Paulo Vinicius Coelho
O livro "História do Futebol no Brasil" foi publicado por Thomaz Mazzoni em 1950. Lá está descrita a criação do Campeonato Brasileiro:
"Em 23 de julho de 1907, informava a imprensa de São Paulo que à Liga havia sido solicitado, por parte da Metropolitana, o seu apoio para a constituição de um Campeonato Brasileiro de Futebol, que seria disputado entre os selecionados carioca e paulista. Após trocas de ideias entre os interessados, esse Campeonato foi levado a efeito, tendo sido disputada a Taça Brasil, oferta do sr. Presidente da República."
Mazzoni refere-se à criação do Brasileiro de Seleções, disputado oficialmente entre 1923 e 1963. Ops... Houve a edição de 1907, descrita acima, vencida por São Paulo e jamais incorporada à lista de campeões brasileiros.
Sim, Campeonato Brasileiro. Era assim que se chamava o esquecido torneio de seleções que marcou o futebol deste país antes dos torneios de clubes. Quer ver: "No final de agosto aconteceu o primeiro jogo da série melhor de três que apontaria o campeão brasileiro de 1931", escreve André Ribeiro em "Diamante Eterno - Biografia de Leônidas da Silva".
Nesta semana, o Brasil se esgoelou para discutir se a lista dos campeões da Taça Brasil e do Robertão deve ser incorporada à de campeões brasileiros. Perceba que a luta não é pela história. É clubística.
Há argumentos pífios como: "Quer dizer que o futebol brasileiro só começou em 1971? Que Pelé nunca foi campeão brasileiro?". Para os que defendem a unificação (eu não defendo!), devo entender que o futebol começou no Brasil em 1959? Que Leônidas nunca foi campeão brasileiro? Ora...
O futebol chegou ao Brasil em 1894, teve seu primeiro torneio em 1902 (o Paulista) e vários outros depois, com nomes e valores diferentes, cada um em sua época. O historiador pode afirmar que o Santos ganhou cinco Taças Brasil, um Robertão e dois Brasileiros. O torcedor precisa dizer que são oito Brasileiros. Se não conhece a história, o número não tem nenhum valor.
Pelé deverá ser o garoto-propaganda da unificação, na quarta, com suas seis medalhas de campeão. Poderá dizer que marcou 34 gols em Brasileiros, 36 em Robertões, 19 em Taças Brasil, um total de 99, ou 91 gols a menos do que Roberto Dinamite.
O debate deveria servir para espalhar toda a história desde o Campeonato Brasileiro de 1907, aquele de seleções. Só o debate poderia legitimar a unificação.
* Publicado na Folha de S.Paulo, em 19/12/2010.
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