Amigo torcedor, amigo secador, uma criança chora por muitas coisas, com razão, dengo ou chantagem. Mas, quando chora pelo seu time, repete o desamparo e o esperneio de quem acabou de ser expulso do quentinho do útero. É um choro que não se resolve com mamadeira ou brinquedo.
Foi o caso do japinha palmeirense, que comoveu meio mundo com seu choro nas arquibancadas do Pacaembu anteontem. Surpreso como quem acabou de ser despejado do útero. Não havia consolo materno que resolvesse; o pai, que também tentou afago, como vimos na tevê, não passou, nessa hora, de um desconhecido da massa. A culpa seria dele, que transmitiu o DNA ludopédico ao menino? Óbvio que não, é do jogo.
Na sua bravura indômita, o menino das lágrimas verdes chutava o cimento. A primeira e inevitável de tantas dores futebolísticas. Ou você, amigo, acredita que se possa educar uma criança para este gênero de sentimento?
Haveria alguma cartilha, meu caro Piaget? Por mais que fosse prevenido para um eventual revés, o que não deve ter sido o caso nos lares palmeirenses, seria difícil desconfiar da desgraça.
É uma questão de honra paterna transmitir o legado do fanatismo por um clube. Por mais que o pai seja democrático, há desgosto quando esse ritual de passagem não é obedecido. Há, no mínimo, um chiste, uma piada interna e permanente sobre o fracasso.
Na peleja contra o Goiás, injustamente tratado como zebra -o Palmeiras tem mais mídia, mas não tem mais time-, o pequeno torcedor aprendeu não apenas sobre perder no futebol, mas talvez como perder na vida.
A existência, afinal de contas, não passa de um certame de pontos corridos em que todos acabam derrotados. O que ganhamos são alguns mata-matas, como as conquistas amorosas. Quando estiveres diante da sua primeira grande garota, menino verde, saberás do que o tio aqui está falando.
Aquela outra criança, símbolo da Copa-1982, a essa altura já deve compreender um pouco as outras dores do mundo. Lembra? Foi capa do "JT", em foto inesquecível do Reginaldo Manente. A dor da gente que sai no jornal. Chorava pelo escrete de Telê, Cerezo, Junior, Sócrates, Falcão, Zico...
As lágrimas, porém, não carecem de pré-requisitos ou qualidade de mulher ou time. Basta amar. Pronto. Fosse assim, amigo, amiga, não choraríamos pelas(os) maiores megeras ou canalhas.
xico.folha@uol.com.br @xicosa
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 26/11/2010.
***
Nenhum comentário:
Postar um comentário