jogadores como William, Chicão, Elias, Dentinho e Alessandro compõem o time titular corinthiano. Aqueles que partiram, como Douglas, André Santos, Cristian, Felipe e Herrera foram substituídos à altura por Bruno César, Roberto Carlos, Ralf, Júlio César e Jorge Henrique, para não citar Ronaldo, sempre lento, criticado, porém, matador. A continuidade também se deve à escola gaúcha de técnicos: Mano Menezes, Adilson Batista e Tite. Isso explica, em boa medida, os títulos corinthianos em 2009, a boa campanha em 2010 e a sequência em participações na Libertadores, a obsessão mosqueteira.

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Segundona, lugar de time de primeira

Coritiba, Figueirense, Bahia e América Mineiro garantiram participação na primeirona em 2011. O Coritiba foi o campeão de 2010, fazendo com que, pelo sexto ano seguido (!), o campeão da segundona seja uma equipe que já conquistou a primeirona. O Coxa, aliás, o fez pela segunda vez no período: Grêmio (2005), Atlético Mineiro (2006), Coritiba (2007), Corinthians (2008), Vasco (2009), Coritiba (2010). O Brasiliense, campeão de 2004, quebrou uma sequência que seria ainda mais, já que o Palmeiras obteve o título em 2003.

Em 2011, Guarani, Atlético Mineiro e/ou Flamengo, quem sabe, lutarão para manter viva a nova tradição. Caso não o queiram, é bom acertar o pé hoje e no próximo domingo.

JFQ

A dor que sai no jornal

Xico Sá



Amigo torcedor, amigo secador, uma criança chora por muitas coisas, com razão, dengo ou chantagem. Mas, quando chora pelo seu time, repete o desamparo e o esperneio de quem acabou de ser expulso do quentinho do útero. É um choro que não se resolve com mamadeira ou brinquedo.

Foi o caso do japinha palmeirense, que comoveu meio mundo com seu choro nas arquibancadas do Pacaembu anteontem. Surpreso como quem acabou de ser despejado do útero. Não havia consolo materno que resolvesse; o pai, que também tentou afago, como vimos na tevê, não passou, nessa hora, de um desconhecido da massa. A culpa seria dele, que transmitiu o DNA ludopédico ao menino? Óbvio que não, é do jogo.

Na sua bravura indômita, o menino das lágrimas verdes chutava o cimento. A primeira e inevitável de tantas dores futebolísticas. Ou você, amigo, acredita que se possa educar uma criança para este gênero de sentimento?

Haveria alguma cartilha, meu caro Piaget? Por mais que fosse prevenido para um eventual revés, o que não deve ter sido o caso nos lares palmeirenses, seria difícil desconfiar da desgraça.

É uma questão de honra paterna transmitir o legado do fanatismo por um clube. Por mais que o pai seja democrático, há desgosto quando esse ritual de passagem não é obedecido. Há, no mínimo, um chiste, uma piada interna e permanente sobre o fracasso.

Na peleja contra o Goiás, injustamente tratado como zebra -o Palmeiras tem mais mídia, mas não tem mais time-, o pequeno torcedor aprendeu não apenas sobre perder no futebol, mas talvez como perder na vida.

A existência, afinal de contas, não passa de um certame de pontos corridos em que todos acabam derrotados. O que ganhamos são alguns mata-matas, como as conquistas amorosas. Quando estiveres diante da sua primeira grande garota, menino verde, saberás do que o tio aqui está falando.


Aquela outra criança, símbolo da Copa-1982, a essa altura já deve compreender um pouco as outras dores do mundo. Lembra? Foi capa do "JT", em foto inesquecível do Reginaldo Manente. A dor da gente que sai no jornal. Chorava pelo escrete de Telê, Cerezo, Junior, Sócrates, Falcão, Zico...

As lágrimas, porém, não carecem de pré-requisitos ou qualidade de mulher ou time. Basta amar. Pronto. Fosse assim, amigo, amiga, não choraríamos pelas(os) maiores megeras ou canalhas.

xico.folha@uol.com.br @xicosa

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 26/11/2010.

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O menino Dudu, para compensar um pouco as lágrimas pela derrota do Palmeiras, foi presenteado pelo presidente Belluzzo e pelo técnico Felipão, com uma camisa do time.

Rebaixado e finalista


Na mais surpreendente partida deste ano, tecnicamente muito fraca, mas pra lá de emocionante nos seus instantes finais, o Goiás arrancou uma vitória heroica contra o Palmeiras, em pleno Pacaembu, por 2 a 1. Com a vitória, a classificação para a final da Taça Sul-Americana.

Detalhes: O Goiás faz uma campanha péssima no Brasileirão, já matematicamente rebaixado para a segundonha; o Palmeiras havia vencido a primeira partida, em Goiânia, por 1 a 0, e começou vencendo o jogo do Pacaembu, lotado.

Agora, o time goiano faz a final contra o Independiente, da Argentina. Na minha opinião, uma pedreira ainda maior que o Palmeiras.

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Desilusão: teu nome é Palmeiras



O Palmeiras teria confundido o Goiás com o Fluminense e fez uma entrega entecipada, o “sedex-Verdão”? Não, o caso palestrino é mais complexo. Digno de pesquisa científica, divã, macumba e desenterro de sapo. Tudo junto!

A pergunta de 2009 continua em 2010: o que acontece com o Palmeiras? Impressionante a capacidade do Verdão de perder título e vagas praticamente certos. Claro que o futebol é uma caixinha de surpresas, o acaso conta, o jogo é jogado, etc. e tal. Mas o Palmeiras chega a ser caso quase paranormal.

Na minha modesta opinião, o time de 2010 é pior do que o de 2009. Bons jogadores como Diego Souza e Cleiton Xavier deixaram o Parque Antártica, desgastados pelos resultados e pressão da torcida e da diretoria. Diretoria, aliás, que privilegia treinadores a jogadores, muito embora não tenha deixado de contratar. Da mesma forma que a troca de Luxemburgo e Muricy, Felipão, por mais competente que seja, não conseguirá sozinho resolver problemas futebolísticos, psicológicos e até mesmo políticos que inundam o clube. A vinda de Valdívia e Kleber também não resolveu: o primeiro, em condições físicas precárias; o segundo, fora da posição em que é mais perigoso e um tanto sonolento em campo.

Quanto a Marcos Assunção, com todo o respeito, apesar dos chutes fortes e precisos, está muito longe de ser o redentor da calamidade palmeirense. A propósito, eis aí um ponto fundamental da questão: o Palmeiras não precisa de redentores – treinadores ou jogadores –, mas de um bom elenco e de bom clima com torcida e diretoria.

JFQ

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Ainda, os pênaltis

A polêmica sobre os pênaltis marcados nos últimos jogos de Fluminense e Corinthians – sobretudo neste – continua acessa. Abaixo, textos de Tostão e Juca Kfouri: o primeiro defende que os pênaltis não aconteceram; o segundo, o contrário.

JFQ

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Os Zé-Regrinhas

Tostão


Como gosta de dizer Mauro Cezar Pereira, brilhante comentarista da ESPN Brasil, houve no fim de semana mais dois pênaltis à brasileira, a favor do Corinthians e do Fluminense, que não deveriam ser pênalti no Brasil, na Europa nem em nenhum lugar do mundo.

Esses erros acontecem toda rodada, a favor e contra todos os clubes.

Cada vez mais os jogos no Brasil são decididos pelos árbitros. Pênalti é tão decisivo que só deveria ser marcado quando fosse claro. Dizer que falta fora e dentro da área são a mesma coisa, porque a regra não faz essa distinção, é uma visão operatória e ingênua.

Foi mais um pênalti virtual. No momento do lance, raríssimas pessoas acharam que foi pênalti. Depois de assistir à jogada mil vezes, comentaristas, ex-árbitros ou não, e seus milhões de seguidores passaram a valorizar o que não tem nenhuma importância. A câmera lenta, nesses casos, atrapalha mais do que ajuda.

Querem transportar a regra para o lance. É o contrário. Temos de observar primeiro e, depois, confirmar se o que vimos está na regra. Seria como um médico diagnosticar a doença pelo que leu, e não pelo que viu.

As pessoas estão perdendo a capacidade de observar. São os zé-regrinhas. Adoram regras, que decidem para eles.

Mudo de assunto.

Hoje, no amistoso contra a Argentina, Mano Menezes deve manter o esquema com quatro defensores, dois volantes, três meias (Robinho, pela direita, Ronaldinho, pelo centro, e Neymar, pela esquerda) e mais um centroavante (André). Quando o time perder a bola, Robinho e Neymar voltam até o próprio campo para fazer com os volantes uma linha, torta, de marcação. Ronaldinho jogará livre. Outra possibilidade é entrar mais um jogador no meio de campo, Elias, e sair Neymar ou André.

Pensando na renovação e na Copa de 2014, não entendi a convocação de Ronaldinho, hoje reserva no Milan. Se for para melhorar a qualidade para este jogo, outros jogadores, como Lúcio e Roberto Carlos, deveriam ter sido chamados, já que são ainda os melhores de suas posições.

Desde 1982, com Falcão, o Brasil não tem um craque no meio-campo. Teve e tem bons jogadores. O principal motivo disso é que os técnicos, já nas categorias de base, colocam os armadores mais talentosos para jogar como meias ofensivos.

Procura-se, com urgência, com poucas chances de achar nos próximos anos, um fora de série no meio-campo. Quem descobri-lo terá a eterna gratidão dos que gostam de futebol bonito e eficiente.

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 17/11/2010.

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Divergindo de Tostão

Juca Kfouri


Tostão escreveu em sua coluna de ontem que não houve pênalti nem para o Corinthians nem para o Fluminense na rodada passada.

Não me alegra discordar, ao contrário, porque por poucas pessoas tenho tanto carinho e respeito quanto por ele.

O argumento dele é perfeito e, aí, estamos de acordo: o pênalti é algo tão decisivo que não deveria ser tratado como uma falta qualquer, dessas no meio do campo.

É o tal espírito da lei, que deveria ser levada em conta também em relação aos impedimentos, cujo espírito está em não permitir que alguém leve vantagem ao se colocar na direção do gol.

Daí porque em dúvida os bandeirinhas deveriam deixar os lances seguirem, porque uma posição milimétrica de impedimento é por acaso, jamais proposital.

Mas voltemos ao pênalti.

Embora fosse mais uma coisa a deixar a critério dos árbitros, eu gostaria que fosse marcado pênalti só diante da possibilidade iminente de gol.

Em caso contrário, falta dentro da área, seria batida com chute em dois toques, com barreira.

Mas a regra não é assim e pergunto ao Tostão como fazer.

Imagine que, numa final de Copa do Mundo, jogo empatado, último segundo, um zagueiro suba sozinho na área, sem ninguém por perto, e por pura bobeira, dessas panes mentais que às vezes acontecem, meta a mão na bola.

O árbitro deve marcar a falta, e consequentemente o pênalti, ou fazer de conta que nada houve para que uma Copa não seja decidida por tamanha infantilidade, tamanha infelicidade?

E se é apenas um empurrão, desses que ninguém titubearia em marcar se fosse no meio do campo?

Em tempo: dispenso as baboseiras do tipo lembrar que Tostão é cruzeirense, OK?

* Publicado no Blog do Juca: http://blogdojuca.uol.com.br/2010/11/divergindo-de-tostao/

terça-feira, 16 de novembro de 2010

Saber perder

Tanto Fernando Alonso como a equipe do Cruzeiro deram mostras de falta de desportividade neste final de semana. Ambos perderam, mas não souberam admitir a derrota. Preferiram culpar quem não teve culpa alguma. No caso de Alonso, o playboy espanhol culpou o russo Petrov, como se este tivesse que repetir a vergonha protagonizada por Felipe Massa, permitindo a ultrapassagem de quem não teve a competência para forçá-la. No caso do Cruzeiro, como se um pênalti claríssimo não tivesse que ser marcado porque praticamente inviabilizaria suas pretensões ao título. Os supostos vilões Petrov e Sandro Ricci na verdade foram apenas competentes em suas funções: defender a posição na pista e assinalar o que acontece em campo.
JFQ

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Escandaloso é o chororô

Muitos criticaram - alguns chegaram à histeria completa com - o pênalti em Ronaldo que culminou no gol da vitória do Corinthians sobre o Cruzeiro. Eu não tenho a menor dúvida: foi pênalti! Veja, abaixo.
JFQ


Perdeu, playboy! Venceram, talento e desportividade!

Mudando de esporte, foi maravilhosa a decisão do campeonato de Fórmula 1. Maravilhosa pela vitória de Vetel, o jovem e competentíssimo piloto alemão da Red Bull, a equipe que, ao contrário da Ferrari, não admitiu que um dos seus pilotos fosse um reles o fiel escudeiro do outro. Maravilhosa, também, pela derrota do sempre mimado Fernando Alonso e sua equipe, tradicional em impor que os pilotos brasileiros entreguem posições de mão beijada. Deu no que deu.
JFQ