quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A agonia de Ricardo Teixeira

Juca Kfouri


Quanto mais se mexe, mais se confirma que Ricardo Teixeira deve estar vivendo mesmo seus últimos momentos como cartola de futebol.

Na CBF ninguém confirma, mas também ninguém desmente com a vemência que seria de se esperar.

Os amigos dele na entidade torcem para não ser verdade e os inimigos não param de mostrar que o dia final está próximo.

Fontes da Casa Civil do governo federal confirmam que as portas estão fechadas para ele por causa das informações que vieram do ministério da Justiça, que tem sob seu comando a Polícia Federal.

O sonho de presidir a Fifa está encerrado diante do favoritismo de Michel Platini e, principalmente, por causa do documento da Justiça suíça que mais dia menos dia virá a luz e o deixará em péssima situação.

Se não bastasse, as redações dos principais veículos do país já têm preparado o seu, digamos assim, “obituário” como cartola, além de se esperar mais uma reportagem demolidora sobre suas atividades a ser publicada ainda nesta quarta-feira.

Diante disso tudo, e da boa vida que o espera em Miami, Ricardo Teixeira teria chegado à conclusão que o melhor é garantir o que está na mão e submergir.

Aliás, não será a primeira vez.

Em 2000, durante as CPIs do Futebol e da CBF/Nike, ele fez o mesmo, aconselhado pelo então presidente da Federação do Rio, o nada saudoso Caixa D’Água, a dar uma sumida, mas a não renunciar, como estava disposto.

Parece que não há nenhuma outra caixa que possa salvá-lo, a não a ser a dele mesmo.

Pensando bem, quem não gostaria de agonizar assim?

Ah, o poder…

Seja como for, reitero, qual São Tomé, só acredito vendo e se chegar a ver vou me beliscar para confirmar que não estou sonhando.

 

Esmero e obsessão: Como Pep se tornou Guardiola

Alexandre Gonzalez




RESUMO

Símbolo do Barcelona por uma década, Josep Guardiola pendurou as chuteiras em 2006 com o projeto de ser treinador. Ao contrário da maioria dos ex-jogadores que trilham esse caminho, foi estudar e buscar as lições de seus mentores. Propondo um futebol mais de razão que de resultados, Pep já conquistou 13 dos 16 títulos que disputou como técnico do Barça.

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"Meu pai diz que preciso me reconverter. Pergunta o que quero fazer da vida. Não sei o que dizer; talvez que não vá fazer nada. Mas ele insiste, quer que eu me mexa, para não passar a imagem de preguiçoso. Mas, pai, talvez eu não faça nada mesmo da vida..."

Em 2 de agosto de 2006, Josep Guardiola deu uma de suas últimas entrevistas. Poucas semanas antes, ainda jogava no desconhecido Dorados de Sinaloa, time mexicano cujo nome soa mais como uma franquia de beisebol de segunda divisão do que como um clube de futebol profissional.

O fim de carreira do meia catalão não foi à sua altura e, em suas palavras, sua reconversão também não parece lá muito bem encaminhada. Mas, atrás do discurso depressivo, o que Guardiola não diz é que passou o verão em Madri. E que sabe exatamente para onde vai.


DIPLOMA


O mês de julho de 2006 é intenso para o ex-capitão do Barça. Todo dia, ele vai até o subúrbio de La Rosas, rumo à Ciudad del Fútbol, na capital da Espanha. Lá, acompanha aulas com assiduidade, preparando-se para se diplomar treinador. O aluno é aplicado e talentoso.

"A escola nacional de futebol espanhola não tem ranking de classificação para os diplomados, mas posso dizer tranquilamente que Guardiola estava entre os três melhores da classe", lembra Oscar Callejo, secretário da escola.

Com o diploma em mãos, Guardiola não se dá por satisfeito. Para completar a formação, aconselha-se com treinadores que admira.

"Ele ligou para mim e para um monte de outros treinadores. Hoje parece coisa de doido: ligar para falar de jogo, analisar, descascar. Ele tem uma sede insaciável de debater. Eu sabia quando começavam as conversas com ele, mas nunca quando iam terminar", diz o técnico argentino Angel Cappa.

Ex-adjunto de César Luis Menotti e depois de Jorge Valdano no Real Madrid, treinador do Huracan e do River Plate -foi quem descobriu Javier Pastore-, Cappa foi para a casa de Guardiola em Barcelona no final de 2006. "Não sei se ele já pensava em ser treinador, mas para mim era óbvio. É raro um jogador querer tanto colocar um jogo numa mesa de dissecação."


LA VOLPE


Obsessivo e perfeccionista, Pep lista os técnicos com quem os quais gostaria de conversar. O primeiro é um argentino de bigode ameaçador, desconhecido na Europa, Ricardo La Volpe.

Na Copa do Mundo de 2006, Guardiola escreveu no jornal "El País", e suas análises dos jogos e reflexões sobre futebol deixaram muita gente desconcertada. Só uma seleção agrada ao catalão. Não é a Alemanha de Jürgen Klinsmann, nem a Itália de Marcello Lippi, mas o México de La Volpe.

Ele escreveu: "Johan Cruyff dizia: o mais importante no futebol é que os melhores jogadores sejam os zagueiros. Se você sai com a bola, consegue jogar; se não, não faz nada. Johan diz que a bola equilibra um time. Se perde a bola, o time se desequilibra; se perde pouco, consegue manter o equilíbrio. La Volpe decidiu que sua defesa saísse jogando, e não que começasse jogando, o que é diferente.

"Para La Volpe, começar a jogar é tocar a bola entre os zagueiros, sem maiores intenções. Mas La Volpe os obriga a fazer outra coisa. Ele os obriga a sair jogando, obriga os jogadores e a bola a avançarem juntos e ao mesmo tempo. Soube que, nos treinos, La Volpe pede aos zagueiros que corram com a bola por 30 minutos sem parar. Se alguém faz um passe errado, se o campo não é usado em toda a sua extensão, se um passe não é dado para o goleiro como manda o jogo, ele pede para recomeçar do zero.

"Ele corrige, grita, e tudo recomeça. Uma vez, depois outra. Cem vezes, se for preciso. E ver seu México jogar é fantástico."

Nem mais nem menos do que uma declaração de amor.

Mesmo que isso não agrade a Guardiola e ao seu romantismo, La Volpe foi demitido após ser eliminado nas oitavas de final, apesar de os mexicanos terem dominado a Argentina durante todo o jogo; o futebol só vive de vitórias.

Pouco acostumado a falar com a imprensa, La Volpe declarou: "Sei que Guardiola mencionou meu nome várias vezes, dizendo que fui um dos que mais o influenciaram. Talvez se inspirasse em mim nas triangulações ao chegar à área adversária. E disseram que dedicou a mim a Liga dos Campeões de 2009 [Barcelona 2 x 0 Manchester United], mas ele nunca me disse isso.

"Acho que seguimos o mesmo caminho. Gostamos de tomar a iniciativa do jogo, que o jogador assuma a responsabilidade de conduzi-lo. É assim que se faz bom futebol. Ele faz isso e ainda vence. Alguns de nós foram criticados por tentar e não vencer, é a regra do jogo".

La Volpe seria demitido do Boca Juniors (2006), do Vélez Sarsfield (2007), do Monterrey (2008) e da seleção da Costa Rica (2011). Apaixonado pelo método argentino, como mostram suas relações com Cappa e La Volpe, por fim Guardiola atravessa o Atlântico.

Aproveitou uma viagem a trabalho de seu amigo David Tureba, cineasta e escritor, para voar a Buenos Aires. Era outubro de 2006.


ARGENTINA


Na capital argentina, Pep deixou sua bagagem num hotel do bairro de Palermo. A primeira visita que fez não foi a um treinador, mas a um nerd louro, um Mark Zuckerberg argentino, de cabelo comprido. Matias Manna é o criador do blog Paradigma Guardiola (paradigmaguardiola.blogspot.com). Ele analisa, com vídeos, pausas e reflexões perspicazes, o futebol de Pep.

"Desde 2005, vou decifrando a maneira de pensar e as convicções futebolísticas de Guardiola", diz Manna. Ele conta como começou sua amizade com o atual treinador do Barcelona: "Eu o contatei por e-mail e ele respondeu. Sempre se mostrou aberto. Um dia, disse que estava vindo à Argentina e propôs um encontro. Passamos um dia juntos. Falamos muito de futebol.

"Dei a ele o livro 'Lo Suficientemente Loco', uma biografia de Marcelo Bielsa. Ele me agradeceu e foi deixar as malas no quarto. Quando desceu, minutos depois, citou quatro ou cinco conceitos de jogo que estavam no livro. Isto é: no elevador, voltando do quarto, já tinha entendido a essência."

No dia seguinte, Guardiola decidiu assistir a um River-Boca, no Monumental de Nuñez. Seu ex-colega no Dorados Angel "Matute" Morales, conseguiu um ingresso para ele. Pep se misturou à multidão e, na fila para entrar, foi parado por seguranças. "Não o reconheceram", conta Morales. "Foi revistado como qualquer um, mas não disse uma palavra, não protestou."

Seu caminho o levou a César Luis Menotti, técnico campeão do mundo em 1978 e técnico do "seu" Barça na temporada 1983-84.

Como um velho sábio, Menotti recebeu aquele que, por enquanto, era só um jovem aposentado do futebol. O encontro aconteceu num restaurante do bairro de Belgrano, em meio a uma nuvem de fumaça de cigarro e cheiro de uísque.

"Quando Pep me procurou, algo já o distinguia: ele tinha ideias claras. Não chegou como outros, que queriam que eu desse o caminho, como se fosse o Messias. Ele já sabia. Então disse a ele: 'Quer ser treinador? Não tenha dúvidas, vá fundo. Seja treinador, e assim as críticas serão mais bem divididas, não vão mais ser só para mim'."

Guardiola deixou-se seduzir e também tranquilizar pelo discurso radical do mentor de Maradona. O terceiro e último encontro irá confortá-lo ainda mais na sua decisão.


EREMITA

Maximo Paz, província de Santa Fe. Josep Guardiola marcou um encontro com o eremita do futebol argentino, "el loco" Marcelo Bielsa. Então afastado do futebol desde 2004, Bielsa vivia confinado em casa, sem dar sinais de vida.

Guardiola conseguiu o encontro graças a Lorenzo Buenaventura, seu treinador pessoal quando jogava na Itália e ex-adjunto de Luis Bonini, o braço direito de Bielsa. Hoje, Buenaventura é o preparador físico do Barcelona. A fascinação de Guardiola por Bielsa data da Copa do Mundo asiática de 2002, quando "el loco" treinava a seleção argentina.

Na época, Guardiola declarou: "Para mim, o time mais interessante do torneio é a Argentina, mesmo que não tenha passado da primeira fase. Jogou muito bem, apesar de vivermos num mundo onde, se você ganha, é bom, mesmo que não tenha ficado com a bola; e, se você perde, não importa se tentou, se teve a bola, se o time estava organizado e se tinha apostado no 3-4-3, como Bielsa fez. Você perde e é um fiasco. Vejo isso de outra forma."

Por 12 horas, em volta de um "asado" (churrasco argentino), os dois conversaram, assistiram a trechos de jogos, debateram, brigaram, se reconciliaram e recomeçaram. Um tema, ou melhor, um homem os une acima de tudo: Louis van Gaal.

 O técnico holandês é o único europeu que Bielsa já tomou como exemplo: "O modelo estrangeiro que mais me agrada é o do Ajax de Van Gaal. Ele tem um time flexível para compor suas linhas conforme as exigências do adversário na hora de recuperar a bola. O que interessa é que o time tenha um projeto de jogo próprio nos momentos ofensivos. Calculei que o Ajax dava uma média de 37 passes para trás. O torcedor via isso como recusa a jogar, mas esse passe para trás era o início de um novo ataque."

No seu livro "Mi Gente, Mi Fútbol" (2001), Guardiola diz o mesmo de seu treinador: "Poucos times me seduziram tanto quanto o do Ajax de Van Gaal, com sua facilidade para criar o jogo da defesa, a velocidade dos jogadores das laterais e seu modo de passar a bola. Aquele Ajax conseguia resolver de maneira fantástica todos os 'um contra um' de um jogo. No ataque e na defesa. Assumiam todos os riscos que um time pode correr.

"Aquele Ajax tinha algo que me surpreendia, espantava, maravilhava. A disciplina do posicionamento. A posse de bola como ideia de base. O jogo constantemente sustentado. Os movimentos de dois toques... E eles faziam isso de forma tão simples quanto sublime. O Ajax de Van Gaal dava aulas de futebol aos que conheciam perfeitamente o jogo."

'SANGUE'



Nutrido pelo futebol total de Johan Cruyff, Guardiola consegue, acima de tudo, aplicar maravilhosamente bem os preceitos de Bielsa. "Procuro ocupar as laterais, porque a maioria das situações perigosas vem delas. O contrário significa centralizar o jogo. Qualquer estudo revela que 50% dos gols finalizados vêm das laterais. Se um treinador quer que o time domine o jogo, deve posicionar no mínimo dois jogadores por setor. Nunca posiciono os jogadores com o intuito de atacar usando o contra-ataque.

"Para mim, trata-se, antes de mais nada, de uma questão de posse de bola. Se der para ficar com ela, por que devolvê-la? Não preparo um time para esperar. Um grande time não é condicionado pelo rival. O fundamental é ocupar direito o campo, ter um time curto, com uma linha de defesa e uma de ataque separadas por no máximo 25 metros, e que nenhum zagueiro esteja ocupado marcando um adversário que não existe."

Tocado pela sinceridade quase ingênua de Guardiola, Bielsa perguntou: "Você, que conhece toda a sujeira do mundo do futebol, o alto grau de desonestidade de certas pessoas, por que quer tanto voltar e treinar jogadores? Gosta tanto desse sangue?". Guardiola respondeu: "Preciso desse sangue".

O fato é que o catalão vai usar outro método de Bielsa, o de não entregar nada à imprensa. Recluso no seu silêncio há mais de uma década, o argentino havia justificado assim sua vontade de não falar: "Por que eu deveria dar entrevista a um jornalista poderoso e negá-la a um repórter do interior? Por que deveria participar de um programa que tem picos de audiência toda vez que apareço e não me deslocar até uma pequeno rádio local? Qual a lógica? Meu interesse?".

Guardiola se apoderou da fórmula. Depois de virar treinador do Barça, não deu mais nenhuma entrevista individual. Só vai às coletivas obrigatórias do clube.

JOGO BONITO

Pep voltou à Espanha está seguro de si como nunca. Dias depois de deixar a Argentina, em 22 de outubro de 2006, declarou ao jornal "Marca": "Por que não poderíamos ter treinadores que defendam o jogo bonito? Converso com muitos treinadores: 'Como é esse jogador? Como faz aquele?'. Mas não tem receita. No futebol, ganha-se com estilos muito diferentes. Precisamos fazer as coisas como as sentimos. É a partir da bola que se constrói um time."

Em 2006, Josep Guardiola tinha 35 anos, tinha ideias, mas continuava desempregado. "Seu" clube, embora fosse campeão europeu, estava desabando. Contagiado pela suficiência, o Barça de Frank Rijkaard vivia suas últimas horas de glória. Txiki Begiristain, diretor esportivo do Barcelona e braço direito de Joan Laporta, logo foi consultado por alguns dirigentes, sabendo das intenções de Guardiola.

Begiristain então decidiu, para que seu ex-colega se acostumasse, confiar a ele a direção da categoria de base e dar a Luís Enrique o Barça B. Desapontado, mas leal a seu clube de sempre, Pep aceitou. Só pediu um último encontro com Begiristain. "Pep me falou sobre sua vontade de treinar. Entendi que era o momento dele", diz o ex-diretor dos esportes do Barça.

Em 21 de junho de 2007, seis meses depois da viagem à Argentina, Guardiola foi nomeado treinador do Barça B, que estava na terceira divisão do campeonato espanhol.

Munido de princípios e teorias, foi confrontado pela primeira vez com a realidade da vida de treinador. Alertado por amigos sobre as dificuldades das divisões inferiores, o primeiro trabalho do técnico "blau-grana" (azul e grená) consistiu na seleção de um grupo.

Ele tinha poucos dias para reduzir o número de jogadores de 50 a 23, destruindo o sonho de vários. As primeiras dúvidas surgiram logo no primeiro jogo, que acabou... em derrota. Guardiola se empenhou, construiu um time no qual um certo Sergio Busquets se impôs no meio do campo; no qual, na ponta direita, Pedro Rodriguez oferecia seu jogo feito de percussões.

Dois meses após o início do campeonato, Guardiola resumiu: "Ser treinador é fascinante. É por isso que os treinadores acham tão difícil parar. O trabalho traz uma sensação permanente de excitação, de que o cérebro gira o tempo todo a cem por hora. Começar na terceira divisão me tornará um treinador melhor, se um dia eu ocupar o banco de um profissional. Hoje sou melhor que dois meses atrás.

"Nunca tinha sido confrontado com 25 caras esperando que eu dissesse algo. Hoje posso ficar tranquilo na frente deles. Antes, no intervalo, não sabia o que dizer."


NÚMERO UM

Guardiola sabia as palavras certas, seu time venceu o campeonato e o Barça B subiu para a segunda divisão.

Ao mesmo tempo, no andar de cima, Rijkaard deixou escapar para o Real, pela segunda vez seguida, uma liga que estava na mão. Laporta entendia que o holandês não tinha mais autoridade sobre um grupo dominado pelos egos de Ronaldinho Gaúcho e Samuel Eto'o. Começou então uma disputa de poder nos bastidores do Camp Nou entre os conselheiros do presidente.

Laporta conta: "Minha ideia era que Johan [Cruyff] treinasse o time, tendo Pep como adjunto, e que, na temporada seguinte, ele virasse o número um. Johan não disse nada. Eu o conheço, sei que toma decisões rápido. Por fim, ele me disse que deveríamos nomear Pep logo. Txiki concordava: 'Guardiola está pronto para ser treinador do primeiro time'. Propus essa solução numa reunião. Alguns eram a favor, outros queriam Mourinho. Falei: 'Mourinho não, vai ser o Pep'."

 Em 8 de maio de 2008, menos de dois anos depois de receber o diploma de treinador, Guardiola foi nomeado técnico do time do qual fora capitão e símbolo por cerca de dez anos. Sua primeira medida foi impor o afastamento das três estrelas: Ronaldinho, Deco e Eto'o.

Os dois primeiros aceitaram; o camaronês ganhou uma temporada de descanso. No primeiro treino, Pep se dirigiu aos jogadores: "Não vou prometer que vamos ganhar títulos. Vamos tentar. Mas apertem bem os cintos, porque vocês vão passar ótimos momentos."

Pep acabava de se tornar Guardiola.

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TRADUÇÃO SOPHIE BERNARD

* Publicado na Folha de S.Paulo, em 12/02/2012.
Publicado originalmente na revista francesa "So Foot". Colaboraram Javier Prieto Santos e Aquiles Furlone, de Buenos Aires.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Saiu a lista da seleção brasileira

Mano Menezes divulgou há pouco a lista da seleção para o jogo contra Bósnia Herzegovina, a ser realizado no fim deste mês, na Suíça.


GOLEIROS

Júlio César (Inter de Milão/ITA)
Diego Alves (Valencia/ESP)
Rafael (Santos/BRA)

LATERAIS

Daniel Alves (Barcelona/ESP)
Adriano (Barcelona/ESP)
Danilo (Porto/POR)
Alex Sandro (Porto/POR)
Marcelo (Real Madrid/ESP)

ZAGUEIROS

Dedé (Vasco/BRA)
Thiago Silva (Milan/ITA)
Luisão (Benfica/POR)
Davi Luiz (Chelsea/ING)

VOLANTES

Hernanes (Lazio/ITA)
Fernandinho (Shakhtar/UCR)
Elias (Sporting/POR)
Sandro (Tottenham/ING)

MEIAS

Ronaldinho (Flamengo/BRA)
Ganso (Santos/BRA)
Lucas (São Paulo/BRA)

ATACANTES

Neymar (Santos/BRA)
L. Damião (Inter/BRA)
Hulk (Porto/POR)
Jonas (Valencia/ESP)

* Fonte: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2012/02/14/mano-mantem-ronaldinho-em-lista-para-primeiro-amistoso-da-selecao-em-2012.htm 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

A melhor imagem do final de semana

O final de semana foi marcado por clássicos, com destaque para as vitórias do Corinthians sobre o São Paulo e do Vasco sobre o Fluminense, além do encontro entre Falcão e Cerezo, hoje técnicos, no Ba-Vi. Também marcou a volta de Vágner Love ao Flamengo e o primeiro gol de Barcos pelo Palmeiras. Contudo, a melhor imagem do final de semana é essa aí embaixo: a recuperação de Ricardo Gomes.




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Grande área não é velho oeste: abaixo o zagueiro xerifão!

No seu primeiro confronto na Libertadores 2012, o Fluminense passou apertado pelo Arsenal, da Argentina: 1 a 0. Críticas à parte pela atuação da equipe, o certo é que três pontos foram garantidos na luta do tricolor das Laranjeiras rumo ao título inédito de campeão sul-americano.

Mais do que isso, chamou minha atenção o lance em que o zagueiro Leandro Euzébio, caído, acertou o pé no rosto de um jogador argentino. Claro, foi expulso. Euzébio é um típico zagueiro xerifão, que se impõe pela força e pela ameaça de violência aos atacantes muito mais do que pela habilidade, pela capacidade de desarmar legitimamente o adversário, na bola. Na minha opinião, trata-se de um grosso, na acepção clássica das peladas. Todavia, há técnicos em todos os cantos que prezam esse tipo de “jogador”. Tanto que o zagueiro passou a ser visto como “naturalmente grosso”, sem a mesma técnica que os jogadores de meio e os atacantes. Pergunto-me, por quê? A única resposta que consigo atingir é justamente a de que o apreço dos treinadores tornaram a tese uma verdade.
Zagueiros como Leandro Euzébio, Domingos e, por que não dizer, o “galáctico” Pepe – sim, o português (não falem brasileiro, pois o gajo naturalizou-se, ó pá!) –, admirado pelo badalado José Mourinho. O mesmo Pepe que pisou “sem querer” na mão de Messi em mais um jogo em que o Barça passou por cima do freguês merengue. Valorizar esse tipo de jogador, na minha modesta opinião, é rebaixar a condição de zagueiro e o próprio futebol. Infelizmente, ao contrário do que apregoa Tiago Leifert, Domingos não é "o último zagueiro", mas apenas um a mais dentre inúmeros outros "xerifões".
A filosofia oposta, de jogo de valorizar jogadores técnicos em todas as posições, também explica as equipes maravilhosas armadas por Telê Santana, que não admitia deslealdade de seus jogadores contra os oponentes. Loas cantemos no dia em que os técnicos deixarem de valorizar zagueiros brutos e pernas-de-pau em prol de craques da defesa, pois, sim, eles existem. Que o digam Gamarra, Baresi, Maldini, Piquet, Thiago Silva, Dario Pereyra, Oscar, Luizinho, Figueroa, Beckenbauer, entre outros. Sim, são raros, cada vez mais raros. Por esse motivo, lanço a campanha: “Grande área não é velho oeste: abaixo o zagueiro xerifão”.
JFQ

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Para que franquia você torce?



Em 2010 fui a Nova York e assisti a uma partida da NFL, o campeonato de futebol americano. NY Giants versus Detroit Lions, no belíssimo estádio New Meadowlands (ver vídeo: http://www.youtube.com/watch?v=Eq55qRxdlIU&context=C3f78fb3ADOEgsToPDskI6OyyXFfEi6vFZjm-UTTfN). Peguei gosto pela coisa. De lá para cá, após me tornar torcedor fiel do Giants, acompanho jogos da NFL com considerável assiduidade. No último domingo, eis que “meu” time sagrou-se campeão do Super Bowl 46. Comemorei feito bobo, após passar sufoco e desfolhar todo repertório de mandingas já testadas e aprovadas em pelejas do Corinthians, meu time de “soccer”, eternamente e acima de todos em meu coração. Já trato Manning, Nicks, Cruz e Jacobs com a mesma intimidade com que aplaudo e xingo Júlio César, Liedson, Ralf e Paulinho. Ou quase.

Só que há os senões, os obstáculos que nem um torcedor avesso às acusações de estar americanizado (agora sei o que passou Carmem Miranda) é capaz de transpor. O maior exemplo: não dá para torcer para uma “franquia” como se torce para um time. É quase um crime de lesa-torcida na cultura ludopédico-brasileira entregar a taça ao “dono da franquia”, e não ao capitão, representante da “nação”, do escudo adorado por milhões de apaixonados. No caso do futebol americano – como, quiçá, do futebol (soccer, futebol mesmo!) inglês –, o time tem um dono. Pode ser vendido e comprado quando bem entenderem os investidores do mercado. Capitalismo demais para o meu gosto! Diga a um corinthiano roxo, crente na tese de que não pertence ao time, mas que este, sim, lhe pertence, que o Timão pode ser comprado e vendido por um simples e endinheirado mortal! Tá louco, mano! Eis uma diferença não apenas esportiva, mas, acima de tudo, cultural. Gritante, muito maior do que as diferenças de regras e características do futebol jogado com os pés (como o nome diz) e o futebol jogado com as mãos.

Outras diferenças interessantes envolvendo os dois “futebóis” podem ser destacadas: 1) como se dá a formação do jogador no futebol (Brasil e mundo afora) nas peneiras e bases dos clubes e como as universidades forjam os jogadores do futebol americano, geralmente inseridos nas franquias pelo chamado draft; 2) os estádios do futebol americano são enormes e lotados e os de futebol vêm encolhendo (por aqui virou moda achar que estádio moderno é pequeno); 3) o americano não suporta empates, enquanto para os adoradores do futebol esse resultado é visto como normal; 4) a TV já dominou o futebol americano, fazendo parte da própria contagem de tempo (o two-minute warning, parada de jogo para intervalos comerciais, afetando as estratégias das equipes), enquanto por aqui não admitimos tanta interferência, em que pese o poder da Globo em determinar horários de partidas e outras coisas mais; 5) a estatística é essencial às estratégias e análises do futebol americano, enquanto no futebol, apesar de ter crescido exponencialmente, o comentário com base estatística é nitidamente forçado e pouco esclarecedor (a propósito, Sócrates dizia que no futebol um time pode ser superior em todos os quesitos estatísticos e perder a partida, e que o futebol como arte entrou em decadência na mesma época em que a estatística passou a ser presença constante dos comentários); 6) o tempo no futebol americano tem contagem aberta a todos, dependendo da circunstância para, dependendo não, e os jogadores trabalham o tempo sem utilizar a cera, usual no nosso futebol, em que o tempo é corrido e observado exclusivamente pelo árbitro; 7) no futebol americano, a tecnologia auxilia a arbitragem e as equipes (é possível desafiar decisões da arbitragem), enquanto no “esporte bretão” muito se discute e nada se aceita sobre utilização de recursos tecnológicos. Bem, essas são algumas das comparações possíveis, que serão melhor desenvolvidas em outra oportunidade.

JFQ

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Festival de erros

Antero Greco


A fritura é das situações mais desagradáveis que um profissional pode enfrentar na vida corporativa. Constrangedor um sujeito ir para o trabalho, sentir que a corda aperta-lhe o pescoço, perceber que querem vê-lo pelas costas, sem que possa espernear. Alguns mais pacientes esperam o bicho que vai dar, na tentativa de se garantir na saideira, com muito ou com pouco que seja. Na prática, difícil saber qual atitude correta tomar.

Imagino tenha sido esse dilema que Vanderlei Luxemburgo viveu nos últimos dias. O Flamengo ficou a frigi-lo em óleo bem quente, desde o final do Brasileiro. Mas até ontem à tarde nenhum figurão do clube tinha vindo a público para confirmar ou rebater as indiscrições que circularam mais à vontade que moça bonita na praia. Já nas férias, ou na retomada de atividades do elenco, a diretoria deveria ter decidido o futuro do técnico e pronunciar-se sem embromação.

Esqueça as restrições, justas ou não, que inevitavelmente surgem, quando o assunto é Luxemburgo. Não vêm ao caso nem polêmicas em que se envolveu, nem controvérsias em sua conduta, nem o currículo vencedor. É preciso ressaltar a maneira equivocada e lerda como uma agremiação tradicional tratou tema importante para determinar a programação para a temporada de 2012.

O silêncio em torno dos rumores de degola e as frases dúbias que os cartolas largaram aqui e ali não eram sinais de bom senso. A decisão não tardou porque se analisavam riscos da demissão de um treinador experiente (mas que precisa, com urgência, rever métodos, sob o risco de ser atropelado pelo tempo). A cúpula rubro-negra não gastou tempo a esmiuçar o projeto para este ano. A parte técnica ficou relegada a segundo plano.

A dispensa de Luxemburgo, a todo instante dada como certa e necessária na Gávea, foi protelada por causa de dinheiro. Como o contrato estipulava multa de R$ 4 milhões em caso de ruptura, se optou por imobilismo ou pela tal fritura. O Fla não estava satisfeito com o funcionário, mas não o liberava por não ter caixa para bancar a rescisão. E o técnico fingia que tudo ia bem, pois não tinha intenção de jogar a toalha e largar essa bolada para trás. Um prêmio de loteria.

Ficaram então num cabo de guerra nefasto, que só aumentou desgaste e suspeita recíprocos. E que também deixou os jogadores desconfiados e a torcida, impaciente. No entanto, revela como os clubes negociam acordos sem refletir. Quando Luxemburgo foi chamado, no final de 2010, o time fazia campanha ruim na Série A e corria risco de despencar para a B. O treinador estava disponível, pois havia sido dispensado pelo Atlético-MG, e despontava como a âncora para evitar o naufrágio.

Como desembarcou no sufoco, se viu filme de sempre, aquele em que dirigentes topam qualquer parada, prometem isso e aquilo, botam multas pesadas, como prova de confiança no taco do professor e de seriedade de propósitos. Nessas horas, acertam e aceitam qualquer coisa e lá na frente, com a relação abalada, voltam a conversar. E seja o que Deus quiser.

Justo que técnico se cerque de segurança ao ser convocado às pressas - assim, cuida para não ser tratado como descartável. Impróprio o empregador topar cifras salgadas. Uma vez colocadas as assinaturas e o contrato registrado, vira obrigação cumprir tudo à risca. Por impasses como esse se percebe que a profissionalização da cartolagem continua longe. E dá para se ter noção da origem da penúria dos clubes. Mais uma lambança, de várias que a diretoria tem cometido, para o Flamengo pagar

* Publicado em O Estado de S.Paulo, em 03/02/2012.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

“Isto não é Pelé?”

Lúcio Ribeiro


 

Sobre o que esses caras estão falando, agora? Por que muita gente na Europa acha isso? Por que isso está na capa da "Time"?

Começando do começo. Em janeiro de 1972, fui pela primeira vez a um estádio. Era um Palmeiras e Santos no Parque Antarctica, amistoso, e meu pai me carregou "só" para ver o Pelé jogar.

O Palmeiras goleou, 4 a 0, e saí de lá gostando foi do César Maluco. Eu era muito pequeno e do jogo só me lembro na real de um gol de pênalti do César. De mais nada. Passei muitos anos duvidando da minha memória deste jogo, até que as facilidades da internet clarearam tudo.

O fato é que o jogo existiu mesmo, e o Pelé, ali, naquela partida de 1972, nem dois anos depois do tri no México, me decepcionou. Mas eu estava acordando para o futebol e depois vim a aprender sem discutir quem era o eterno rei do esporte que eu adotaria como parte importante da minha vida.

De lá para cá teve Cruyff, Zico, Maradona, Ronaldo. Supercraques maravilhosos, mas compará-los a Pelé sempre foi incabível. Tipo dizer que os Beatles não eram mais a maior banda de rock de todos os tempos quando apareceram o Clash, os Smiths, o Nirvana. Tipo dizer que tem refrigerante mais famoso que a Coca-Cola.

A gente sabe que americano, para o futebol jogado com os pés, é café-com-leite. Mas uma revista como a "Time" simplesmente ousar botar uma capa com Messi para circular na Europa, Ásia e Oceania dizendo que o argentino é o melhor do mundo e (aqui é que o bicho pega) "possibly of all time", é de coçar a cabeça.

Aí vem a "Sports Illustrated" com um ranking meio doido de melhores da história, montado por dez "especialistas", em que o Pelé ficou em quarto lugar. Messi é o número 1.

A "heresia" atual que destrona Pelé é curiosa. Uma coisa é argentino falar que o Maradona foi o melhor. Outra coisa é a "Time" cravar em capa esse questionamento em uma edição que roda o mundo. É o "probably" que incomoda.

Menos que discutir futebol de antigamente versus futebol de hoje. Menos que analisar o que o Pelé tinha feito aos 30 anos com o que o Messi já fez aos 24. Menos que ouvir histórias do Pelé num tempo em que "futebol quase não passava em TV" e ver as do Messi na superexposição televisiva.

O "probably" começou a ecoar. E essas coisas, se ecoam muito, começam a virar "definitely" com o passar dos anos. E a geração dos "Eu Vi o Pelé Jogar", exatamente anterior à minha, que viu mas não viu, começa a ter a voz abafada pelo tempo.

Que "probably" é esse, "Time"? Do que essas pessoas estão falando?


* Publicado na Folha de S.Paulo, em 31/01/2012.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

Origens operárias

Paul Doyle


Ainda que os galhos tenham revestimento de ouro, escorra petróleo das folhas e a casca seja feita de reportagens sensacionalistas sobre disputas imobiliárias multimilionárias e orgias movidas a champanhe, as raízes do futebol inglês continuam a ser operárias. E isso causa confusão.

Roberto Mancini, por exemplo, deve ter ficado espantado ao se ver como foco de críticas depois da vitória do Manchester City contra o Wigan, no começo do mês, em que reclamou da expulsão de Figueroa por ter bloqueado com a mão um passe dirigido a Aguero, que tinha tudo para marcar um gol. Programas de rádio e colunas de jornal expressaram profundo desdém por Mancini, como se ele tivesse maculado a pureza do futebol inglês com um gesto estrangeiro e profano. Pedir a expulsão de um jogador, ao que parece, é como exigir que um mineiro seja demitido de seu emprego, deixando sua família sem sustento. Ainda que a comparação seja absurda, tem forte apelo inconsciente.

Chutar ou socar um adversário não são ações que costumam receber críticas tão dogmáticas quanto pedir um cartão vermelho (ou aquela outra violação que costuma enfurecer os torcedores ingleses, cavar falta). É como se a violência tivesse uma integridade bruta, enquanto apelar pela intervenção das autoridades ou cair de propósito a fim de iludi-las e obter sua intervenção, tem algo inerentemente traiçoeiro.

Mancini não estava errado ao apelar por ação da arbitragem. Mas talvez tenha pedido a ação incorreta. Ele deveria ter o direito de pedir um pênalti, mesmo que o lance tenha acontecido na intermediária. As regras do futebol precisam remover uma lacuna legal. Os árbitros deveriam ter o poder de marcar pênalti em caso de certas faltas, não importa onde aconteçam.

A Copa Africana de Nações oferece um exemplo perfeito. Gana estava vencendo Botsuana por 1 a 0 quando Ramatlhakwane disparou com grande chance de marcar o gol de empate e dar um ponto para seu país em sua primeira participação no torneio. Mensah, de Gana, o derrubou, e o fez do lado de lá da linha da grande área.

Mensah foi expulso, mas não restava tempo suficiente para que isso fizesse diferença. Os jogadores ganenses restantes puderam formar uma barreira para bloquear a cobrança de Botsuana. Eis um exemplo perfeito de um time mais fraco que não recebeu justiça devido a um detalhe técnico da regra. É preciso eliminar essa lacuna.

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Tradução de PAULO MIGLIACCI
* Publicado na Folha de S.Paulo (Los Gringos), em 31/01/2012.

O gol mais bonito de 2011

Merece o registro: o gol mais bonito de 2011. O gol de Neymar.